É durante a madrugada que os portugueses mais pesquisam por pornografia e inspiração. Mais precisamente, entre a uma e as cinco da manhã.
Hoje, conseguimos saber isso graças à evolução dos métodos de recolha de informação (big data). Mas só muito recentemente é que os analistas passaram a ter acesso, em tempo real, a dados relacionados com as pesquisas no Google. Agora que a empresa mudou de nome e de CEO, o Observador quis saber o que é que os portugueses andam a pesquisar no maior motor de busca da internet. Por isso, criámos uma lista com várias palavras e expressões. E, com base nela, analisámos as tendências de pesquisa dos portugueses, durante uma semana.
Regressando, então, aos termos referidos no primeiro parágrafo: é de madrugada que os portugueses mais pesquisam por “porn” — o termo inglês tem mais volume de pesquisas do que a palavra portuguesa “pornografia”. As buscas aumentam a partir das 22h, atingindo picos entre as 3h e as 5h — período no qual também aumentam as pesquisas pela rede social “Twitter”, por “inspiração” e por “Érica Fontes” — a atriz pornográfica portuguesa. A partir das 5h, aumentam as buscas por “orações”, mantendo-se altas até às 6h.
Mas os dados revelam-nos muito mais (e os nossos hábitos refletem-se neles). Por exemplo, consumimos informação ao acordar. É de manhã que as buscas por “notícias”, “jornais” e até “observador” atingem picos, permanecendo altas entre as 6h e as 9h. A partir dessa hora, entram em queda constante, até às 14h. Podemos, no entanto, ir ainda mais longe e arriscar identificar três tipos diferentes de pessoas: as que acordam às 6h e leem notícias às 6h24; as que acordam às 7h e as leem às 7h36; e as que acordam uma hora mais tarde, e as leem às 8h08. Escusado será dizer que as pesquisas por “meteorologia” seguem esta tendência.
Em Portugal, a manhã não traz só sede por informação. Traz também várias doses de ansiedade. É nesta altura que se verifica um súbito aumento das pesquisas por “sintomas”, “médicos”, “AVC”, “sida”, “câncer” (o termo em português do Brasil tem mais volume de pesquisas em Portugal do que “cancro”), “celulite” e até “pílula do dia seguinte”. Já o termo “suicídio” atinge picos distintos ao longo da semana — por vezes à meia-noite ou entre as 3h e as 4h e, ao sábado, por volta das 10h.
Falando de redes sociais, procuramos por “Facebook” logo a partir das 6h30, embora o volume de pesquisas se mantenha bastante alto ao longo de todo o dia. E se o vício da tecnologia nos ataca mal o Sol nasce, a sonolência matinal também se reflete nos gráficos da Google. É entre as 5h30 e as 7h que mais nos enganamos a escrever “Facebook” — com as pesquisas por “facbook” e “facebok” a atingirem níveis máximos.
Ao domingo, os portugueses saem para almoçar. As buscas por “restaurantes” atingem um pico máximo a partir do meio-dia, caindo abruptamente das 13h às 14h30. Porém, nos dias úteis, as pesquisas por “restaurantes” são mais altas antes do jantar — sobem a partir das 17h, atingem níveis máximos entre as 19h e as 20h e caem constantemente até à meia-noite.
Em contrapartida, há quem tenha de cozinhar as suas próprias refeições. Nesse caso, os portugueses começam os preparativos com (muita) antecedência. Isto porque as pesquisas por “receitas” aumentam logo a partir das 7h30, atingindo um pico por volta das 10h40 (aos domingos). Durante os outros dias da semana o cenário é bem diferente e as buscas batem níveis máximos entre as 17h30 e as 19h30, isto é, antes do jantar.
Quanto a “jogos”, os portugueses preferem-nos em três momentos distintos do dia: depois do almoço, ao final da tarde e ao serão da noite. É também nesta altura que sobem as buscas por “Youtube” e “sentido da vida” — neste último caso, atingindo níveis máximos durante a madrugada.
Porém, nem todas as palavras e expressões selecionadas para esta experiência nos fizeram chegar a resultados. Por exemplo, as tendências de pesquisa para “livros”, “música” e “matemática” apresentam gráficos tão irregulares de dia para dia que se torna difícil retirar conclusões a partir deles. Não podíamos, no entanto, deixar de fazer um reparo: no período estudado, houve pelo menos dois dias em que as pesquisas por “matemática” atingiram níveis máximos às seis da manhã. (Coragem.)
Mas esta não é uma ciência exata. Como explica o investigador Seth Stephens-Davidowitz no jornal The New York Times, uma “importante fraqueza” destes dados prende-se no facto de a Google “apenas divulgar taxas de pesquisas e não o número total de pesquisas” para cada termo. Ou seja, “se a taxa de pesquisa para uma palavra atinge níveis máximos às 3h, isso significa que de todas as pesquisas a decorrer naquele momento, uma grande percentagem inclui essa palavra”.
Ainda assim, através da identificação de padrões, os dados podem revelar muito sobre nós. “Tal como um microscópio nos permite olhar para para partes minúsculas dos objetos físicos, a big data permite-nos fazer um zoom nas nossas mentes”, conclui Seth Davidowitz. Claro que os nossos hábitos são muito mais complexos do que aqui representamos. Mas esta é, sem dúvida, uma amostra bem sugestiva.
Editado por: Diogo Queiroz de Andrade
Design: Andreia Reisinho Costa