A Irlanda caminha para crescer mais do que a China este ano“. É esta a curiosa conclusão de Anthony Baert, economista do ING, na análise aos dados do crescimento irlandês divulgados nesta quinta-feira. A economia irlandesa cresceu no terceiro trimestre a quatro vezes o ritmo de crescimento médio na zona euro, com um crescimento homólogo de 7%. É uma “fénix renascida”, diz o Commerzbank.

O produto interno bruto (PIB) irlandês cresceu a uma taxa anual de 7% no terceiro trimestre, acima dos 6,8% (revistos) que tinha crescido no segundo trimestre (também em termos homólogos). Os economistas consultados pela Bloomberg nos últimos dias apontavam para um crescimento de 6%, pelo que os dados divulgados nesta quinta-feira superaram as expectativas.

No mesmo período, a economia da zona euro cresceu 1,6% e Portugal cresceu 1,4%. Numa altura em que os economistas assumem que o motor chinês terá dificuldades em crescer a um nível próximo dos 7%, a Irlanda soma e segue, sobretudo devido ao crescimento da procura interna e, em especial, do investimento.

Na comparação com o trimestre anterior, o PIB cresceu 1,4%, muito graças ao investimento – que contribuiu com 1,1 pontos percentuais para a taxa de crescimento. O consumo privado cresceu 0,7% no trimestre, contribuindo com 0,3 pontos percentuais para o crescimento. A despesa pública teve um peso relativo negativo pelo terceiro mês consecutivo, apesar de algumas medidas expansionistas lançadas pelo governo na aproximação às eleições do próximo ano, nota Anthony Baert.

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“A ilha está a surfar uma onda de investimento por parte de empresas multinacionais, o que aumenta a atividade hoje e fomenta o crescimento estrutural no longo prazo”, nota o economista do ING. “Além disso, o consumo está a subir apoiado na descida do desemprego e nos preços baixos do petróleo, ainda que [o consumo] esteja a crescer a um ritmo inferior” às outras componentes, acrescenta o economista do ING, em nota enviada aos clientes do banco holandês.

Irá este fulgor económico da Irlanda continuar? “Muito provavelmente”, acredita o economista. “Os indicadores avançados continuam a apontar para uma expansão ao ritmo atual. O investimento e o consumo deverão receber o apoio de uma maior despesa pública na antecipação às eleições na primavera. Graças às receitas fiscais elevadas, esta despesa pode ser feita sem prejudicar a redução do défice. Por outro lado, o aumento da procura interna implica que a contribuição das exportações poderá reduzir-se nos próximos anos, já que as importações podem começar a crescer a um ritmo mais elevado do que as exportações. Ainda assim, no horizonte está um futuro económico brilhante para este inesperado novo mercado emergente“.

Também o banco alemão Commerzbank está confiante de que o PIB da Irlanda deverá crescer 7% este ano e perto de 5% em 2016. A Irlanda, que o Commerzbank chama de fénix renascida, “está bem encaminhada para reduzir os seus grandes desequilíbrios orçamentais”.

“Até ao momento, tudo parece estar a correr bem para a Irlanda, mas o país continua vulnerável às dificuldades globais, sendo o maior risco para Dublin a possibilidade de Brexit“, ou seja, a saída do Reino Unido da União Europeia, aponta o economista Peter Dixon.