A Wine Spectator anda a habituar-nos mal. Se já em 2014 elegia o Dow’s Porto Vintage 2011 como o melhor vinho do mundo, um ano depois a prestigiada publicação volta a dar destaque aos vinhos nacionais. É certo que nenhum dos cinco néctares nacionais selecionados — cuja origem vai dos socalcos durienses às vinhas da Madeira — está no top 10 da tão aguardada lista, mas a distinção é, ainda assim, valiosa. E reforça a mensagem de que o que se bebe em Portugal é de qualidade e recomenda-se.
Por estes dias é notícia que o Porca da Murça tinto 2013, que nasceu em terras da Real Companhia Velha, é a proposta mais acessível (menos de 3 euros) entre a centena escolhida pela revista adorada por enólogos e enófilos. Mas há mais para dizer sobre este tinto que tanto cai bem na boca como na generalidade das carteiras. Sabia, por exemplo, que esta é uma das marcas mais antigas do país? O rótulo clássico pode ajudar a adivinhar o prestígio, mas talvez não os 85 anos que já leva em cima ou o facto de a marca quase centenária ter origem numa lenda da Vila de Murça, no Alto Douro Vinhateiro.
Como o nome deixa antever, a lenda prevê a existência de uma porca selvagem — uma javalina, portanto — que há muitos anos destruía as culturas ao redor da vila, atacando pequenos animais das redondezas. Caçá-la foi proeza e tarefa tão árdua que depois de o conseguirem os locais escolheram homenagear-lhe a astúcia: para tal, elevaram uma estátua à sua imagem e semelhança no centro da vila. Isto é, pelo menos, o que se pode ler no site da Real Companhia Velha, empresa que está no mercado dos vinhos há quase 260 anos e que tem mais de 500 hectares de vinhas próprias.
Mas além do Porca de Murça, que ocupa a 39º posição na referida lista, há outros quatro vinhos portugueses com direito a história própria:
16º – Taylor Fladgate Late Bottled Vintage 2009
Primeiro, convém não confundir um Porto Vintage com um Late Bottled Vintage — o primeiro estagia em madeira cerca de 20 meses, sendo depois transferido para a garrafa onde continua a envelhecer, enquanto o segundo é engarrafado mais tarde, pelo que permanece em madeira entre quatro a seis anos. Depois, o vinho em questão foi criado em 1970 pelo atual presidente da Taylor’s, de nome Alistair Robertson. O LBV tentou marcar a diferença no mercado ao surgir como uma alternativa de qualidade ao Porto Vintage — é uma proposta mais acessível, de consumo imediato e, garante a marca, pode ser bebido no dia-a-dia sem que isso exija chegar ao fim da garrafa. E, já agora, a Taylor’s foi criada há mais de três séculos — corria o ano de 1692 — e é, por isso, uma das mais antigas casas de comércio do vinho do Porto.
24º – Blandy’s Bual Madeira 2002
Ir à Madeira é um convite a dar de caras com montras de lojas dominadas pelos produtos da Blandy’s, mesmo quando o passo do turista é apressado e o olhar está vidrado na beleza natural da ilha. Acontece que a marca faz parte da mobília da casa, se assim se pode dizer. Data do início do século XIX, quando um tal de John Blandy, no auge dos seus 23 anos, assentou raízes no solo vulcânico da Madeira. Mas avancemos o relógio do tempo: o vinho em questão é feito a partir de uvas vindimadas num único ano e, diz a Garrafeira Nacional, pode envelhecer em barrica entre cinco a 18 anos. O Bual Colheita Madeira 2002 é um 100% Bual (nome da casta, que também se pode escrever ‘boal’) meio doce que, segundo os critérios da Wine Spectator, acumulou um total de 94 pontos.
Alguns dos vinhos Blandy's Madeira Wine nascem aqui, nos terrenos da Santa - Porto Moniz, a cerca de 500m de altura...
Publicado por Blandy's Wine Lodge em Sexta-feira, 2 de Outubro de 2015
25º – Quinta do Crasto Douro Superior tinto 2012
Não é um vinho fortificado mas nasceu das vinhas de um forte romano — pelo menos é o que significa a palavra em latim “castrum”, que deu origem ao nome de batismo Quinta do Crasto. A propriedade, que se estende ao longo de 130 hectares (70 deles cobertos de vinhas), é, à semelhança do que acontece com as grandes quintas na região do Douro, um projeto de família que tem passado de geração em geração desde há um século. Por aqui são produzidos vinhos do Porto, mas também várias categorias de vinho do Douro, como este Quinta do Crasto Douro Superior tinto 2012, que estagiou 12 meses em barricas de carvalho francês a mando do enólogo Manuel Lobo.
84º – Duorum Douro tinto 2013
O comunicado que chegou via e-mail às redações fala de um “vinho de cor vermelha profunda”, com um “aroma exuberante, fresco e complexo”. A isso acrescenta-se a presença de frutos maduros, como a amora ou a ameixa, e de aromas florais, com a violeta a servir de exemplo máximo. O Duorum faz parte de um projeto criado em 2007 a quatro mãos — as dos enólogos João Portugal Ramos e José Maria Soares Franco, que juntaram saberes e experiências para tirar partido do que de melhor aquelas regiões — Cima Corgo e Douro Superior — podem dar.