As descargas das enguias-elétricas (Electrophorus electricus) têm afinal uma função dupla, como revelou o estudo publicado na Nature Communications: não só atordoa as presas, mas também ajuda a detetá-las. Aparentemente, as enguias-elétricas, como outros peixes, emitem um campo elétrico fraco (de baixa-voltagem) que permite discriminar objetos ou animais na periferia do seu corpo. Adicionalmente, as enguias-elétricas produzem descargas de alta-voltagem para atordoar as presas.

Sequência do ataque: descarga elétrica de alta-voltagem, movimento de cabeça rápido nos milissegundos seguintes e a presa é, literalmente, sugada.

Quando libertam a descarga elétrica na água, as enguias impedem temporariamente todos os movimentos voluntários da presa, normalmente peixes, provocando uma imobilidade em todo o corpo. Mas isto não é novo. A novidade aqui é perceber como é que a enguia-elétrica localiza as presas usando uma descarga elétrica de alta-voltagem. Uma eletro-localização rápida e precisa, conforme referem os autores.

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Catania 2015 Nature Comm_recetores enguia

Localização dos recetores elétricos (a rosa) e motores (a azul) na cabeça de uma enguia-eléctrica – Catania (2015) Nature Communications

Mas, além dos sinais elétricos, estas enguias também usam sinais motores – o movimento dos peixes na água. Aliás, são os sinais motores que desencadeiam a descarga, embora a eletro-localização seja mais rigorosa – não é afetada pelos próprios movimentos da enguia. Os investigadores verificaram, no entanto, que na ausência dos sinais elétricos, os sinais motores não são suficientes para concluir o ataque.

Na experiência os cientistas usaram peixes inanimados – logo, que não emitiam sinais elétricos – que faziam mexer artificialmente. A enguia-elétrica detetava os movimentos e fazia uma descarga elétrica. Quando existia uma vareta condutora na água os ataques eram concluídos, mas eram abortados sempre que não estava presente um condutor elétrico – como nos casos em que só estava o peixe inanimado ou quando nenhuma das varetas era condutora. Os investigadores verificaram que quando o condutor estava na água ao mesmo tempo que o peixe inanimado, a enguia atacava sempre o condutor. E mesmo quando o condutor estava numa placa rotativa, a enguia conseguia segui-lo e atacá-lo.

Todas as experiências foram conduzidas no escuro para que as enguias não pudessem usar a visão para localizar as presas ou as varetas do condutor. Os vídeos foram registados usando luz infravermelha e câmaras de alta-velocidade.