Senhoras e senhores, let’s get ready to rumbleeee! A sete dias das eleições presidenciais, as coisas à esquerda aqueceram. E bem. Maria de Belém Roseira e António Sampaio da Nóvoa disputam uma parte significativa do mesmo eleitorado e sonham ambos com uma passagem à segunda volta. Mas só um pode passar – se passar – para enfrentar Marcelo Rebelo de Sousa no derradeiro round. Os dois sabem disso e não se têm poupado nos últimos dias, secundados pelos seus apoiantes.

A bem do rigor, as coisas sempre estiveram quentinhas no lado do ringue onde se senta Maria de Belém. A estratégia da socialista tem sido clara: eleger Marcelo Rebelo de Sousa como principal adversário, ao mesmo tempo que ataca Sampaio da Nóvoa sem dó, nem piedade. Sem dó, nem piedade, mas sem nunca nomear o ex-reitor da Universidade de Lisboa. Não há publicidade gratuita e Maria de Belém insiste que não fala sobre os outros candidatos. Não fala, mas vai traçando um retrato que só se pode encaixar em Sampaio da Nóvoa.

Para Belém, Nóvoa é o “falso profeta” que anuncia aos portugueses que vem salvar o país, quando, na verdade, esteve sempre afastado das grandes causas. Nóvoa é “o messias” que se diz acima dos partidos, mas que “gosta deles” quando “é para ganhar eleições”. Nóvoa é o homem que quer ser Presidente e que ainda não percebeu o papel do Presidente. Nóvoa é o “mestre da retórica” e o “malabarista das palavras” que promete este mundo e o outro. Nóvoa é o candidato do percurso nulo e do “sobressalto” repentino. Quem é? Onde andou escondido? O que pensa? O que fez? O que vai fazer? Ninguém sabe, porque Nóvoa é sinónimo de “vazio”, vai repetindo a cada dia a ex-presidente do PS. Maria disse tudo isto sem nunca se referir a Sampaio da Nóvoa. Mas disse-o.

O que mudou, então, nestes dois últimos dias de campanha? Mais do que o tom dos ataques a António Sampaio da Nóvoa, foi a forma como Maria de Belém e os seus principais apoiantes começaram a apelar, abertamente, ao voto do eleitorado socialista e a criticar as estruturas do PS.

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No jantar-comício de domingo, em Arcos de Valdevez, Maria de Belém deu o seu grito do Ipiranga. “A candidata socialista sou eu. Eu estive lá [sempre que o PS precisou]. Estive na Alameda, estive em todas as grandes lutas do PS, estive na escolha dos vários secretários-gerais, uma vez de um lado, uma vez do outro. E foi isso que fez do PS um
grande partido”. Na galeria de honra socialista está ela, não Sampaio Nóvoa, vai lembrando.

Esta segunda-feira, depois da visita à Salsicharia Tradicional Bísaro, em Bragança, ex-presidente do PS foi mais longe e fez o partido em picadinho. “Era o que faltava ser mais importante apoiar independentes” do que militantes do PS. Não posso ser considerada como menos digna” do apoio do PS por “ser militante socialista”. Maria de Belém esteve sempre com o PS e exige respeito.

Só que o PS – ou, pelo menos, uma parte muito significativa do PS – não está com Maria de Belém. No arranque da campanha esse era o elefante na sala de que ninguém queria falar. Mas não havia mobilização, não havia jotinhas, não havia bandeiras, nem gritos de apoio. Não havia pompa e circunstância por onde Maria de Belém passasse. Em resumo, não havia máquina socialista porque a máquina socialista estava longe, com António Sampaio da Nóvoa.

E de elefante na sala isso passou a ser uma evidência reconhecida até pela própria. Se há “mobilização de centenas e milhares de pessoas” é porque está lá o dedo da máquina, admitiu esta segunda-feira socialista. Antes, já Manuel Alegre e Vera Jardim, apoiantes da antiga ministra da Saúde, tinham denunciado aquilo que acreditam ser o apoio mascarado do PS à candidatura de António Sampaio da Nóvoa. Assim é “batota”, criticaram os dois.

Com batota ou não, Maria de Belém não parece disposta a desistir e vai desferindo golpes cada vez mais violentos. Do outro lado a resposta tem sido diferente.

De todos e para todos, Nóvoa deixa Maria a falar sozinha

Já o disse e repetiu vezes sem conta na última semana. Quer o apoio de todos, gosta do apoio de todos, quer ser o Presidente de todos. António Sampaio da Nóvoa tem sabido esquivar-se às críticas de Maria de Belém Roseira, afirmando que só tem dois adversários nesta corrida: Marcelo e a abstenção. O professor universitário quis voltar a sublinhar isso mesmo esta segunda-feira, depois de uma visita aos Bombeiros de São Pedro de Sintra. “Sou candidato de muitas áreas, também da área socialista”, começou por dizer. Mas depois lá lhe fugiu um bocadinho a boca para a boca: “Eu não me engano no adversário. Eu pessoalmente não me tenho enganado nos meus alvos.” E, por isso, seguiu logo para o ataque a esse adversário, sempre presente, Marcelo.

À noite, porém, como não dava para fugir mais ao tema, Nóvoa abordou-o. Em vez de se atirar à lama para dar gás a uma luta à esquerda, preferiu afastar-se da polémica. Não sem um pontapé. “Não faço esta campanha contra ninguém”, disse o candidato, que criticou Belém (sempre sem dizer o nome dela) por fazer um “favor ao candidato apoiado pelos partidos da direita”. Esse é que ele quer derrotar, esse é o grande objetivo. “Não me desvio um milímetro desta prioridade”, atirou Sampaio da Nóvoa, que quis pôr uma pedra sobre o assunto. “Recuso-me a perder tempo em ataques fraticidas.” Ponto final?