Yannis Varoufakis saiu do Governo grego, mas não saiu de cena. O ex-ministro grego das Finanças acusa as autoridades europeias de promoverem um acordo com a Grécia que está desenhado para fracassar e aponta o dedo aos políticos de direita de outros países que usam o exemplo helénico para “assustar a população”. As declarações de Varoufakis foram feitas em entrevista ao jornal espanhol El País e referiam-se a declarações de Mariano Rajoy, mas ao usar o plural terá em mira outros governantes. Para o grego, a Espanha corre o risco de “se transformar numa Grécia” se insistir na mesma política.

A Grécia “converteu-se numa espécie de bola de futebol para os políticos de direita, que insistem em assustar a população com a Grécia”, disse.

Na entrevista ao El País, Varoufakis, acredita que a Espanha pode seguir o mesmo caminho que a Grécia se continuar a “a repetir os mesmos erros que foram impostos” aos gregos. “Os espanhóis têm de olhar para a sua situação económica e social e ver o que o seu país necessita, independentemente do que se passa na Grécia ou onde quer que seja. O perigo de se tornar numa Grécia mantém-se e será uma realidade se se repetirem os mesmos erros que lhe foram impostos”, concretizou.

Além de olhar para fora de portas, o ex-ministro aponta o dedo à negociação feita com o seu país e acredita que o terceiro resgate à Grécia “está desenhado para fracassar”. E de entre todos os responsáveis, há uma que é mais que os outros, acredita. Para Varoufakis, o ministro das finanças alemão Wolfgang Schäuble, “nunca esteve interessado em chegar a um acordo que possa funcionar”, senão em “redesenhar a zona euro”, e acrescenta que parte desse plano é “a saída da Grécia” da moeda única.

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Na sua opinião, “o ‘Grexit’ vai ser usado para criar o medo necessário em Madrid, Roma e Paris” e “o plano de Schäuble é impor a ‘troika’ em todo o lado”. “Em Madrid e em Roma, mas especialmente em Paris”, disse.

Para Varoufakis, o que se está a fazer é “castiga o orgulho de um país para atemorizar os outros” e que isso “não é a ideia de Europa pela qual lutaram Felipe González, Valéry Giscard d’Estaing e Helmut Schmidt. Temos de recuperar o significado de ser europeu e encontra formas de recriar o sonho de combinar prosperidade com democracia”.

Para o antigo ministro helénico, “o que aconteceu na Grécia é um golpe de Estado: a asfixia de um país através de restrições de liquidez”. O resultado, acrescentou, “é o mesmo que ter derrotado um governo ou tê-lo forçado a derrotar-se a si próprio”.