Os analistas de mercado de dívida pública do Commerzbank emitiram nesta sexta-feira uma nota de investimento em que recomendam aos clientes a compra de títulos de dívida pública portuguesa. O banco alemão está atento ao “ruído político” mas, depois da indefinição pós-eleições que apanhou muitos investidores desprevenidos, está confiante de que a “situação política em Portugal assumirá uma trajetória positiva nas próximas semanas” – leia-se, uma “trajetória” que não coloque em risco a recuperação por parte de Portugal de um rating melhor do que lixo.
David Schnautz, estratega em dívida pública que está em Londres, faz o seguinte relato de Portugal aos seus clientes: “Ainda que reconheçamos o risco de uma nova subida dos juros tendo em conta do ruído político que está a verificar-se, identificamos vários argumentos favoráveis para a dívida portuguesa, que podem levar a uma inversão do recente desempenho negativo da dívida portuguesa” [visível na subida dos juros].
Numa semana em que se atenuaram um pouco os receios em torno de Espanha – associados às eleições na Catalunha – alguns investidores terão voltado para a dívida espanhola à medida que atravessaram a fronteira, para Portugal, as manchetes mais preocupantes.
Ainda assim, o Commerzbank argumenta que a subida dos juros desde as eleições foi, além da incerteza política, um reflexo do leilão que foi anunciado na última sexta-feira, dia 9, para a última quarta-feira. Tipicamente, o anúncio de uma nova operação de financiamento pode pressionar o preço dos títulos já existentes e que pertençam às mesmas linhas de crédito que vão ser reabertas (podendo fazer subir os juros à medida que o mercado acomoda a oferta de mais títulos).
Commerzbank diz que juros subiram, em parte, devido ao leilão anunciado
“Os resultados inconclusivos das eleições desencadearam uma incerteza elevada acerca do futuro de Portugal”, diz David Schnautz. Mas o analista assinala que os investidores na dívida portuguesa estão preparados para este tipo de incerteza – afinal, é também por receios de instabilidade política que o rating está em território especulativo (vulgo lixo) e, portanto, é apenas recomendado pelas agências a quem tem mais estômago para riscos políticos.
Confiante, contudo, de que a “situação política em Portugal assuma uma trajetória positiva nas próximas semanas” e recordando o efeito crucial dos estímulos do BCE, o Commerzbank acredita que pode fazer sentido para os investidores apostarem na inversão da tendência nos juros. Em rigor, para os investidores que estão de olho nos diferentes países periféricos da zona euro, pode ser lucrativo vender dívida de Itália ou Espanha e comprar dívida portuguesa. Se voltar a estreitar a diferença entre Portugal e estes dois países, este investimento de curto prazo pode ser lucrativo, nota o Commerzbank.