A morte de Osama Bin Laden, há quatro anos, tornou-se inesperadamente tema de debate político e jornalístico nos Estados Unidos durante os últimos dias. A edição de domingo da revista do New York Times trazia como tema de capa a morte do terrorista mais odiado da América. O artigo, como o Observador explicou na terça-feira, levantava dúvidas sobre a versão oficial de como Bin Laden tinha sido assassinado em Abbotabad, no Paquistão. Sabe-se agora que a maneira como o tema foi abordado não foi consensual dentro do próprio New York Times. E o vice-presidente americano foi na terça-feira apanhado em contradição, ao fazer um relato do que se passou no dia da morte do terrorista diferente de outros que já fizera anteriormente — e diferente do que dizem Hillary Clinton e Barack Obama.
Num evento público na terça-feira à noite, Joe Biden afirmou que, quando chegou à Casa Branca a informação de que Bin Laden estaria no Paquistão — informação que não era totalmente certa –, ele disse a Barack Obama que achava que os Estados Unidos deviam fazer uma operação militar para capturar o terrorista. No entanto, essa não foi a versão que contou em 2012 e que foi corroborada pelo próprio Obama e por Hillary Clinton. Na altura, Biden afirmou que tinha dito exatamente o contrário ao presidente norte-americano.
A operação militar era muito arriscada, não só porque a informação dada pelos serviços secretos não era completamente fiável, mas também porque as autoridades paquistanesas não sabiam o que se ia passar. Barack Obama procurou, assim, aconselhar-se junto dos membros mais próximos do executivo. E se Clinton se mostrou desde logo favorável ao ataque, Biden manteve sempre reservas. Agora, o vice-presidente americano diz que publicamente teve essa posição, mas numa conversa privada com Obama teve outra, apoiando a operação.
A revelação de Biden surge numa altura em que ele está a ponderar avançar para a corrida presidencial, onde já está Hillary Clinton, mas também apenas dois dias depois do referido trabalho do New York Times, que mereceu constestação dentro do próprio jornal. Para lá de artigos críticos no Washington Post, na CNN e na Vanity Fair (este assinado por Mark Bowden, autor de um livro sobre a morte de Bin Laden, versão oficial), alguns jornalistas do NYT mostraram desconforto com a pergunta do artigo. “O que sabemos realmente sobre a morte de Bin Laden?”
Bastante, disseram alguns. Tanto que até houve uma espécie de conselho de redação para discutir o assunto, relata o Huffington Post. Os jornalistas que mostraram desconforto são da redação do New York Times em Washington, capital dos Estados Unidos, onde têm um contacto mais direto e privilegiado com as instâncias do poder. Estes profissionais consideram que o artigo da revista não adiantava factos novos suficientes para contrariar a história até agora conhecida. E queixam-se de o autor da peça, Jonathan Mahler, não ter falado com a redação de Washington, onde há diversos repórteres que passaram anos a fazer a cobertura dos esforços governamentais para capturar Bin Laden.