O líder do Chega, André Ventura, voltou a recusar dizer quem são as figuras do PSD que lhe garantiram que ia existir governo com o Chega em caso de maioria de direita: “Não vou aqui dizer. São forças vivas, aquelas que eu conheço bem. E que sabem que não devemos deixar o PS governar, se houver uma maioria direita.” Referiu depois as posições públicas de figuras como Pedro Passos Coelho e Miguel Relvas, que negou, em declarações ao Observador, alguma vez ter falado sobre o assunto com Ventura. “É de rir”, diz.

Em entrevista à RTP, André Ventura lamentou também que, ao contrário dessas forças vivas de que tem falado, a Aliança Democrática “infelizmente” não compreenda a necessidade de contar com o Chega. “Ou, pelo menos, Luís Montenegro não compreende. Felizmente há muita gente que compreende”, corrigiu o líder do Chega.

“Acho que não vale a pena. São forças vivas, aquelas que eu conheço bem do PSD. E que sabem que não devemos deixar o PS governar se houver uma maioria direita.  Se houver maioria de direita, essa maioria não desiludirá. Infelizmente, a AD não compreende isso, para já. Ou pelo menos Luís Montenegro não compreende. Felizmente, há muita gente que compreende.”

Ora, desafiado pelo jornalista Hugo Gilberto a dizer quem era afinal essa gente, Ventura voltou a não dar uma resposta clara. Pelo contrário. O líder do Chega optou antes por destacar aqueles que fizeram declarações públicas sobre o assunto, dando como exemplos figuras como “Ângelo Correia, Rui Gomes da Silva, Miguel Relvas e o próprio Pedro Passos Coelho”.

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De resto, Ventura chegou mesmo a fazer uma referência a uma passagem do discurso do antigo primeiro-ministro, em Faro, que foi sendo interpretada como sendo um renovado apelo de Pedro Passos Coelho para que Montenegro reconsiderasse a política de alianças à direita.

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Na segunda-feira, a 26 de fevereiro, Passos disse o seguinte: “Temos condições dentro de nós para o poder fazer, mas para o poder concretizar é preciso que as pessoas reflitam bem se esta oportunidade de acreditar no país, de dar uma nova chance ao país de fazer diferente. Se não vale a pena agarrá-la com as duas mãos e dar força política ao governo para fazer essa transformação. Sei que o Luís não deixará de procurar o que lhe faltar para poder fazer o que é preciso.”

Na sequência, e depois de ter recuperado essa passagem do discurso, Ventura disse que achava que o antigo primeiro-ministro estava a falar sobre o Chega, não tendo nunca afirmado ter tido qualquer “contacto privilegiado com Passos Coelho”. Desafiado, mais uma vez, a concretizar se as figuras que tinha enumerado eram as tais “forças vivas do PSD” que lhe prometeram uma aliança no pós-eleições, Ventura não deu esse passo. “Não. Isso são umas das forças do PSD”, limitou-se a dizer.

É facto conhecido que Passos é há muito um crítico pouco discreto do cordão sanitário traçado por Luís Montenegro em relação a André Ventura. O antigo primeiro-ministro sempre considerou um erro de palmatória que se traçasse uma linha vermelha em relação Chega por entender que é uma cedência à agenda do PS e dos partidos à esquerda do PS, uma concessão que limita as hipóteses do PSD de regressar ao poder, e que pode acabar por alienar, inevitavelmente, eleitores essenciais.

Essa divergência estratégica está, aliás, na origem do afastamento progressivo entre os dois. Mas isso não quer dizer Pedro Passos Coelho e André Ventura mantenham qualquer tipo de conversa nesse ou noutro sentido. Aliás, nesta mesma entrevista à RTP, o próprio líder do Chega reconheceu que “raramente” fala com o antigo primeiro-ministro.

O mesmo vale para Miguel Relvas, que também sempre considerou um erro a política de alianças à direita de Luís Montenegro. Ao Observador, o antigo ministro garante nunca ter falado com André Ventura sobre o pós-eleições, passo que o líder do Chega efetivamente não deu. “As minhas posições são públicas. Isto é uma não-notícia. É de rir”, remata.