Mais de metade das empresas portuguesas que exportam bens para Angola só exportam para o mercado angolano, e, entre as restantes, grande parte está altamente dependente deste mercado, de acordo com o INE, numa altura em que a economia angolana enfrenta dificuldades. Exportações de bens para Angola caíram quase 30% nos primeiros nove meses do ano.

Era o maior mercado para as exportações portuguesas fora da União Europeia nos três primeiros trimestres do ano passado, mas a crise que se abateu sobre a economia angolana não só a fez passar para o segundo lugar – foi ultrapassada pelos Estados Unidos, para onde as exportações estão a crescer – como perdeu quase um quarto do valor, diz o INE, numa análise à exposição das empresas portuguesas aos principais mercados fora da União Europeia.

Angola é agora o sexto maior mercado fora da UE para as exportações portuguesas, mas continua a ser não só o mercado fora da União Europeia para o qual mais empresas portuguesas exportam (6.707 entre janeiro e setembro deste ano), como é, entre os 10 maiores fora da UE, do qual as empresas portuguesas estão mais dependentes.

Segundo o INE, mais de metade (53,7%) das empresas portuguesas que vendem bens a Angola só exportam para este mercado. Esta percentagem até caiu, mas não muito, registando um decréscimo de apenas 1,8 pontos percentuais.

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O caso é mais preocupante quando se olha para as empresas que exportam pelo menos metade dos seus bens apenas para Angola. Segundo o INE, 72,6% das empresas portuguesas que exportam bens para Angola concentram mais de metade dos bens que vendem para o estrangeiro no mercado angolano, e estas vendas correspondem a 73,1% das vendas totais ao país liderado por José Eduardo dos Santos.

O impacto nas exportações portuguesas é significativo: as exportações das empresas portuguesas para Angola caíram 641,4 milhões de euros nos três primeiros trimestres deste ano, em comparação com igual período de 2014, a maior queda ente os 10 principais mercados fora da União Europeia este ano. Há menos 1485 empresas a exportar bens para Angola, passando de cerca de 8200 para cerca de 6700.

A elevada dependência do mercado angolano tem criado várias dificuldades, numa altura em que a economia angolana atravessa um período de turbulência. A queda nos preços do petróleo, do qual muito dependem as finanças públicas angolanas e a sua economia, e o abrandamento no crescimento chinês têm deixado Angola em dificuldades, aumentando os custos de financiamento no país. Na linha da frente das empresas que mais sofrem estão as exportadoras portuguesas.

O Banco de Portugal assume, mesmo, que a queda nas exportações para Angola seja permanente e diz que a crise no mercado angolano está a impedir ganhos maiores da economia portuguesa com a queda do euro e a baixa nos preços do petróleo.

Os bens que as empresas portuguesas exportam para Angola são bastante diversificados e vão desde máquinas a produtos alimentares, medicamentos e outros bens dentro da classe dos enchidos, por exemplo, mas isso não impede a elevada dependência deste mercado.

Outro dos mercados que tem sido afetado por uma crise é o Brasil. As empresas portuguesas exportam principalmente bens associados ao chamado “mercado da saudade”, como explica o INE, como azeite, vinho e bacalhau para o Brasil, e as receitas terão caído cerca de 20 milhões de euros, para 409,9 milhões de euros, com menos 71 empresas a vender bens para aquele que é o 12.º maior mercado para as empresas portuguesas, o quinto maior fora da União Europeia.

O Brasil é outro dos mercados do qual as empresas portuguesas que exportam bens para este país estão muito dependentes. Segundo o INE, quase um terço das empresas que exportam bens para o Brasil vendem mais de metade dos seus produtos para este mercado e estas são responsáveis por mais de metade das receitas das vendas de bens de empresas portuguesas para o Brasil.