Para um, Durão Barroso, foi um regresso, para o outro, Miguel Relvas, uma festa com os amigos. E eles foram muitos. Na apresentação do livro do ex-ministro-adjunto de Passos Coelho sobre o poder local, em Lisboa, não faltaram o primeiro-ministro, Marques Mendes, José Maria Ricciardi, Jorge Coelho, Alberto da Ponte, Luís Filipe Vieira, Maria Luís Albuquerque, José Luís Arnaut, muitos deputados, autarcas, ex-dirigentes do barrosismo e amigos de vários quadrantes numa sala cheia, a quem Relvas dedicou as primeiras palavras de agradecimento.
O homem que se demitiu do Governo envolto na polémica de uma licenciatura irregular, que era perseguido por cartazes de “Relvas vai estudar” lançou um livro, “O outro lado da governação”, com o ex-secretário de Estado da Administração Local, Paulo Júlio, que abandonara o Governo meses antes por causa de um processo de favorecimento relacionado com as funções anteriores de autarca. Dois anos volvidos, o PSD, em peso, aplaudiu a reforma administrativa que fizeram.
“Este livro não representa um regresso à política ativa. E não representa nenhum ajuste de contas com ninguém”, declarou o ex-ministro, que no PSD ocupa hoje o lugar de conselheiro nacional, prefere a vida empresarial e que, em recente entrevista ao Expresso, encarnou a pele de senador da vida política.
Mas a sala encheu também para o ex-presidente da Comissão Europeia, de quem Relvas foi secretário de Estado e que apresentou a obra. Ao fim de 13 anos, Durão Barroso voltou definitivamente à campanha eleitoral. Quis falar sobre a Grécia e acabou a apelar diretamente à manutenção de Passos Coelho no poder – a última campanha em que participara ativamente fora a de 2002, quando foi eleito primeiro-ministro. Depois disso, seguiu-se a Comissão Europeia e mais recato na vida partidária.
“Não se pode deitar fora os esforços feitos. Exige-se prudência e rigor”, declarou Barroso, elogiando Passos por ter livrado Portugal da troika e suscitando uma onda de aplausos na sala.
Dirigindo-se a Relvas, confessou que não poderia dizer que “não” a um amigo e acabou a elogiar “os homens do aparelho” – uma denominação que Relvas abominava – pois só estes, explicou, conhecem o país e seriam capazes de levar a cabo uma reforma das freguesias como a que aqueles dois homens fizeram nesta última legislatura.
“Os homens do aparelho são os que melhor conhecem o país”, insistia. Barroso prosseguia solto no discurso, parecia estar a gostar de estar em casa (social-democrata) e revelou mesmo que, desde que deixou as funções de presidente da Comissão Europeia, pode falar mais livremente e está a gostar. “É tão bom estar fora da política. Podemos falar com sinceridade total e a minha sinceridade tem vindo a crescer a cada dia que passa”, disse, provocando sorrisos na sala. No PSD, ainda há quem não acredite que Durão esteja fora da corrida presidencial.