A cidade japonesa de Nagasaki assinalou este domingo o 70.º aniversário do bombardeamento atómico, com uma cerimónia em que foi defendido o caráter pacifista da Constituição perante a reforma militar em curso promovida pelo Governo.

Os sinos soaram às 11:02 (03:02 em Lisboa), hora em que foi lançada uma bomba atómica com núcleo de plutónio (batizada de “Fat man”) sobre a cidade portuária, durante um memorial realizado no Parque da Paz, em que participaram representantes dos governos central e local e de um universo de 76 países, bem como “hibakusha”, nome pelo qual são conhecidos no Japão os sobreviventes dos bombardeamentos atómicos.

Na cerimónia, o presidente da Câmara de Nagasaki, Tomihisa Taue, proferiu um discurso, no qual apelou ao Governo que lidere os esforços com a comunidade internacional para pôr fim à proliferação nuclear, e criticou a reinterpretação da Carta Magna impulsionada pelo primeiro-ministro, Shinzo Abe.

“Muitas pessoas questionam-se se o princípio pacifista do Japão, que impede de nos envolvermos em qualquer guerra, está a sofrer erosão devido a esta iniciativa”, afirmou o autarca, em referência ao artigo 9.º da Constituição.

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“Nunca devemos abandonar este princípio, sobre o qual se construiu a prosperidade do Japão atual. Não podemos olvidar as trágicas memórias que a guerra nos deixou”, realçou na sua “Declaração pela Paz”.

Shinzo Abe e o seu Governo têm sido alvo de duras críticas da oposição e de uma crescente contestação por parte dos japoneses relativamente à reinterpretação do referido artigo pacifista que vai permitir, pela primeira vez em 68 anos, que as Forças de Autodefesa (exército) operem no estrangeiro e defendam aliados em caso de ataque.

História

Os Estados Unidos lançaram o primeiro ataque nuclear da história sobre a cidade de Hiroshima a 06 de agosto de 1945.

Entre 70 mil e 80 mil pessoas, cerca de 30% dos residentes da cidade, morreram na explosão e consequente onda de choque.

Uma segunda bomba atómica atingiria, somente três dias depois, Nagasaki.

Apesar de mais potente que a “Little boy”, os efeitos da segunda bomba atómica fizeram-se sobretudo sentir no vale de Urakami.

Cerca de 74.000 pessoas morreram na explosão, a somar a milhares de outras que perderem a vida nos anos seguintes devido aos efeitos da radiação.

Nas duas cidades, a maioria das vítimas era civil, embora Hiroshima fosse um importante posto militar.

A 15 de agosto, depois do bombardeamento de Nagasaki e da declaração de guerra da União Soviética, o imperador Hirohito anunciou o cessar-fogo.

A 02 de setembro, o Japão assinava o instrumento de rendição incondicional, pondo fim à Segunda Guerra Mundial.

O papel dos bombardeamentos atómicos na rendição japonesa e a sua justificação ética continuam a ser debatidos.

Os ataques atómicos sobre as cidades japonesas de Hiroshima (oeste) e Nagasaki (sudoeste) foram os únicos levados a cabo até hoje.

A Cruz Vermelha estima que estejam vivos atualmente 200 mil ‘hibakusha’.