A Unitel quer comprar 10% do capital social do Banco de Fomento Angola (BFA) e apresentou à administração do BPI uma proposta, datada de 31 de dezembro de 2015, em que oferece 140 milhões de euros pela posição que ambiciona. A empresa dominada pela empresária angolana Isabel dos Santos detém, atualmente, 49,99% da instituição financeira que opera no mercado angolano e, caso a proposta, válida até ao final de janeiro de 2016, venha a ser acolhida pelo BPI, proprietário de 50,1%, a Unitel passará a controlar os destinos do BFA.
O comunicado da Unitel, divulgado neste domingo no site da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), é acompanhado de uma carta em que a empresa de Isabel dos Santos reafirma a discordância quanto aos planos da gestão do BPI, liderada por Fernando Ulrich, de proceder à cisão dos negócios do banco em Angola e em Moçambique. A matéria em causa vai ser analisada pelos acionistas da instituição financeira numa assembleia geral que está marcada para 5 de fevereiro e de que a Unitel lamenta ter tomado conhecimento através dos jornais, pode ler-se na missiva dirigida à administração do BPI.
Os termos da proposta da Unitel antecipam a forma de pagamento dos 140 milhões de euros. No momento da transação dos títulos, a empresa compromete-se a pagar 50 milhões de euros. Até 12 meses após a transmissão dos 10% do capital do BFA, serão entregues mais 30 milhões de euros, seguindo-se o pagamento de idêntica quantia até 24 meses após a mudança de mãos das ações objeto da proposta. Os 30 milhões remanescentes serão pagos até 36 meses após a concretização da operação e os valores envolvidos nas três últimas prestações serão atualizados à taxa Euribor a um ano.
Com o projeto de cisão simples, o objetivo da equipa de gestão do BPI é o de entregar aos acionistas a maioria do capital do BFA, além de outros interesses que detém no setor financeiro em África, de modo a respeitar as exigências do Banco Central Europeu (BCE) que implicam a redução da concentração de riscos ao Estado angolano, referiu a Lusa. Mas, para que tal seja possível, no caso específico do BFA, o banco português necessita do acordo da Unitel, devido ao acordo parassocial estabelecido entre os dois parceiros e que permanece em vigor.
Com esta iniciativa, a Unitel pretende colocar um ponto final nas divergências sobre o futuro do BFA, tema que tem provocado azedume nas relações entre a gestão do BPI e Isabel dos Santos, filha do presidente de Angola, José Eduardo dos Santos. Na carta revelada, assinada por Diogo Santa Maria, gestor da Unitel, a má atmosfera entre os dois investidores que controlam o banco angolano fica clara. O responsável da empresa angolana acusa a administração do BPI de comportamento “desrespeitoso” durante o processo de negociação que culminou com a aprovação da cisão, solução rejeitada pelos parceiros angolanos do BPI.