António Costa e Catarina Martins foram a Belém pedir ao Presidente da República para que não perca tempo na indigitação de Passos Coelho como primeiro-ministro, porque é o PS que tem “condições” para formar um governo que tenha apoio maioritário na Assembleia da República por quatro anos. Quais as condições? Nem BE nem PS avançam para já quais, mas ambos falam a uma só voz para dizer que “estão criadas as condições” para um governo alternativo. Catarina Martins foi mais longe e assumiu: “Havia divergências grandes que já foram ultrapassadas”.
Primeiro foi António Costa que sintetizou assim a bomba que deixou nas mãos de Cavaco Silva: “Temos as condições para que possa existir uma solução com apoio maioritário que garanta estabilidade e cumprimento da vontade dos portugueses”. No final da reunião de mais de 40 minutos com o Presidente, Costa lembrou que antes dele já Passos Coelho tinha dito que “não tinha condições para ter uma maioria na Assembleia da República”. E se Passos e Portas não garantem essa maioria, Costa assegura que oferece essa solução.
“Esgotada a possibilidade de o PSD ter apoio maioritário na Assembleia, o PS entende que não se deve furtar ao seu dever para proporcionar ao país uma solução estável para a legislatura”, disse.
“É ao Presidente da República que cabe fazer o juízo do melhor caminho a seguir, mas julgamos que estão criadas as condições de estabilidade para o PS formar governo e ter apoio maioritário na Assembleia da República para garantir essa estabilidade”, disse. Um acordo que, assumiu, durará uma legislatura.
Já Catarina Martins revelou que mais tarde seria conhecida a “fórmula” dessa solução, mas que não há marcha-atrás nas conversas: “Pelo Bloco de Esquerda não há volta atrás”, garantiu, depois de defender que não tem pressa em assinar um papel com o PS para defender a qualidade do acordo que alcançaram.
Questionada sobre se esse acordo não escrito implica a viabilização de um futuro Orçamento do Estado (ou de todos os orçamentos da legislatura), Catarina Martins afirmou apenas que o debate com o PS se cingiu às “condições políticas, especificamente à garantia de proteção dos salários, emprego e pensões”. Mas com cautelas. “É melhor esperar mais um dia ou dois e ter um acordo sério do que estarmos com pressa e acordo ficar mal feito”, disse.
Indigitar Costa já
Os dois líderes parlamentares foram ainda dizer ao Presidente da República que não deve indigitar Passos Coelho, perdendo tempo uma vez que esse governo cairia na Assembleia da República. Primeiro disse Costa que o país “não ganha nada” em “arrastar no tempo a incerteza” e a “indefinição”. “Quanto mais rapidamente tivermos governo viabilizado pela maioria na Assembleia da República, melhor”, disse, referindo-se ao facto de Cavaco poder vir a indigitar o líder do PSD como primeiro-ministro, por a coligação ter sido a força política mais votada, mas esse Governo, sem maioria, acabar chumbado no Parlamento logo na primeira semana. O mesmo garantiu Catarina Martins.
António Costa falou mesmo na necessidade de “ganhar tempo” em vez de perder tempo com esse passo, deixando antever que chumbará um governo da coligação aquando da apresentação do programa de governo na Assembleia. Logo no rescaldo das eleições, o líder socialista tinha dito que não faria oposição negativa e que só inviabilizaria o governo da direita se tivesse uma alternativa de governo. Alternativa que, diz agora, tem “condições” para andar.
Questionado sobre se isso queria dizer que já tinha concluído, com sucesso, as negociações à esquerda, Costa voltou a sublinhar o que já tinha dito na sua mensagem inicial, que havia “condições” para construir uma maioria, e lembrou apenas que BE e o PCP vão ser ouvidos pelo Presidente. O Bloco chegou logo de seguida a Belém. Catarina Martins tinha o discurso alinhado com o de Costa e só divergiu ao dizer que o acordo a que chegaram ainda não foi assinado, mas será conhecido nos próximos tempos. E assegurou que as três condições que o BE tinha colocado – acabar com o mecanismo conciliatório, desistir da TSU e com o congelamento das pensões – foram atendidas, não se sabendo se com gradualismo ou não. Ainda esta manhã uma delegação do PS e outra do BE estiveram reunidos no Parlamento para mais uma reunião técnica para acertar detalhes.
No final das primeiras três audições (PSD, PS e BE), o argumento de Costa e Catarina é simples: dizem que por um lado há um governo que tem apoio maioritário no Parlamento e que por outro há um governo que não tem condições de assegurar essa maioria. Mas perante este cenário, cabe sempre a Cavaco “decidir”, lembram.