Incontáveis imagens e vídeos de Leonardo DiCaprio encheram a Internet na madrugada de domingo para segunda-feira. Parecia que o mundo inteiro se tinha unido para vê-lo chegar ao palco do Dolby Theatre, em Hollywood, e agarrar finalmente no Óscar de Melhor Ator. Após cinco nomeações, DiCaprio conseguiu a estatueta graças ao desempenho em “The Revenant: O Renascido”. O filme de Alejandro González Iñarritú somou três Óscares, mas a grande surpresa ficou reservada para o último momento da noite: “O Caso Spotlight” venceu dois Óscares, um deles o mais importante da Academia, o de Melhor Filme (o outro, muito antes na cerimónia, foi o de Melhor Argumento Original).
Se fãs de todo o mundo tinham pequenas explosões de entusiasmo, DiCaprio contrastava pela calma. Subiu as escadas sorridente, agradeceu à equipa com quem trabalhou, à família e aos ensinamentos que foi tendo de Martin Scorsese ao longo da sua carreira e dos vários filmes que já fizeram juntos. No final, ainda aproveitou a oportunidade para chamar a atenção para o aquecimento global. “As alterações climáticas são reais e estão a acontecer agora. Estão a ameaçar as nossas espécies. Precisamos de parar de adiar e de apoiar os nossos líderes”, disse.
Já lá vão 22 anos desde que o nome de Leonardo DiCaprio foi votado pela primeira vez pelos membros da Academia, a propósito da estreia mais a sério no cinema em “Gilbert Grape”. Hoje com 41 anos, teve de lutar com um urso, ser quase enterrado vivo, ser baleado e esfaqueado e até cair de cavalo de um penhasco no filme “The Revenant: O Renascido“, que lhe valeu, enfim, o reconhecimento dos seus pares.
Se toda a Internet parecia unida pela eleição de DiCaprio como Melhor Ator, as previsões sobre qual seria o Melhor Filme eram mais complicadas. Nos prémios Directors Guild, o melhor filme foi “The Revenant: O Renascido”, assim como para os Bafta e os Globos de Ouro. Para o Producers Guild o melhor filme foi “A Queda de Wall Street” e o Actors Guild preferiu “O Caso Spotlight”. Um problema se punha: Alejandro González Iñárritu já tinha vencido quatro estatuetas no ano passado, entre os quais a de Melhor Realizador e Melhor Filme por “Birdman”. Dificilmente sairia consagrado outra vez.
“Tenho muita sorte por estar aqui esta noite, nem todos tiveram essa sorte”, disse o mexicano, na altura em que o seu nome foi dito no Dolby Theatre na categoria de Melhor Realizador. O mexicano é apenas o terceiro a ganhar dois Óscares de Melhor Realizador seguidos. Antes dele, só John Ford e Joseph Mankiewickz tinham conseguido.
Desde 2006 que o vencedor nesta categoria levava também para casa a estatueta dourada de Melhor Filme. A última vez que tal não aconteceu foi com “Colisão” e “O Segredo de Brokeback Mountain”. Mas parece que ainda há surpresas em Hollywood. Às cinco da manhã, Morgan Freeman abriu o envelope com o nome do Melhor Filme de 2015 e anunciou “O Caso Spotlight”. A história verídica de uma investigação jornalística que expôs o abuso de menores por padres de Boston, realizada por Tom McCarthy, deixou para trás “A Queda de Wall Street”, “A Ponte dos Espiões”, “Brooklyn”, “Quarto”, “Mad Max: Estrada da Fúria”, “Perdido em Marte” e “The Revenant: O Renascido”.
Mad Max: Fúria, mas só nas categorias técnicas
“Mad Max: Estrada da Fúria” começou lançado: das 10 nomeações com que começou, cedo conseguiu seis vitórias. Tantas que, quando Louis C.K. foi chamado ao palco para entregar o Óscar de Melhor Curta Documental, brincou: “Mad Max”, só depois corrigindo para o verdadeiro vencedor, “A Girl in the River: The Price of Forgiveness”. Problema: eram todas em categorias técnicas, o que dava a entender que não venceria em nenhuma das categorias principais. Foi o que aconteceu. “The Revenant — O Renascido”, que partiu à frente com 12 nomeações, terminou a noite com três: para além de melhor realizador e ator, ganhou a Melhor Fotografia pelo trabalho de Emmanuel Lubezki. Foi a terceira vez consecutiva que o mexicano conquistou a mesma estatueta e já esteve nomeado oito vezes, qual Meryl Streep da fotografia.
Patricia Arquette, que no ano passado venceu na categoria de Melhor Atriz Secundária, entregou a estatueta dourada de Melhor Ator Secundário a Mark Rylance, pelo papel de Rudolf Abel no filme “A Ponte dos Espiões“. Na ala feminina temos duas estreias nestas andanças e duas vitórias à primeira. Brie Larson, em cuja crítica elogiamos a prestação “estupenda” no filme “Quarto“, foi a Melhor Atriz de 2015. Alicia Vikander também chegou, viu e venceu o Óscar de Melhor Atriz Secundária pela sua interpretação em “A Rapariga Dinamarquesa”.
“O Filho de Saul”, história sobre os sonderkommando dos campos de concentração nazis que estreou recentemente nos cinemas portugueses, levou o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro. Para o Chile foi o Óscar de Melhor Curta de Animação. O filme “Bear Story” já tinha ganho um prémio no IndieJúnior, em Lisboa.
Óscares brancos, cerimónia branda
Chris Rock entrou de smoking branco para, como já se previa, fazer piadas com a falta de representatividade dos profissionais afroamericanos. A primeira foi chamar aos Óscares os prémios BET (Black Entertainment Television) para brancos. Já no ano passado, o apresentador Neil Patrick Harris entrou com a seguinte piada em palco: que os Óscares iriam premiar “the best and the whitest — sorry — brightest”. Chris Rock não se ficou por aí, lembrando também a diferença entre o número de negros mortos pela polícia face aos brancos, e até ironizou que houvesse categorias específicas para atores negros, como há para as mulheres. Os aplausos e risos foram-se tornando mais nervosos. É que na plateia também não havia tantos negros quanto isso.
Sam Smith protagonizou o primeiro momento musical da noite com “Writing’s On The Wall” e foi sofrível. O cantor britânico bateu os Radiohead no “concurso” para dar tema ao último filme da saga James Bond, “Spectre” e voltou a bater os concorrentes, ao vencer a estatueta dourada de Melhor Canção Original. Mas a interpretação ao vivo foi desafinada. Sem surpresas, Ennio Morricone venceu na categoria de Melhor Banda Sonora Original, pela composição para “Os Oito Odiados”. O italiano, que agradeceu na língua mãe, já tinha ganho um Óscar Honorário em 2007 e somava já seis nomeações.
Radiohead’s rejected Bond theme is the gift Spectre never gave us: https://t.co/7gdxEfBg7w #Oscars pic.twitter.com/80ZY5MNjtW
— Slate (@Slate) February 29, 2016
Não houve grandes momentos para mais tarde recordar. Quando chegou o momento In Memoriam, que recorda os artistas falecidos em 2015, muitos portugueses estiveram atentos para confirmar se Manoel de Oliveira seria lembrado. Não foi. No global, o espetáculo seguido por milhões de pessoas em todo o mundo valeu pela aparição dos Minions, de Buzz Lightyear e Woody (Toy Story) e dos robôs de “Star Wars” R2-D2, C-P30 e BB-8.
Lista completa de vencedores dos Óscares 2016
Melhor Atriz Secundária
Jennifer Jason Leigh em “Os Oito Odiados”
Rooney Mara em “Carol”
Alicia Vikander em “A Rapariga Dinamarquesa” – vencedora
Kate Winslet em “Steve Jobs”
Rachel McAdams em “Spotlight”
Melhor Ator Secundário
Christian Bale em “A Queda de Wall Street”
Mark Ruffalo em “O Caso Spotlight”
Mark Rylance em “A Ponte dos Espiões” – vencedor
Sylvester Stallone em “O Legado de Rocky”
Tom Hardy em “O Renascido”
Melhor Atriz
Cate Blanchet em “Carol”
Brie Larson em “Quarto” – vencedora
Charlotte Rampling em “45 Anos”
Saoirse Ronan em “Brooklyn”
Jennifer Lawrence em “Joy”
Melhor Filme
A Queda de Wall Street
A Ponte dos Espiões
Brooklyn
Mad Max: Estrada da Fúria
Perdido em Marte
O Renascido
O Caso Spotlight – vencedor
Quarto
Melhor Realizador
Adam McKay por “A Queda de Wall Street”
George Miller por “Mad Max: Estrada da Fúria”
Lenny Abrahamson por “Quarto”
Alejandro G. Iñarritú por “O Renascido” – vencedor
Tom McCarthy por “O Caso Spotlight”
Melhor Ator
Bryan Cranston em “Trumbo”
Matt Damon em “Perdido em Marte”
Michael Fassbender em “Steve Jobs”
Leonardo DiCaprio em “O Renascido” – vencedor
Eddie Redmayne em “A Rapariga Dinamarquesa”
Melhor Argumento Original
Ex Machina
A Ponte dos Espiões
Divertida-mente
O Caso Spotlight – vencedor
Straight Outta Compton
Melhor Argumento Adaptado
A Queda de Wall Street – vencedor
Perdido em Marte
Brooklyn
Carol
Quarto
Melhor Filme de Animação
Anomalisa
Divertida-mente – vencedor
A Ovelha Choné
Boy and The World
When Marnie Was There
Melhor Filme Estrangeiro
Embrace of the Serpent (Colômbia)
Mustang (França)
O Filho de Saul (Hungria) – vencedor
Theeb (Jordânia)
A War (Dinamarca)
Melhor Documentário
What Happened, Miss Simone?
Winter on Fire
Cartel Land
The Look of Silence
Amy – vencedor
Melhor Canção Original
“Earned It” de “As 50 Sombras de Grey”
“Manta Ray” de “Racing Extinction”
“Simple Song #3” de “A Juventude”
“Til It Happens To You” de “The Hunting Ground”
“Writing’s On The Wall” de Spectre – vencedora
Melhor Banda Sonora Original
“Carol” (Carter Burwell)
“Sicario” (Jóhann Jóhannsson)
“Os Oito Odiados” (Ennio Morricone) – vencedor
“Bridge of Spies” (Thomas Newman)
“Star Wars: Episode VII—The Force Awakens” (John Williams)
Melhor Fotografia
Carol (Edward Lachman)
Os Oito Odiados ((Robert Richardson)
Mad Max: Estrada da Fúria (John Seale)
The Revenant – O Renascido (Emmanuel Lubezki) – vencedor
Sicario – Infiltrado (Roger Deakins)
Melhor Guarda-Roupa
“Carol” (Sandy Powell)
“Cinderella” (Sandy Powell)
“The Revenant” (Jacqueline West)
“A Rapariga Dinamarquesa” (Paco Delgado)
“Mad Max: Estrada da Fúria” (Jenny Beavan) – vencedor
Melhor Montagem
A Queda de Wall Street (Hank Corwin)
Mad Max: Estrada da Fúria (Margaret Sixel) – vencedora
The Revenant: O Renascido ( Stephen Mirrione)
O Caso Spotlight (Tom McArdle)
Star Wars: O despertar da força (Maryann Brandon and Mary Jo Markey)
Melhores Efeitos Especiais
“Ex Machina” (Andrew Whitehurst, Paul Norris, Mark Ardington e Sara Bennett) – vencedor
“Mad Max: Estrada da Fúria” (Andrew Jackson, Tom Wood, Dan Oliver e Andy Williams)
“Perdido em Marte” (Richard Stammers, Anders Langlands, Chris Lawrence e Steven Warner)
“The Revenant: O Renascido” (Rich McBride, Matthew Shumway, Jason Smith e Cameron Waldbauer)
“Star Wars: O despertar da força” (Roger Guyett, Patrick Tubach, Neal Scanlanand Chris Corbould)
Melhor Maquilhagem e Cabelos
Mad Max: Estrada da Fúria – vencedor
The 100-Year-Old Man Who Climbed Out a Window and Disappeared
The Revenant: O Renascido
Melhor Mistura de Som
A Ponte dos Espiões (Andy Nelson, Gary Rydstrom e Drew Kunin)
Mad Max: Estrada da Fúria (Chris Jenkins, Gregg Rudloff e Ben Osmo) – vencedor
Perdido em Marte (Paul Massey, Mark Taylor e Mac Ruth)
The Revenant: O Renascido (Jon Taylor, Frank A. Montano, Randy Thom e Chris Duesterdiek)
Star Wars: O despertar da força (Andy Nelson, Christopher Scarabosio e Stuart Wilson)
Melhor Edição de Som
Mad Max: Estrada da Fúria (Mark Mangini e David White) – vencedor
Perdido em Marte (Oliver Tarney)
The Revenant: O Renascido (Martin Hernandez e Lon Bender)
Sicario – Infiltrado (Alan Robert Murray)
Star Wars: O despertar da Força (Matthew Wood e David Acord)
Melhor Curta Documental
“Body Team 12”
“Chau, Behind the Lines”
“Claude Lanzman: Spectres of the Shoah”
“A Girl in the River: The Price of Forgiveness” – vencedor
“Last Day of Freedom”
Melhor Curta-metragem
“Ave Maria”
“Day One”
“Everything Will Be Okay”
“Shok”
“Stutterer” – vencedor
Melhor Curta-metragem de Animação
“Bear Story” – vencedor
“Prologue”
“Sanjay’s Super Team”
“We Can’t Live Without Cosmos”
“World of Tomorrow”
Melhor Direção Artística
“Mad Max: Estrada da Fúria” (Colin Gibson; Katie Sharrock, Lisa Thompson) – vencedor
“A Rapariga Dinamarquesa” (Eve Stewart; Michael Standish)
“The Revenant: O Renascido” (Jack Fisk; Hamish Purdy)
“A Ponte dos Espiões” (Adam Stockhausen; Rena DeAngelo, Bernhard Henrich)
“Perdido em Marte” (Arthur Max; Celia Bobak, Zoltan Horvath)