A Universidade de Oxford decidiu finalmente revelar algumas perguntas das suas entrevistas do seu exigente teste de admissão. E também… as respostas. As questões são várias e algumas surpreendentes. Por exemplo: os banqueiros merecem o que recebem? E deve o governo impor um limite para esses bónus? Pode a arqueologia comprovar ou refutar a Bíblia?
As perguntas são selecionadas de entre uma grande amostra construída todos os anos pelos tutores que conduzem as entrevistas e que decidem o futuro de milhares de estudantes ansiosos. A diretora de admissões, Samina Khan, explicou que a Universidade de Oxford decidiu divulgar algumas dessas questões para tranquilizar os potenciais estudantes, de modo que eles percebam que o que os tutores pretendem é que eles pensem e proponham as suas ideias, conta o The Guardian.
“As entrevistas não são sobre recitar aquilo que já sabem, são a oportunidade para que os candidatos possam mostrar as suas habilidades e o seu verdadeiro potencial (…) Trata-se de uma conversa académica sobre uma determinada área, entre os tutores e os candidatos (…) sabemos que existem muitos mitos sobre a entrevista de Oxford e por isso decidimos publicar o máximo de informação possível para que os estudantes tenham contacto com toda a realidade que envolve o processo”, explica Samina Khan.
O The Guardian conta que a universidade conduz mais de 24.000 entrevistas para 10.000 requerentes, durante duas semanas, sendo que este é apenas um elemento do processo de seleção. São também considerados outros factores, como resultados de exames, os resultados dos testes de admissão e referências académicas.
Mostramos-lhe as perguntas e também as respostas mas prepare-se porque não há escolhas múltiplas, é mesmo para pensar.
P: Os banqueiros merecem os pagamentos que recebem? O governo deve impor alguns limites a esses bónus?
R: A resposta devia explicar que os bancos são geralmente empresas privadas e que os trabalhadores são livres para trabalhar onde quiserem, acrescentando em seguida que o salário é apenas o resultado de um mercado de trabalho competitivo. Neste caso, os banqueiros ganham muito porque a maioria é muito qualificada e pedir a intervenção do governo não faz sentido. Mas a Universidade relembra que as respostas não podem ser assim tão lineares e é necessário refletir sobre elas.
“Um bom candidato iria contra questionar-nos e perguntar porque é que as pessoas aparentemente mais talentosas podem ser muito mais bem pagas no setor bancário do que em outras ocupações e se realmente acreditamos que os banqueiros são muito melhores do que os outros trabalhadores em termos de habilitações”, esclarece o entrevistador Brian Bell do Lady Margaret Hall.
Outra hipótese poderia explicar que o setor bancário não é competitivo e que gera lucros muito acima do que um mercado competitivo conseguiria produzir. Sendo assim já era possível ponderar a intervenção do governo.
Esta questão pretende levar os estudantes a pensar sobre a economia e a competitividade, ao invés de os levar a dizer se é simplesmente justo ou não.
P: A arqueologia pode comprovar ou refutar a Bíblia?
R: Sobre a possibilidade da arqueologia poder comprovar ou refutar a Bíblia, a entrevistadora Alison Salvesen do Mansfield College esclarece que os estudantes devem olhar para a Bíblia como uma coleção de documentos escritos há centenas de anos e que um estudo académico sobre ela requer que esta seja analisada do ponto de vista das tradições, avaliando o propósito com que foram escritas.
Sobre esta questão seria necessário antes de tudo reconhecer que a arqueologia se baseia em fontes não literárias preservadas em períodos antigos, como restos de construções. Embora possam ser datados por meios científicos, ainda assim são necessárias informações adicionais, tais como inscrições ou outras evidências para que seja possível dar sentido àquilo que é antigo.
P: Porque é que o rendimento per capita é 50 a 100 vezes maior nos Estados Unidos do que no Burundi ou no Malawi?
R: Para esta questão seria necessário pensar no porquê dessas diferenças existirem ou talvez pensar mesmo no porquê de alguns países serem ricos e outros pobres. O entrevistador Brian Bell do Lady Margaret Hall propõe um ponto de partida para pensar esta questão .”Por que não pensar sobre se o montante de capital e tecnologia à disposição dos trabalhadores em diferentes países é ou não o mesmo?”, explica.
A resposta deveria esclarecer que os trabalhadores norte-americanos são mais produtivos porque têm acesso às melhores tecnologias. Era possível ainda colocar ao mesmo tempo outra questão: e porque é que os países pobres não compram simplesmente mais tecnologia e são produtivos? Porque simplesmente esses países não têm dinheiro para comprar ou porque mesmo que o consiga, não conseguirá utilizá-la face aos seus baixos níveis de escolaridade. “O truque é pensar muito e não tentar encaixar a resposta de alguma aula aprendida na escola”, acrescentou.
P: Imagine que 100 pessoas colocam uma libra dentro de um pote para um prémio de um jogo. Cada pessoa tem de escolher um número entre 0 e 100 e o prémio será entregue ao número que for mais próximo de dois terços da média de todos os números escolhidos. Que número escolhia e porquê?
R: Um entrevistador da University College, Nick Yeung, deu as principais dicas para a resposta.
“Olho para esta pergunta do ponto de vista da psicologia experimental, porque a resposta implica trazer para o assunto uma grande variedade de competências. Em termos numéricos e analíticos, a resposta implica escolher o número que seja dois terços de outro número, mas não é possível olhar para a questão apenas desse ponto de vista. A questão tem também um ângulo psicológico. Não basta escolher um número. É necessário pensar se realmente todas as pessoas estariam dispostas a colocar lá o valor e analisar o seu comportamento. Será que todas as pessoas se vão empenhar do mesmo modo? Será que todos estarão motivados para ganhar?”
Agora que conhece algumas das perguntas às quais é necessário responder para entrar em Oxford (e também as respostas) sentia-se preparado para arriscar? Afinal de contas o mais importante parece mesmo ser a reflexão. A maioria dos entrevistadores explica que as entrevistas são dirigidas de acordo com a área de estudos à qual o estudante se candidata e que o mais importante é ir lançando observações primárias e, só depois, evoluir na discussão a partir daí.