Matthieu Ricard considera a designação “homem mais feliz do mundo” um exagero dos media. Mas é assim que este monge budista de origem francesa, atualmente com 69 anos, é conhecido. Filho do escritor e filósofo Jean-François Revel, Ricard doutorou-se em genética celular nos anos 70 antes de abdicar de uma promissora carreira científica em prol da meditação e do budismo. Mudou-se para os Himalaias, foi guiado pelos maiores mestres da religião, tornou-se muito próximo do Dalai Lama, de quem é tradutor, e, anos mais tarde, voluntariou-se para um estudo de longo prazo (12 anos) coordenado por um neurocientista da Universidade de Wisconsin, Richard Davidson, sobre os efeitos da meditação no cérebro. Os resultados foram surpreendentes, como se pode ler no Business Insider:

As imagens do cérebro mostraram que ao meditar sobre compaixão, o cérebro de Richard produz um nível de ondas gamma — as que estão ligadas à consciência, atenção, aprendizagem e memória — ‘nunca antes relatadas em literatura neurocientífica’, afirmou Davidson.”

Mais: as mesmas imagens mostraram que o seu córtex pré-frontal do lado esquerdo denotava um excesso de atividade quando comparado com o seu congénere do lado oposto. Ou seja, provou-se que Ricard possui uma capacidade invulgar para produzir aquilo que, cientificamente, se pode entender por felicidade e que, por outro lado, demonstra uma tendência reduzida para pensamentos negativistas. Daí que o epíteto “homem mais feliz do mundo” tenha pegado.

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Nos últimos anos, quando não está a meditar — e, garante, é capaz de o fazer durante dias sem se aborrecer — Matthieu Ricard envolve-se em projetos humanitários, escreve, dá palestras e fotografa os cenários que o rodeiam. Também é uma pessoa bastante ativa nas redes sociais: afinal, elas são um método tão válido como qualquer outro para espalhar felicidade. Marcou presença no recente Fórum Económico Mundial, em Davos, e foi aí que decidiu partilhar três conselhos úteis para que qualquer pessoa seja feliz. Ou, pelo menos, mais feliz.

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Parar de pensar “eu, eu, eu”

Para Ricard, a resposta — ou parte dela — está nos pensamentos altruístas. Pensar sobre nós próprios e como tornar tudo melhor individualmente a toda a hora é cansativo, stressante e acabará por levar à infelicidade. “Não tem a ver com razões morais”, explicou ao Business Insider. “Simplesmente, pensar em nós próprios o dia inteiro leva a que se instrumentalize o mundo inteiro como uma ameça ou como objeto de interesses”.

Quem deseja ser feliz deve apontar, segundo Ricard, à “benevolência”. Isso não significa, contudo, que se deve deixar outras pessoas aproveitar-se dela própria. Não, deve apenas tentar-se ser generoso e benevolente com frequência, de forma razoável. “Se a vossa mente estiver preenchida com benevolência, paixão e solidariedade esse é um estado de espírito muito saudável, que leva à prosperidade. Automaticamente ficarão num estado mental muito melhor. O vosso corpo ficará mais saudável, como está provado.”

Treinar a mente como se trenaria o corpo para uma maratona

Ricard acredita que toda a gente tem a capacidade de tornar a sua mente mais leve. Não só isso, mas acredita que todos os seres humanos têm potencial de serem ou se tornarem bondosos. Mas tal como um maratonista precisa de treinar antes de se fazer à estrada, quem procura ser feliz precisa de exercitar a mente. A melhor forma? Meditação.

Com treino mental conseguimos fazer subir o nosso nível de felicidade. É como correr. Se treinar sou capaz de correr uma maratona. Talvez não me torne campeão olímpico mas há uma diferença enorme entre treinar e não treinar. Porque não aplicar isso à mente? Acredito que a benevolência, a atenção, o equilíbrio emocional e a resiliência são aptidões que podem ser treinadas. Juntando todas elas pode dizer-se que a felicidade também é uma aptidão que pode ser treinada.”

Investir 15 minutos por dia em pensamentos felizes

A melhor forma de começar a treinar a predisposição da mente para a felicidade é esta: “Chegam 10 a 15 minutos por dia de pensamentos felizes”, diz Ricard. Normalmente, quando sentimos felicidade e amor são momentos fugazes, porque depois algo acontece e passamos para o pensamento seguinte. Em vez disso, o truque é concentrarmo-nos em não deixar a mente distrair-se e continuarmos focados nas emoções positivas durante os minutos seguintes.

Quem fizer isso todos os dias conseguirá sentir melhorias ao fim de duas semanas, garante o especialista. E, quem sabe, fazê-lo durante meio século, como Ricard, pode levar alguém a tornar-se, como ele, um profissional da felicidade. Os neurocientistas concordam: Richard Davidson conclui no seu estudo que 20 minutos de meditação diária aumentam, de facto, os níveis de felicidade.