Os números do desemprego continuam a dar que falar. Agora foi a vez do vice-presidente e porta-voz do PSD, Marco António Costa, defender que os dados do Instituto Nacional de Estatística e do Eurostat comprovam aquilo que diz ser uma realidade: “Que temos hoje um saldo mais favorável em número de desempregados do que tínhamos no início da legislatura”. E recorre a uma comparação de mercearia, à semelhança do que já tinha feito o Bloco de Esquerda, para sublinhar que os dados usados “são comparáveis”. “Nós não confundimos batatas com laranjas, porque estamos a falar de pessoas”, disse esta terça-feira em conferência de imprensa na sede do PSD.
“Estamos a falar de um método estatístico que não foi alterado ao longo destes últimos anos, que se mantém intacto, ou seja estamos a comparar coisas comparáveis. Estamos a falar de pessoas que deixaram de estar na situação de desemprego de acordo com métodos estatísticos oficiais do Instituto Nacional de Estatística e do Eurostat, não estamos a falar de cebolas, nem de batatas, nem de laranjas“, disse aos jornalistas na São Caetano à Lapa.
“Nós não confundimos batatas com laranjas. Estamos a falar de pessoas que deixaram de estar na situação de desemprego de acordo com métodos estatísticos oficiais do Instituto Nacional de Estatística e do Eurostat. Estamos a tratar de um assunto muito sério, que não merece por parte da oposição o azedume que tem revelado, num assunto de grande relevância para o país, a matéria social mais importante que temos para tratar”, afirmou.
Este sábado, tinha sido a vez de Catarina Martins, coordenadora do Bloco de Esquerda, acusar o Governo de propaganda política por comparar a taxa de desemprego de 2015 com a de 2011. “É como comparar batatas com laranjas”, disse na altura. “Vimos nos últimos dias a enorme propaganda sobre a suposta descida da taxa do desemprego. Ouvimos até dizer que a taxa de desemprego tinha descido, quando comparada com 2011. E isto depois de quatro anos de um Governo em que a cada mês dez mil pessoas emigraram e a cada dia 220 postos de trabalho foram destruídos”, dizia a coordenadora bloquista.
Em causa estão os dados sobre a taxa de desemprego que, segundo o INE, atingiu em junho o valor mais baixo dos últimos quatro anos, situando-se nos 12,4%. Relativamente a maio, o INE tinha estimado inicialmente um aumento da taxa de desemprego para os 13,2%, mas na semana passada acabou por rever em baixa para os 12,4%. Esta baixa foi realçada pelo vice do PSD, que quis “voltar a sublinhar” que “estamos a falar hoje de menos 25 mil desempregados face a junho de 2011, e de menos 29 mil desempregados face a junho de 2010”.
Mas os valores de maio, primeiro 13,2% e depois 12,4%, provocaram mal-estar entre o Governo e o INE, e chegaram ao debate político, depois de a primeira estimativa ter apontado para um aumento do desemprego, ao passar para 13,2%, tendo depois o valor sido revisto para 12,4%, o mesmo que foi apurado para o mês de junho.
A própria Comissão de Trabalhadores do INE alertou esta terça-feira para o facto de estar a ser feito um “aproveitamento político” dos dados sobre desemprego, alertando para “situações de interpretação abusiva” da informação devido ao aproximar de eleições. “A Comissão de Trabalhadores do Instituto Nacional de Estatística [INE] expressa o seu repúdio pelo aproveitamento político que tem sido feito da informação produzida pelo INE, pondo em causa a credibilidade e independência da instituição e dos seus trabalhadores”, lê-se no comunicado enviado às redações, a propósito da polémica em torno dos dados do desemprego e das reações tanto da parte do Governo como dos partidos políticos.
O PS também criticou na semana passada a polémica do Governo e do INE face aos números de maio, dizendo que o método do INE deixa de fora variáveis como “os desencorajados, os que frequentam programas de formação, os emigrantes e os estagiários” que, se fossem tidas em conta, elevariam bastante os valores do desemprego. “O Governo está a fazer política usando o INE”, acusou na altura o vice-presidente da bancada parlamentar do PS, Pedro Nuno Santos, sublinhando que o Governo até “devia agradecer as regras” com que o INE calcula o desemprego em Portugal.
Para Marco António, no entanto, o assunto é “sério”, “é a matéria social mais importante que temos para tratar” e, por isso, “não merece por parte da oposição o azedume que tem revelado”.