Os resultados eleitorais espanhóis do último dia 20 de dezembro iniciaram um período de impasse político e levaram à construção de uma série de possíveis cenários de pactos de forma a conseguir uma maioria estável que permitia a formação de um novo governo. A bola neste momento está do lado do PSOE, e o seu líder, Pedro Sánchez, já garantiu que não vai viabilizar a posse de Mariano Rajoy. Ou seja o socialista abriu as portas aos partidos à sua esquerda para um acordo de governo. Mas esta tomada de decisão está a dividir o próprio partido.

A primeira razão da divisão do partido foi a interpretação que o seu líder deu aos resultados eleitorais. Na prática, os socialistas perderam um milhão e meio de votos, mas Sánchez considerou a votação “aceitável”. O número dois do partido, César Luena defendeu que “os espanhóis votaram pela mudança à esquerda, e nós vamos traduzir essa mudança no [nosso] voto”, antes de garantir que “o PSOE agirá com prudência e responsabilidade e é o PP quem deve tentar formar um governo. Mas o PSOE vai votar ‘não’ ao governo de Mariano Rajoy.” Ou seja estava dada a primeira aprovação à decisão do líder em rejeitar o governo do PP. Mas a opinião está longe de ser unânime.

Apesar de o PSOE só ter sido o partido mais votado nas regiões da Andaluzia e na Estremadura, os representantes dos partidos nessas zonas fazem uma interpretação diferente dos resultados gerais. Como diz o jornal El Espanol, os líderes regionais socialistas são uma parte importante nas decisões partidárias e estes estavam já preparados para defender a saída de Sánchez em caso de derrota no sufrágio.

A escolha por recorrer ao diálogo com o Podemos e outros pequenos partidos à esquerda fez soar mais alto os alarmes nestes dirigentes. Guillermo Fernández Vara, secretário-geral do Partido na Estremadura, avisou que o PSOE “não pode alcançar pactos com ninguém que defenda a independência da Catalunha ou a autodeterminação das regiões de Espanha”, numa clara alusão ao partido liderado por Pablo Iglesias.

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“Nós não vamos procurar pactos complexos nem pastiches de nenhum tipo. O que vamos tentar é que Rajoy tente formar governo”, afirmou Emiliano García-Page, secretário-geral do PSOE na comunidade de Castilla-La Mancha ao El Espanol.

Susana Díaz, dirigente da Andaluzia, também tomou uma posição sobre a matéria durante a intervenção na reunião do grupo parlamentar socialista, avança a imprensa espanhola. Segundo Díaz, “para recuperar a credibilidade, não nos podem ver como um partido que andamos em aventuras, de aventurismo político, não nos podem ver como um partido de oportunismo”. Ou seja para isso é necessário, na opinião da dirigente, que o partido tenha “calma” e que compete ao PP formar governo.

União Europeia apela à estabilidade

Também a União Europeia está a atenta aos desenvolvimentos políticos em Espanha. E daqui partem também apelos de moderação e procura pela estabilidade.

Como conta o El Espanol, um porta-voz da chanceler alemã Angela Merkel revelou que esta, confrontada com a fragmentação da votação do último dia 20 e do consequente impasse, não sabia sequer quem devia felicitar e prefere esperar que comecem as negociações para retirar conclusões. Já o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker pediu um governo “estável” em Espanha.

Este é o conceito fundamental para Bruxelas. As instituições urgem por uma solução estável para reduzir o défice público e para completar as reformas económicas de maneira a baixar a taxa de desemprego em Espanha. Ao contrário de Merkel, Juncker não perdeu tempo e enviou uma carta de felicitações a Mariano Rajoy afirmando que “apesar das dificuldades, espero que o processo que agora começa, permita a formação de um governo estável que continue a trabalhar e a cooperar com as instituições e parceiros europeus”, cita o mesmo jornal.