Na semana passada alguns dos portugueses inscritos no portal NetEmprego do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) foram alvos de uma fraude conduzida, alegadamente, por uma “máfia de Leste”. Segundo conta o Jornal de Notícias e o Dinheiro Vivo, na sua edição impressa desta quinta-feira, ainda não se conhece a dimensão real desta fraude. O jornal Público também dá conta do ocorrido.
Algumas das mais de 700 mil pessoas inscritas receberam uma mensagem de texto do remetente NetEmprego com uma oferta de trabalho para a qual deveriam responder para o e-mail pt@duparex.eu. Ora, este endereço remete para o site de uma suposta empresa de logística em Valongo com vários certificados. No entanto, na referida morada encontra-se uma simples bomba de gasolina.
Rui Encarnação, fundador e diretor do site NetEmpregos afirmou ao JN/Dinheiro Vivo que começaram a “receber queixas de pessoas que diziam que tinham recebido mensagens nossas, quando nós não pedimos os números de telefone das pessoas.” Mas a confusão vai para além dos números de telefone. É que o site fundado por Rui Encarnação não tem nada a ver com o portal do IEFP. A confusão terá sido originada devido à semelhança dos nomes (NetEmpregos/NetEmprego).
No entanto, o diretor do site criado em 2000, pegou nas queixas e denunciou o caso: “Pedimos que nos enviassem imagens das mensagens e os e-mails que receberam em resposta, com o contrato de trabalho proposto, e verificámos que se tratava de esquemas de grupos organizados do Leste que procuram angariar mulas de dinheiro.”
Este tipo de fraude está ligado aos fenómenos de ‘phishing’ — quando dados informáticos são roubados para desviar dinheiro, em transações online e às quais é associada uma “mula de dinheiro”. A “mula” é alguém que, com conhecimento ou não, se torna cúmplice de cibercrimes que têm como objetivo a lavagem de dinheiro proveniente, por exemplo, do acesso indevido a contas bancárias. Na prática, o autor do crime transfere o dinheiro para uma série de “mulas”, na maior parte dos casos coniventes e com conhecimento da fraude, oferecendo-lhes uma comissão para que transfiram, o mais rápido possível, o montante recebido para o criminoso. Ou seja, estas pessoas são recrutadas para guardar, temporariamente, o montante desviado das vítimas e para depois o transferir de volta. Assim, a transação passa a ser legítima e as autoridades enfrentam um obstáculo ao seguir o rasto do dinheiro e em identificar o autor do crime.
Rui Encarnação explicou ainda que denunciou este caso porque já há algum tempo que trabalhava “em conjunto com a PJ em casos deste género”, até porque “esses grupos já tinham tentado registar-se no nosso site, para colocar ofertas semelhantes.”
O IEFP bloqueou, na passada terça-feira, a pesquisa de currículos no site mas reabriu a mesma esta quarta-feira, explicando que “não foi detetada qualquer falha de segurança ou situação anómala no funcionamento” do portal netemprego.gov.pt. Para além disso uma fonte do IEFP esclareceu ao JN/Dinheiro Vivo que “os utilizadores têm a possibilidade de optar pela disponibilização pública ou privada da sua informação, item por item”, rejeitando assim qualquer responsabilidade na exposição dos dados utilizados no esquema fraudulento.
Aviso: O site netemprego.gov.pt publicou um aviso onde explica aos seus utilizadores que “todos os contactos com origem no IEFP são sempre efetuados através de SMS pelo número 12 689, ou, se o contacto for por email, este terá obrigatoriamente a extensão @iefp.pt”.
Polícia Judiciária já investiga caso
A Polícia Judiciária já confirmou que está a investigar o caso das “mulas de dinheiro” recrutadas no portal NetEmprego do IEFP.
Em declarações ao JN/Dinheiro Vivo e ao Público, uma fonte da PJ explica que “o modus operandi é sempre o mesmo. O portal do NetEmprego é mais uma forma de angariação de mulas. Normalmente, essas organizações tentam atrair pessoas com dificuldades económicas, em situações débeis. Já não é a primeira vez que são usados sites do Estado e SMS para angariar mulas.”
Este novo caso confirma o aumento de crimes deste género nos últimos anos. De acordo com o Relatório Anual de Segurança Interna, só no ano passado foram constituídas arguidas 464 pessoas por crime informático: 372 por burla e 50 por acesso indevido.