“É uma experiência libertadora – não termos barreiras para fazermos o que queremos.” A conversa começou com os habituais constrangimentos de quem tem filhos pequenos, acabou com alusões à liberdade. José Bastos, 40 anos, trabalhou durante 17 na Sonae, depois de se ter licenciado em Gestão pela Faculdade de Economia do Porto. Pelo meio, já tinha tentado avançar com um negócio próprio com Pedro Vieira e Moreira que até já tem uma patente registada. Não passou do Power Point. Anos depois, uniram-se e com mais sete pessoas lançaram a Knok, a aplicação que serve para ligar médicos e pacientes em tempo real.

Imagine que está em casa, com dores de garganta, tosse e 38ºC de febre. Os chás e anti-inflamatórios ajudam, mas não curam, e está a apetecer-lhe tudo menos levantar-se, vestir-se, pegar no carro e ir até ao hospital mais próximo. Se tiver instalado a Knok no seu smartphone, pode escolher um dos médicos disponíveis na aplicação, que vão ter consigo até onde estiver, através de um sistema GPS. Se quiser pedir um médico para um sítio diferente daquele onde se encontra, também pode – basta indicar a morada correta. (Imagine que em vez de si é o seu pai que se está a sentir mal. Pode utilizar o seu smartphone para pedir um médico para ele.)

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Na aplicação que José Bastos lançou para sistema operativo iOS, há médicos de várias especialidades disponíveis a qualquer hora do dia. O pagamento da consulta, que em Lisboa está a oscilar entre 60 e 100 euros e no Porto entre 60 e 80, é feito na própria app e se tiver contrato com alguma seguradora de saúde, basta introduzir essa informação no seu perfil. A equipa da Knok trata depois do reembolso. O paciente não paga nenhum valor acrescido pela consulta – o médico é que entrega uma parcela da quantia à Knok.

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“Já falámos com cerca de 150 médicos. Neste momento, estão na plataforma 50. A nossa estimativa é de que um médico ganhe cinco a seis vezes mais na nossa app, em comparação com aquilo que ganha num hospital. Para os médicos, a proposta de valor é muito atrativa”, explicou ao Observador José Bastos.

A ideia surgiu depois de José ter ido três vezes com um dos filhos às urgências. Nenhum dos médicos descobria o que tinha, até que o veredicto chegou: era uma virose. “O terceiro médico foi o único que conseguiu fazer o diagnóstico correto, porque foi o único que esteve atento às explicações que estávamos a dar”, conta. Foi então que, em conversa com o Pedro, percebeu que bom, bom era poder ter um serviço que lhe dissesse, naquela hora, que médicos estavam disponíveis e onde.

“Um dia, eu e o Pedro estávamos a almoçar num restaurante, a falar sobre isto. Porque ele também tem três filhos pequenos e tinha tido um problema semelhante ao meu. E pensámos que bom era uma pessoa conseguir ser sempre visto pelo mesmo médico quando vai ao hospital. Melhor, porreiro era que o médico viesse ter connosco quando precisamos”, conta. “Porque levar miúdos pequenos para uma sala de espera de um hospital e tê-los lá à espera é horrível”, diz.

Começaram a pesquisar no mercado e não havia ninguém a prestar esse serviço. Trabalhava na Sonae há 17 anos, mas acabou por sair e passou a dedicar-se em exclusivo a esta ideia. Com capitais próprios, avançaram, e a equipa cresceu para nove pessoas. Os planos, agora, passam por encontrar investidores. Precisam de cerca de 500 mil euros para lançar a versão da Knok para sistema operativo Android, chegar a mais utilizadores e a mais cidades: Braga, Coimbra e Aveiro. E se tudo correr como planeado, porque não Madrid, Barcelona e Londres? “Temos recebido vários emails de médicos espanhóis, que conhecem o serviço pelo Facebook ou pelo nosso site”, diz.

Além de quererem aumentar a base de utilizadores, a equipa da Knok também quer evoluir a plataforma tecnológica, para que seja possível criar um sistema de reservas de consultas, uma espécie de lista de espera. “Algo que permita que o paciente diga ao médico, quando este não está disponível, ‘quando puderes, vem aqui'”, conta. Sobre a experiência “libertadora” que está a ser lançar a Knok, em comparação com os 17 anos que trabalhou por conta de outrem, José Bastos diz que as contas falam por si. “Nos últimos dois meses, ando a dormir, em média, quatro horas e meia por noite. Nem dou por ela e não preciso de beber café”, afirmou.

*Tive uma ideia! é uma rubrica do Observador destinada a novos negócios com ADN português.