A visita do Presidente chinês ao Reino Unido “não é para vir fazer um debate” sobre os direitos humanos, pelo que o embaixador chinês em Londres pediu ao novo líder dos Trabalhistas, Jeremy Corbyn, para “se saber comportar” quando se sentar à mesa, na terça-feira, para um jantar diplomático com várias figuras de relevo da política britânica e chinesa, no Palácio de Buckingham.
O aviso a Jeremy Corbyn foi confidenciado à BBC pelo próprio embaixador, Liu Xiaoming. Citado pelo The Telegraph, o embaixador colocou a questão da seguinte forma: “Eu julgo que as pessoas britânicas são muito cordiais, muito inteligentes. Sabem comportar-se em situações como esta. Acha [perguntou ao jornalista] que o Partido Trabalhista vai puxar o tema dos direitos humanos num jantar estatal? Não me parece“.
O embaixador esclareceu que a China “não foge à questão” dos direitos humanos mas salienta que “todos sabemos que a China e o Reino Unido têm muitas diferenças porque temos uma História diferente, uma cultura diferente, e estamos em fases diferentes de desenvolvimento“. “É natural que tenhamos diferenças, mesmo no que diz respeito aos direitos humanos – na China preocupamo-nos com os direitos a uma vida melhor, a um emprego melhor, uma habitação melhor”, continuou Xiaoming.
Porta-voz de Jeremy Corbyn já garantiu, porém, que o líder Trabalhista irá, mesmo, aproveitar a visita de Xi Jinping para falar sobre direitos humanos. Admite, contudo, uma reunião privada com o Presidente chinês para o fazer, não excluindo que o possa fazer, em alternativa, no jantar.
Xi Jinping estará no Reino Unido de 19 a 23 de outubro, vai encontrar-se com o primeiro-ministro David Cameron e deverá discursar no parlamento britânico, segundo anunciou hoje o Governo de Pequim. Esta será a primeira visita ao Reino Unido de um Presidente da China em dez anos, ou seja, depois da de Hu Jintao em 2005.
Durante a visita de Xi Jinping – que vai ficar com a sua esposa, Peng Liyuan, alojado no Palácio de Buckingham, como dita a tradição para as visitas de Estado — espera-se a assinatura de acordos económicos e também de cariz cultural. “Nós encorajamos o investimento e a China investe mais na Grã-Bretanha do que noutros países europeus”, congratulou-se David Cameron.
Por sua vez, o embaixador da China em Londres, garantiu que o Reino Unido “está em vias de se tornar no líder na Europa e em todo o Ocidente” referindo-se às relações com o seu país. O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, e o ministro da Economia britânico, George Osborne, já exibiram, no mês passado, em Pequim, essa sintonia com a assinatura de 53 acordos, incluindo vários que visam usar a “City” londrina como ponte para a internacionalização da moeda da segunda maior economia mundial, o yuan.
Espera-se, portanto, que a visita de Xi sirva para amadurecer esses acordos, que incluem projetos de envergadura como a construção da primeira central nuclear desenhada e operada pela China em solo ocidental e de linhas ferroviárias de alta velocidade. Todos esses assuntos vão ser abordados na reunião entre Xi e Cameron, um dos pontos-chave da agenda do chefe de Estado chinês, a qual contempla também encontros com líderes de outros partidos e empresários.