O comissário europeu para os Assuntos Económicos, Pierre Moscovici, admitiu esta terça-feira que as escutas telefónicas feitas pela Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA) ao governo francês “são intoleráveis entre aliados e amigos” e que “exige formalmente esclarecimentos do governo americano sobre as informações divulgadas”. A declaração foi feita no blog do comissário, no seguimento dos documentos do Wikileaks revelados na última semana pelo diário Libération.

A reação das autoridades norte-americanas deve estar à altura das práticas reveladas e responder sem ambiguidades e de maneira imediata às perguntas aqui presentes. É sua responsabilidade reconstruir a confiança com aqueles que, como eu, os considera amigos, mas esta amizade não é cega, ela precisa estar sobre uma base sólida”, escreveu o comissário.

Na publicação, Moscovici afirma que o seu nome aparece diversas vezes nos documentos publicados pelo Wikileaks e supõe que as escutas ocorreram durante o período que foi ministro das Finanças de França, entre 2012 e 2014, a partir do seu telemóvel pessoal. O comissário avança ainda que desconhece o motivo pelo qual ocorreu a alegada espionagem ao governo francês, porém admite que “com base nas revelações da imprensa francesa, o padrão de espionagem sobre assuntos económicos parece claro”.

Moscovici conclui que “se recusa a fazer dos documentos publicados pelo Wikileaks um pretexto para interromper o diálogo com os Estados Unidos, em todos os níveis, a começar pelo nível económico – como alguns já estão a pensar, mesmo dentro da sua família política”, mas que “chegou o momento para uma explicação exigente”.

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Na última terça-feira, o Wikileaks divulgou documentos que denunciavam uma “grande operação” da NSA para espiar três chefes de Estado franceses – Jacques Chirac, Nicolas Sarkozy e François Hollande – pelo menos, entre 2006 e 2012. Os documentos, considerados sigilosos pelo governo francês, eram destinados às agências de “informações” dos EUA e a dirigentes da NSA, segundo o Libération, e esclareciam o modo de funcionamento e tomadas de decisão de Hollande e dos seus antecessores.

Na quarta-feira, o presidente Barack Obama telefonou a François Hollande para confirmar que os EUA não estavam a espiá-lo, avançou a Casa Branca. Na quinta-feira, foi o secretário de estado norte-americano, John Kerry, quem garantiu na imprensa que não havia “vigilância e que o presidente Hollande não é um dos nossos alvos, nem nenhum membro do governo francês”.

Segundo o site Mediapart, satélites alemães são os suspeitos nas escutas da NSA aos presidentes franceses.