Não bastou uma vez, tinham logo de ser duas, e com o mesmo alemão à frente. O português bem deu uso aos braços e remou, sozinho, até mais não, mas Max Hoff fugiu-lhe sempre. Nos mil metros foi por pouco, por milésimos de segundo. Quando a distância se esticou para os cinco mil metros, a diferença foi a reboque e passou para os 10 segundos. O melhor de Fernando Pimenta não chegou para bater “um grande atleta” que “está num nível superior”. Admite-o, sem problemas e sabedor das diferenças, embora consciente de que elas estão a diminuir: “Senti que me estou a aproximar cada vez mais dele.”
É bom que dentro de água, com as pernas escondidas dentro da canoa e os braços a darem ao remo, Fernando sinta isto — é sinal de que, talvez, esteja para breve o dia em que o português será mais rápido que o alemão. Porque este Max Hoff parece ter rogado uma praga e feito com que Fernando Pimenta não consiga ficar à sua frente: em 2012, nos Jogos Olímpicos de Londres, ganhou por 216 milésimos nos 1.000 metros de K1 e, em maio, nos Europeus da República Checa, bateu-o por mais de dois segundos. “Estou a subir aos poucos de prova em prova”, resume Fernando, quando lhe falamos desta sina.
Algo que não o parece preocupar. Esta segunda-feira, ao cortar a meta dos 5.000 metros, fez o mesmo que já tinha feito no domingo, em Mingachevir, no Azerbaijão, quando terminou os 1.000: chegou, sorriu, trocou um abraço com Max e felicitou-o pela vitória. “Disse-lhe que é um grande atleta, que está a um nível superior e que foi uma prova bem disputada”, conta-nos, ao falarmos de Max Hoff como o muro se ergue entre Fernando e as medalhas de ouro na canoagem. “O ano passado ganhei algum ritmo em K1 [prova individual] e este ano estou-me a afirmar cada vez mais. Em quase todas as provas que participei ganhei medalhas”, lembra.
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Agora tem ao pescoço duas das cinco que Portugal já caçou nos Jogos Europeus. Prova de que sabia o que dizia quando quis remar sozinho e insistiu em ter um caiaque só para si. “Foi uma luta que tive durante alguns anos, poder correr individualmente. Demonstrei que tinha razão”, defende, tão ou mais orgulhoso como as vezes em que já trincou medalhas por remar ao lado de outros. “Gosto do K4 porque é uma prova em que vou com três valentes atletas portugueses, de nível mundial. Mas também gosto de participar em modo individual, como qualquer atleta de topo, porque são sempre provas fantásticas”, explica. Foi assim, com a companhia de Emanuel Silva, que em 2012 saiu dos Jogos Olímpicos com a prata em K2 1.000.
O gosto pelo K1 nem é tanto uma questão de evolução, diz quem tem 25 anos e rema desde os 12. “Depende muito de cada atleta. O K4 ajuda-me bastante a nível de ritmo e em termos de coordenação. O K1 ajuda-me a estar melhor e a dar mais um pouco quando estiver em K4”, diz, apontando mais a remada para a experiência que pretende ir colhendo: “Tenho 25 anos e o último campeão olímpico tinha 37 anos. Por isso, ainda tenho algum tempo e caminho pela frente.”
Segunda medalha de Prata nos Jogos Europeus, desta vez em k1 5000mts.. Obrigado a toda a equipa pelo magnifico apoio.. Lutei até não conseguir mais.. Até já, Fernando Pimenta
Posted by Fernando Pimenta on Tuesday, 16 June 2015
Tem ele e têm os restantes canoístas portugueses, cuja participação nos Jogos Europeus, aos olhos de Fernando, foi “extremamente positiva”. Ainda para mais, porque a seleção “nem sequer” focou a mira nesta competição. “Apontámos o pico de forma para os Europeus de maio e baixámos um pouco para aqui, pois em agosto há os Mundiais de canoagem”, revela, terminando a falar da competição onde se jogará a qualificação para os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro.
Só com o apuramento no bolso é que Fernando, depois, pensará em pendurar medalhas ao pescoço. “Temos que ter os pés bem assentes na terra”, sublinha. Ou num caiaque que esteja na água, dizemos nós.