Foi só chapa e ninguém se magoou. Isso é o que importa, certo? Não só. Neste caso, o pequeno acidente que ocorreu entre um carro sem condutor da Google e um autocarro municipal poderá ter consequências complexas para esta tecnologia. A Google, que até agora podia dizer que os seus carros sem condutor tinham acumulado um milhão de milhas sem causar qualquer acidente, assume agora “alguma responsabilidade” pelo embate. É a primeira vez que tal acontece.

O acidente ocorreu em meados do mês passado, segundo a Reuters. Não foi a primeira vez que um carro autónomo da Google se viu envolvido num acidente – até outubro contavam-se 11 percalços – mas, até agora, todos foram culpa do outro carro (o veículo conduzido por um humano).

Desta feita, o Lexus da Google estava a desviar-se de um obstáculo na estrada, alguns sacos de areia numa via larga. Viajava muito lentamente, a menos de 5 quilómetros por hora. Segundo o relato feito pela Google aos reguladores da Califórnia, o carro cruzou-se com um autocarro que seguia, em sentido contrário, a menos de 30 quilómetros por hora. Aí, o condutor do carro de testes “presumiu que o autocarro iria abrandar ou deixar o carro da Google avançar”. Mas não aconteceu assim: ao reentrar na via, ocupando o seu centro, o autocarro não abrandou e deu-se o embate.

“Claramente temos alguma responsabilidade, porque se o nosso carro não se tivesse movido a colisão não teria ocorrido. Dito isto, o nosso condutor acreditou que o autocarro iria abrandar ou parar para nos permitir manter o fluxo do tráfego e, por outro lado, acreditou que existiria espaço suficiente para fazer isso”

Numa situação normal, entre dois condutores humanos, esta seria uma situação em que a cortesia desempenharia um papel importante para que não houvesse um acidente, escreve o Financial Times. O jornal britânico diz, citando peritos, que este pequeno acidente ilustra as dificuldades que esta tecnologia terá em responder aos desafios que surgem amiúde na estrada – desafios que são simples para os condutores humanos mas para os quais é muito complexo programar um carro sem condutor.

Além do código da estrada, “há uma série de regras culturais que as pessoas cumprem e que são muito difíceis de programar num carro”, afirmou Jerry Kaplan, um empreendedor do setor tecnológico e autor de livros sobre robótica. “Este acidente não teve nada de grave, ninguém se magoou ou morreu. Mas levará muito tempo até que os carros possam ser conduzidos [de forma automática] em ruas com muito trânsito e cumprir as mesmas regras sociais que as pessoas usam”, acrescenta Jerry Kaplan, citado pelo Financial Times.

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