Não é 0,4%, nem 0,2%, é mesmo 0%. É isso mesmo que está a ler: taxa de desemprego de 0%. Há 63 cursos superiores que vão abrir vagas no próximo ano letivo e que, em dezembro de 2014, apresentavam uma taxa de desemprego nula, de acordo com os dados oficiais do Ministério da Educação e Ciência (MEC), que já tinham sido enviados às instituições de ensino superior, e a que o Observador teve acesso.
Este número corresponde a 6% do total de 1.077 cursos (1.048 ao abrigo do concurso nacional e 29 em concurso local) que abrem portas aos alunos em setembro. E os 63 cursos estão espalhados de norte a sul do país, incluindo, em grande força, as regiões autónomas dos Açores e da Madeira. As áreas de estudo são também muito diversificadas.
Engenharia e Gestão Industrial, em Leiria, Restauração e catering, na Guarda, e Estudos Clássicos, na Universidade de Lisboa, são alguns dos cursos que garantem total empregabilidade aos estudantes, como pode ver, no final deste artigo, na lista que o Observador construiu, cruzando os dados oficiais sobre o desemprego dos cursos enviados às instituições de ensino e o documento com as vagas que vão abrir no próximo ano letivo. De assinalar que o Observador já tinha publicado, na quinta-feira, um artigo sobre este tema onde indicava os 81 cursos com desemprego 0%, mas chamou logo a atenção para o facto de nem todos aqueles 81 poderem abrir no próximo ano letivo. Esta tabela, atualizada, reflete já as vagas disponíveis para 2015/2016.
Se nos fixarmos nos cursos que, nesta lista, apresentam um maior número de diplomados ao longo dos anos letivos 2009/10 a 2012/13, e que abrem vagas no próximo ano letivo, em destaque surgem seis cursos de medicina – Lisboa, Coimbra, Nova de Lisboa, Porto (Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar), Beira Interior e Minho. O sétimo curso de Medicina que existe – o da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto – aparece logo em 64ª posição, com 0,1% (com um desempregado apenas por 965 diplomados).
Também de referir que há sete cursos da área de eletrónica e automação neste ranking. Estamos a falar de cursos como o de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores do Instituto Politécnico do Cávado e do Ave. E ainda sete cursos na área de Artes do Espetáculo, aos quais os alunos acedem através de concursos locais e para os quais voltaram a abrir vagas para o próximo ano.
Medicina e Ambientes Naturais. Duas áreas de estudos sem desemprego registado
Olhando para grandes áreas de estudo, é Medicina – sem grande surpresa – que surge no topo das áreas com desemprego zero. Entre 2010 e 2013 diplomaram-se 5.369 estudantes. Também Ambientes Naturais e Vida Selvagem, que só formou 65 pessoas neste mesmo período de tempo, apresentava taxa de desemprego de 0%. Eletrónica e automação (engenharias informáticas, por exemplo), com 9.739 diplomados em quatro anos, e Física, com 474 diplomados, também aparece bem no retrato, ambas as áreas de estudo com uma taxa de desemprego de 3,5%.
Se alargarmos um pouco mais a análise e considerarmos todos os diplomados nas diferentes áreas desde sempre e não apenas aqueles que se formaram naqueles quatro anos, em dezembro de 2014 as áreas de formação que registavam menos desemprego eram Serviços de Transporte – gestão de transportes e logística; gestão portuária – (0,07%), Serviços de Segurança – serviços de segurança, proteção de bens e pessoas, segurança e higiene do trabalho – (0,29%), Ciências Veterinárias (0,49%) e Matemática e Estatísticas (0,7%), segundo dados já publicados na página da Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC).
Mas será que os alunos têm tido em conta o desemprego na hora de escolher o curso que pretendem? Aqui a resposta mais acertada parece ser “mais ou menos”. É que se o maior número de candidaturas em 1.ª opção apresentadas em 2014/15 (7.513) foi nos cursos de Saúde e um pouco abaixo aparecem as Engenharias e técnicas afins (5.503), onde se inclui Eletrónica e Automação, a verdade é que, por exemplo, Serviços de segurança e Serviços de transporte têm chamado poucos estudantes.
Estes dados sobre o desemprego têm de ser lidos sempre com cautela pois nem todos os desempregados estão inscritos em centros de emprego e, por outro lado, muitos podem estar a trabalhar em ofícios que nada têm que ver com a licenciatura (com ou sem mestrado integrado) que tiraram. Contudo, são estes os únicos dados que existem e é a partir deles que as instituições se baseiam para decidir a abertura de vagas dos anos seguintes.
Na tabela abaixo pode ver os 63 cursos que registavam 0% de desemprego em dezembro de 2014. O Observador ordenou os cursos do maior para o mais pequeno, tendo em conta o número de diplomados em cada um, nos quatro anos em questão.
[Este artigo, publicado na passada quinta-feira, foi atualizado, às 00h00 de domingo, tendo já como referência os cursos que efetivamente vão abrir no próximo ano, daí que o número tenha reduzido de 81 para 63, sendo que a análise global às áreas com mais desemprego registado se mantém]