Osama Bin Laden morreu em maio de 2011. No primeiro dia desse mês, Barack Obama fez uma declaração televisiva a anunciar o abate do homem mais procurado do mundo, o terrorista que os Estados Unidos tinham aprendido a odiar a partir do 11 de setembro de 2001. A forma como Bin Laden morreu foi amplamente divulgada: um grupo de fuzileiros das Forças Armadas norte-americanas entrou numa casa em Abbotabad, no Paquistão, e após uma intensa troca de tiros, Bin Laden acabou por morrer. O corpo foi atirado ao mar. Esta foi a versão oficial. 

Mas nunca foi a única e, agora, o New York Times dá força à teoria de que as coisas não aconteceram exatamente como é retratado no filme 00:30 A Hora Negra, feito logo em 2012 com base em informações disponibilizadas pelo próprio governo americano. Num extenso artigo da revista publicada na semana passada, o New York Times questiona: “O que sabemos realmente sobre a morte de Bin Laden?”. Em maio deste ano, o jornalista de investigação Seymour Hersh publicou um artigo no London Review of Books onde punha em causa várias coisas. Desde logo o facto de ter sido a agência de segurança CIA a descobrir o paradeiro de Bin Laden — segundo Hersh, foi um funcionário dos serviços secretos paquistaneses que deu a informação aos Estados Unidos, a troco de uma quantia próxima dos 22 milhões de euros.

Ora, esta versão não só contraria o que tem sido dito, como retira muita importância à CIA nesta história. Agora, o New York Times explora as ideias lançadas por Hersh, dando voz a vários jornalistas de investigação reputados. O Paquistão sabia que Bin Laden estava escondido em Abbotabad e, aliás, manteve-o lá durante um longo período. Mais do que isso, o artigo defende que o Paquistão sabia que os Estados Unidos iam realizar a operação militar e terá mesmo ajudado os fuzileiros. 

Quando o artigo de Seymour Hersh no London Review of Books foi publicado, a imprensa dos Estados Unidos foi particularmente dura: o Vox elencou “os muitos problemas da teoria da conspiração”; a Slate publicou uma entrevista que mostrava um Hersh algo contraditório; a CNN mostrou sérias dúvidas à teoria do jornalista. O artigo na revista do New York Times parece agora reavivar o debate sobre esse episódio da história americana, mas também já mereceu resposta pronta.

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Um jornalista especializado em agências secretas do Washington Post escreveu um artigo em que descredibiliza o texto do New York Times, alegando que se sabe muito sobre a morte de Bin Laden. Onde o New York Times escreve:

“Não é que não se possa saber a verdade sobre a morte de Bin Laden. Nós é que não a conhecemos”

O Washington Post rebate:

“A realidade é que há um consenso notável entre governos antagónicos, agências de segurança sedentas de fama e organizações de media altamente competitivas relativamente aos factos mais importantes: que Bin Laden foi morto numa operação especial das Forças Armadas dos Estados Unidos, conduzida sem a cooperação nem o conhecimento do governo paquistanês, depois de uma década de caça ao homem.”

Parece certo que este ainda não é um capítulo fechado na história americana.