“A vida é muito curta. Tenha um caso”. É esta a proposta de Ashley Madison, um site de encontros com 39 milhões de utilizadores que foi vítima de um ataque que permitiu roubar os dados de 92% destes membros. A informação começou por estar enterrada na Deep Web – que não pode ser explorada pelos modos convencionais de busca -, mas depressa veio à superfície e já é possível pesquisar por alguns deles.
Foi assim que muitos homens e mulheres ficaram a saber que os parceiros estavam, afinal, à procura de uma forma de os trair. E correram para um outro site, chamado “Surviving Infidelity”, que funciona como uma comunidade em que os participantes partilham a experiência da traição. Surgiu em 2002, um ano depois do aprecimento de Ashley Madison, pelas mãos de um homem denominado “MangledHeart” [em português, coração mutilado] e da própria mulher.
A partir do momento em que se entra no site é-se convidado a escolher um dos fóruns de conversação. Tudo depende da natureza da situação. Acabou de saber que o seu marido a traiu? A relação com a sua mulher está minada de infidelidades? Há onze cenários à escolha, todos repletos de gente nas mesmas circunstâncias. Funciona como um grupo de apoio.
Um dos fóruns chama-se “My Husband is on Ashley Madison Dump” [em português, o meu marido está no programa Ashley Madison] e está incorporado na opção “Just Found Out” [acabei de saber]. A primeira publicação é de uma mulher com o nickname “Devastated Mom”, ou seja, mãe devastada.
Diz ela que é casada há 12 anos, tem dois filhos pequenos e que tudo parecia perfeito até que uma amiga encontrou o seu marido no site Ashley Madison. Viu as mensagens e as informações do marido, reconheceu-as a todas. “Estou devastada o dia todo. O meu marido vem para casa amanhã vindo de uma viagem de trabalho e eu não sei o que fazer”, assume a mulher.
Depois desta publicação, choveram mensagens de apoio. Em todas, há algo comum: a expressão “DDay” [ou dia D, em português], que na verdade significa “dia da descoberta” – e em frente a data em que aquela pessoa soube que estava a ser traída. Alguns dos utilizadores explicam, até, em que circunstâncias souberam que estavam a ser traídos: “encontrei-a na cama com o outro” ou “apanhado no Facebook” são alguns dos relatos que aparecem. E normalmente todos eles exibem uma mensagem motivacional no fim de cada história.
Nos próximos dias adivinha-se uma grande afluência a este tipo de comunidades, que promete apoiar quem soube que estava a ser traído. Os criadores do site estão à espera de, pelo menos, 50 mil novos membros porque a informação roubada pelos hackers continua a jorrar para a superfície da Internet, vinda dos links da Deep Web. Hoje, tem 10 mil utilizadores diários.
Texto editado por João Cândido da Silva