As empresas públicas perderam 378 milhões de euros nos primeiros três meses de 2015, o que representa um agravamento de 5% face a igual período de 2014 e um desvio superior a 100% (106%), face à previsão dos seus orçamentos.
O boletim sobre a situação financeira do setor empresarial do Estado aponta dois setores como os grandes responsáveis pela degradação da conta de resultados. Os transportes e a saúde. Nos transportes, o destaque, pela negativa, vai para a TAP SA, empresa de transporte aéreo que entrou nas contas do Estado, mas que deverá sair em breve pela via da privatização.
A TAP agravou o resultado negativo em 42% para 106,4 milhões de euros, um desvio de quase 30 milhões de euros face ao orçamentado. O resultado financeiro da companhia aérea foi penalizado em 11 milhões de euros, devido a diferenças cambiais. A evolução negativa foi também visível ao nível de outros indicadores como o EBITDA (margem da operação) que se fixou em menos 74,7 milhões de euros.
A nível operacional, pesou o aumento dos gastos operacionais, superior à subida dos proveitos. O relatório aponta como causas “um maior número de trabalhos de manutenção de frota, conservação e reparação, e custos extraordinários com passageiros e fretamento de aviões”. Neste ponto, é referida a subida de custos operacionais com o voo e tráfego, que reflete “o custo com irregularidades – despesas com passageiros, fretamento de aviões – e outros”: taxas de aterragem, taxas de navegação, catering, deslocações e estadias do pessoal e assistência por terceiros e ainda mais gastos com remunerações e subsídios.
Os dados do trimestre ainda não incorporam os efeitos da greve de dez dias convocada pelo sindicato dos pilotos para maio, que terá custado 35 milhões de euros à TAP, entre perda de receita e aumento de custos.
Ainda no setor dos transportes, mas terrestres, nota para o agravamento dos prejuízos no Metropolitano de Lisboa de mais de 400% e o grande desvio dos resultados no Metro do Porto. No caso do Metro de Lisboa, pesa o impacto negativo do justo valor dos instrumentos de gestão de risco financeiro (swaps) que resultou “de taxas de juro historicamente baixas”, mas também do fim das indemnizações compensatórias à empresa cuja concessão a privados foi anunciada há poucas semanas.
Prejuízo dos hospitais sobe para 95 milhões
O setor público da saúde foi um dos que sofreu o maior agravamento dos prejuízos com impacto no saldo global das empresas públicas. As perdas cresceram 41% face a março do ano passado, para 95 milhões de euros, tendo apresentado um desvio significativo (de 171%) face aos valores previstos. Os centros hospitalares de Lisboa Norte e Lisboa Central deram o maior contributo para esta performance negativa, com perdas de 25,4 milhões de euros e 18,4 milhões de euros, respetivamente.
O acréscimo significativo dos gastos operacionais, face à previsão dos orçamentos e face ao valor apurado no primeiro trimestre do ano passado, é o fator apontado no relatório, sem dar grandes detalhes.
Do lado positivo, destaca-se a Estradas de Portugal (agora integrada na Infraestruturas de Portugal), cujo lucro cresceu para 21 milhões de euros, devido ao aumento das receitas da contribuição do setor rodoviário, que subiu dois cêntimos por litro de combustível este ano. É ainda realçada a melhoria do resultado da Parvalorem, empresa que gere os créditos de má qualidade do BPN, obtida com ganhos cambiais, ainda assim insuficiente para que esta holding tenha lucro.
A dívida é outro dos indicadores que a UTAM (Unidade Técnica de Acompanhamento e Monitorização) do setor empresarial do Estado segue com atenção. O nível de endividamento baixou 2% face ao primeiro trimestre de 2014 e face ao valor projetado. A dívida remunerada situou-se nos 30.570 milhões de euros.
A TAP volta a destacar-se pela negativa ao registar a maior subida da dívida, no montante de cerca de 94 milhões de euros, para 1.029 milhões de euros. Este aumento foi o resultado da “necessidade de reforçar a tesouraria por via do desempenho operacional verificado no primeiro trimestre de 2015. Esta evolução espelha o plano de pagamento da dívida, nomeadamente as amortizações de leasings financeiros e de financiamentos.
A Refer, empresa com maior endividamento do setor público, foi a que registou uma diminuição mais expressiva, fruto da amortização de empréstimos e de aumentos de capital.