Entre as figuras que acorreram esta sexta-feira ao Palácio da Ajuda para a tomada de posse do novo Governo, havia seis caras mais sorridentes e que circulavam com ar descontraído. Eram os ministros que cessavam funções. No entanto, se havia satisfação pela “missão cumprida”, havia também receio pelo futuro. António Pires de Lima, de saída da pasta da Economia, considera que a “competitividade das nações nunca está garantida” e Paulo Macedo, que deixou a Saúde, sublinha que na oposição, ou seja, da esquerda, só vê medidas para destruir o que este Governo construiu.
O espírito geral de quem abandonou o Governo era de satisfação com o trabalho realizado nos últimos quatro anos. Este sentimento foi expresso por Paula Teixeira da Cruz ao Observador à saída da Ajuda, quando preferiu responder apenas “missão cumprida” quando se falava do futuro da Justiça. Já António Pires de Lima, ex-ministro da Economia, apelidou-se de “ator político que está a sair”, mas mostrou preocupação quanto ao desempenho de Portugal daqui para a frente. “Se não tivermos um caminho de exigência e de responsabilidade, tanto na economia como na política, podemos perfeitamente perder a competitividade que ganhámos”, avisou o centrista em declarações ao Observador.
Este é também o sentimento de Paulo Macedo que deixou a pasta da Saúde. “Precisamos de estabilidade e não podemos ter retrocesso. Não podemos ter um discurso de rejeitar medidas e não vermos uma única nova medida, não só na saúde, mas na educação e na justiça. Por parte da oposição não vemos uma única medida de construir, só vemos medidas para voltar atrás”, sublinhou o gestor ao Observador. Para Paulo Macedo, a sua missão “está cumprida”, mas na Saúde “haverá sempre imenso a fazer”. “Felizmente conseguimos resgatar o Serviço Nacional de Saúde e conseguimos melhorá-lo”, congratulou-se.
António Pires de Lima, Paula Teixeira da Cruz, Paulo Macedo, Miguel Poiares Maduro, Anabela Rodrigues e Nuno Crato cessaram esta sexta-feira funções no IXX Governo Constitucional, passando as pastas para os seus sucessores.
Daqui para a frente, outro caminho
António Pires de Lima abandonou as funções de CEO da UNICER para ir para o Governo e agora pretende parar durante os próximos meses. “Para já, vou parar. Estou a trabalhar há 30 anos de forma ininterrupta em projetos motivadores. Dei-me ao luxo de ficar durante quatro ou cinco meses sem saber o que vou fazer a seguir”, afirmou o ex-governante ao Observador. Para além das funções governativas, durante os últimos dois anos, Pires de Lima foi também uma das figuras com mais relevância política dentro do CDS.
“Seguramente devo regressar à minha vida empresarial, com muita energia e grande esforço para trabalhar pela economia em Portugal”, disse Pires de Lima.
Miguel Poiares Maduro voltou à vida académica logo após a tomada de posse do seu substituto, participando na tarde de sexta-feira numa palestra de abertura do ano letivo da Católica Global School of Law, na Universidade Católica. O tema foi “Democracia na Europa”. O ex-ministro-adjunto já tinha pedido a Passos Coelho para sair, pretendendo retomar a sua carreira académica de professor no Instituto Europeu de Florença, em Itália.