Cinco anos depois de assinado o primeiro plano de assistência financeira à Grécia, em maio de 2010, os gregos voltam a estar à beira de um precipício. Estes são os atos e as cimeiras “decisivas” que marcaram o filme da crise no euro. Já em 2009 o conselho europeu lançara avisos à Grécia por incumprimento das regras do do pacto de estabilidade, antecipando a vitória socialista do PASOK de Papandreus nas legislativas de outubro. Daí para a frente foi um ciclo louco que está prestes a culminar – ainda antes de se saber o fim da história, ficam os pontos essenciais da crise:

2010

Janeiro. O órgão estatístico da União Europeia publica um relatório que denuncia de forma detalhada a fraude orçamental de Atenas no défice e na dívida pública.

Março. O Conselho Europeu aprova o princípio da criação de um mecanismo de empréstimo bilateral apoiado pelo Fundo Monetário Internacional para dar assistência a países à beira da insolvência e salvaguardar a estabilidade financeira na zona euro.

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Abril. A famosa troika (os técnicos da Comissão Europeia, Banco Central Europeu e FMI) chega a Atenas. Na liderança está Poul Thomsen do FMI, o Mr. Blue Eyes será o primeiro chefe da missão a Portugal, que abandona meses depois para se focar na Grécia.

Maio. É aprovado o programa de ajustamento grego com base no relatório da troika. O pacote de financiamento é de 110 mil milhões de euros e o plano deverá estar concluído até 2013/14.

Novembro. É dada luz verde ao programa de ajuda à Irlanda no montante de 85 mil milhões de euros.

2011

Maio. É aprovado o plano de assistência a Portugal. O pacote de 75 mil milhões de euros vale por três anos.

Julho. No dia 11 o Eurogrupo dá luz verde ao Tratado de Estabilidade (pacto de estabilidade europeu) e ao Mecanismo Europeu de Estabilidade que irá assegurar uma solução financeira de longo prazo para as crises na zona euro.

Julho. No dia 21 o Conselho Europeu propõe um segundo pacote financeiro de ajuda à Grécia no valor de 109 mil milhões de euros. São aprovados o prolongamento dos prazos e a descida dos juros dos pacotes da Irlanda e Portugal. É dado o apoio à reestruturação da divida grega detida por privados.

Outubro. Depois de concluir o segundo programa de assistência, o eurogrupo propõe, da reuniao a dia 26, o corte (haircut) de 50% na dívida pública grega detida por investidores privados, em troca de um segundo resgate de 130 mil milhões de euros.

Outubro. No último dia do mês, o primeiro-ministro grego, George Papandreous, anuncia intenção de realizar um referendo ao segundo plano de assistência. Líderes europeus reagem mal.  

Novembro. O italiano Mario Draghi chega à presidência do Banco Central Europeu no primeiro dia do mês, sucedendo a Jean-Claude Trichet.

Novembro. Papandreous demite-se e o referendo cai.

Dezembro. No dia 9, o Conselho Europeu aprova as novas regras orçamentais para a União Europeia, mantendo o teto de 60% do PIB para a dívida, a médio e longo prazo, e impondo o limite de 0,5% para o défice estrutural. São reforçados os mecanismos de estabilização financeira.

2012

Fevereiro. Acordo entre a Grécia e os credores para a reestruturação da dívida: um corte de 53,5% do valor em dívida e o prolongamento do prazo para 31,5% do financiamento privado a Atenas que se livrou de 107 mil milhões de compromissos. A dívida dos credores institucionais (UE e Troika) ficou de fora.

Junho. Na reunião do dia 9, Espanha informa o eurogrupo que vai pedir um financiamento para o sistema bancário. As caixas das autonomias regionais são o alvo do mini resgate à banca espanhola.

Junho. Está a terminar o prazo legal para formar um governo na Grécia. Sem interlocutor, a troika não liberta a tranche devida.

Julho. A reunião do dia 20 do eurogrupo aprova um cheque de 40 mil milhões de euros não exige o mesmo tipo de vigilância e intervenção na politica orçamental espanhola do que a imposta aos três outros resgatados do euro.

Julho. A crise do euro já contagiou Espanha e ameaça Itália. Para vencer a desconfiança dos mercados, no dia 26 Mario Draghi faz a declaração que para muitos é um ponto de viragem. Promete fazer tudo o que for preciso para salvar o euro e ganha a reputação de Super Mário. A afirmação do presidente do BCE recebe o conforto do eixo franco-alemão, com o apoio público de Angela Merkel e François Hollande.

Outubro. O novo primeiro-ministro grego, o líder da Nova Democracia, Antonis Samaras, avisa os parceiros europeia que o país vai ficar sem dinheiro em novembro se não for entretanto libertada mais uma tranche do empréstimo.

2013

Janeiro. Irlanda e Portugal conseguem obter financiamento em mercado.

Março. A instabilidade volta à zona euro com o resgate ao Chipre. Acordo preliminar prevê empréstimo (bail-out) de 10 mil milhões de euros e, pelas novas regras europeias, impõe um bail-in (esforço interno) aos clientes do sistema bancário cipriota com uma taxa entre 6,75% e os 10% sobre todos os depósitos.

Março. A reunião do Eurogrupo de dia 25 aprova uma versão suavizada do plano que provocou contestação e contestação generalizados. Os depósitos abaixo dos 100 mil euros são poupados.

Julho. No dia 1 demite-se o ministro das Finanças português. Vítor Gaspar divulga uma carta em que revela falta de coesão no governo e aponta o dedo a Paulo Portas. O líder do CDS bate o pé à escolha de Maria Luís Albuquerque para a pasta e anuncia a sua “demissão irrevogável”. Crise política deixa a Europa nervosa e os mercados em alerta. Passos Coelho consegue fechar a quadratura do círculo e salva a coligação, cedendo mais poder ao parceiro.

Novembro. Irlanda anuncia que vai optar por uma saída limpa do programa de assistência. Dublin justifica o salto sem rede para os mercados com as exigências feitas pelos parceiros europeus em troca de um programa cautelar.

2014

Maio. Portugal segue os passos da Irlanda e opta por uma saída limpa. O país confirma na famosa almofada financeira que permitirá ultrapassar alguma tempestade nos mercados.

Maio. Nas eleições para o Parlamento Europeu, o Syrisa obtém a maior votação na Grécia.

Outubro. Entra em funções a nova Comissão Europeia liderada pelo ex-primeiro ministro do Luxemburgo e ex-presidente do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker.

Dezembro. Credores desenvolvem negociações com o governo de Samaras sobre a dívida e o novo ciclo financeiro para o país. O líder da Nova Democracia antecipa as eleições presidenciais para assegurar um amplo apoio político à continuação da política de reformas (austeridade, segundo os críticos). Anúncio provoca o caos na bolsa de Atenas que perde quase 13%.

Dezembro. No dia 29 0 parlamento grego volta a falhar e a eleição do novo presidente, o que pela legislação grega obriga a convocar eleições legislativas antecipadas.

2015

Janeiro

As sondagens na Grécia dão a vantagem ao partido de esquerda radical Syrisa, aumentando os receios na Europa.

22-01-2015. Três dias antes das eleições gregas, o Banco Central Europeu anuncia um plano para relançar a economia europeia através da injeção de fundos nos mercados financeiros. O Quantative Easing (QE) é um programa de compra de ativos por parte do BCE que inclui a dívida pública dos países do euro.

25-01-2015. o Syrisa ganha as legislativas. Tsipras anuncia o fim do “ciclo vicioso da austeridade” e forma coligação com o partido de direita Gregos Independentes.

28-01-2015. Começa logo com o pé esquerdo o primeiro encontro entre Yanis Varoufakis e o presidente do Eurogrupo. Uma reunião tensa em Atenas em que Jeroen Dijesselbloem deixou escapar o desabafo que acabou ser gravado e difundido: “Você acabou de matar a troika”.

Fevereiro

5-02-2015. Começam as conversas entre o novo governo de Atenas e os credores. Um dos encontros que ficou para a história recente foi entre Yanis Varoufakis, o novo e mediático ministro das Finanças, e Wolfgang Schauble, o experiente e cético ministro alemão. “Concordamos em discordar”, diz Varoufakis.

12-02-2015. Mas logo nas primeiras reuniões no eurogrupo as conversas azedaram. A reunião do dia 11/12 não trouxe progressos.

17-02-2015. Na reunião do dia 17 o discurso endureceu quando Varoufakis pôs cá fora o esboço de uma posição comum que se recusou a assinar. Os gregos rejeitam o novo resgate, em troca de novas medidas orçamentais (de austeridade) e querem renegociar a dívida.

20-02-2015. Nova reunião dos ministros da zona euro dá um balão temporal a Atenas, ao estender o programa de assistência por quatro meses. Começa o tempo da negociação.

Março

09-03-2015. Entra em ação o programa de compra de ativos do BCE. São 60 mil milhões de euros para gastar até setembro. A prioridade é combater a deflação. No mesmo dia, o eurogrupo estabelece um calendário e metodologia para as discussões com as autoridades gregas.

Abril

24-03-2015. Mais uma reunião do eurogrupo da qual não sai fumo branco. Em Riga, na Letónia, os ministros das Finanças do euro consideram insuficientes as propostas gregas para reformas.

Maio

11-05-2015. Em mais uma reunião, os ministros das finanças do euro reconhecem os avanços nas negociações, mas notam que é preciso mais tempo para aproximar as posições divergentes antes de chegar a um acordo abrangente. O reembolso da última tranche do plano de assistência, 7,2 mil milhões de euros, fica “congelado” até depois de um entendimento político em relação às reformas exigidas, previamente validadas pelos representantes da troika.

Junho

04-06-2015. Atenas pede ao Fundo Monetário Internacional para saltar um reembolso de 300 milhões de euros e juntar os pagamentos no final de junho, amortizando 1500 milhões de euros. A Grécia teria a expectativa de obter luz verde para receber a última tranche do segundo plano de assistência.

14-06-2015. Reunião com os técnicos da troika em Bruxelas acaba apenas 45 minutos depois de começar. A distância entre as duas partes era demasiado grande para ser ultrapassada numa discussão com pessoal técnico que precisa de guidelines para discutir pressupostos diferentes. Faltam dois mil milhões de euros nas propostas gregas. Pensões, taxas de IVA e calendário do défice, são as principais discórdias. O presidente da Comissão, Juncker, avisa que a Europa está a perder a paciência.

18-06-2015. As expectativas para mais uma reunião do eurogrupo são baixas e os resultados confirmam a falta de progressos. Varoufakis apresentou um longo plano com propostas (e muitas considerações) que os restantes ministros recusaram comentar. Tsipiras estava em Moscovo numa visita que caiu mal nos líderes europeus. O presidente do eurogrupo, Dijisselbloem admite que o caminho que está a ser seguido pela Grécia aponta na direção da saída do euro. O Banco Central Europeu teme o impacto na banca grega e aumenta o financiamento de emergência. Mas no rescaldo, é convocada uma cimeira extraordinária dos líderes dos países do euro para esta segunda-feira.