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Alentejo Prometido. O protesto veio em forma de cante alentejano

Este artigo tem mais de 5 anos

Os Cantadores do Desassossego interromperam o lançamento do livro de Henrique Raposo, que gerou polémica nas redes sociais, para entoar o cante alentejano. Protesto pacífico, com 3 polícias à porta.

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MIGUEL SOARES/OBSERVADOR

MIGUEL SOARES/OBSERVADOR

O lançamento do livro Alentejo Prometido, de Henrique Raposo, foi interrompido por um grupo de cante alentejano como forma de protesto contra a obra que tem gerado controvérsia e polémica nas redes sociais.

A Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS), que publica o retrato, havia alterado o dia e o local do lançamento, que aconteceu às 18h30 desta terça-feira e solicitou um pedido de ajuda ao Comando da PSP de Lisboa. À hora marcada, estavam à porta da Bertrand, do Picoas Plaza em Lisboa, três agentes, que não precisaram de intervir na cerimónia. As ameaças à integridade física do autor que chegaram a circular nas redes, não passaram disso mesmo.

A livraria foi pequena para todos aqueles que quiseram marcar presença, incluindo o presidente de curadores da FFMS, Alexandre Soares dos Santos que estava sentado na primeira fila. Depois de um ligeiro atraso de cerca de 15 minutos, a apresentação começou com umas palavras de António Araújo, Diretor de Publicações da Fundação e seguiu-se José Rentes de Carvalho que se deslocou da Holanda, onde vive, de propósito para a ocasião.

“Alentejo Prometido é para quem sabe ler e tem tempo para pensar”, disse o escritor transmontano, aludindo ao alarido criado à volta do livro. Rentes de Carvalho deixava assim implícito que muitos daqueles que destilaram fúria nas redes sociais sobre a obra não a tinham lido.

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“Dá pena ver tanta democracia na boca e tão pouca no comportamento”, disse o transmontano, que considerou também que “o geral das pessoas, descambou”. Respeitando as regras do protesto pacífico, dentro do padrão democrático a que Rentes de Carvalho aludira minutos antes, o grupo Cantadores do Desassossego interrompeu a sessão com uma interpretação de “Alentejo, Alentejo”. O protesto, em forma de cante, foi entoado por cerca de uma dúzia de homens, que após a breve “atuação” se retirou.

“Acabem com esta palhaçada!”, disse um dos cantadores do grupo de homens, antes de abandonarem a plateia em direção à porta.

O grupo do qual também faziam parte algumas mulheres que não cantavam, veio de Beja (veja como tudo aconteceu no vídeo acima). Na sua página no Facebook, o grupo explicou o gesto como “sossegado, com o desassossego que nos invadiu”.

Sossegado, com o desassossego que nos invadiu, todos estamos descansados, a nossa atitude, simples, sem qualquer tipo de...

Posted by Cantadores do Desassossego on Tuesday, March 8, 2016

A inusitada atuação do grupo parecia, a princípio, fazer parte do alinhamento da apresentação de Alentejo Prometido, mas o semblante carregado de Raposo durante o cante deu a entender que afinal se tratava de uma forma de protesto.

Um protesto contra a opinião do autor, que ao longo de 107 páginas retrata o Alentejo como uma “terra da desconfiança” onde o “suicídio é um fenómeno natural”. Mas as declarações que acenderam o rastilho nas redes sociais foram as que proferiu no programa “Irritações” da SIC Radical onde explicava que a escrita do livro era uma tentativa de se reconciliar com a região, por causa do seu “complexo de desenraizado”.

“Quando decidi há uns anos escrever o livro, pensei que ia encontrar uma luz debaixo do chaparro. Não vi. Quando comecei a escrever o livro já não tinha essa esperança, mas tinha a esperança num daqueles momentos de redenção. Não foi”, contou no programa.

Quem também não achou a escrita de Raposo redentora foram os muitos que comentaram o vídeo da emissão, com insultos que rapidamente alastraram ao Facebook onde se partilharam imagens de pessoas a queimar o livro e se chegou a criar um grupo que o declarava “O inimigo n.º 1 do Algarve e Alentejo”.

“Ele não ataca o Alentejo, só na cabeça de alguns lunáticos”, afirmou Henrique Monteiro, ex-diretor do jornal Expresso, onde o autor é cronista. E considerou mesmo que “o livro é um hino de amor” à região. “A verdade [sobre o Alentejo] não anda muito longe do que tu escreves”, disse para o autor no final da sua intervenção.

“Para se falar de um livro, é preciso lê-lo”, sublinhou Henrique Raposo reforçando o que Rentes de Carvalho havia dito. Sem se pronunciar diretamente sobre a controvérsia nas redes sociais disse apenas que “as coisas têm a sua importância relativa”.

Num tom emotivo, confessou que os “realizadores” da obra que descreve como “um filme de estrada” foram os membros da sua família, em especial, a mãe e o pai. Henrique Raposo não quis falar aos jornalistas sobre o livro, mas usou da palavra para lançar algumas farpas.

“As pessoas dizem-me que tenho uma certa coragem a escrever”, disse o escritor, que considerou também que essa coragem só transparece porque, na sua opinião, vivemos num “tempo de bullshit” onde “não se pode ter uma opinião sincera sobre nada”.

“Literatura não é escrever guias turísticos”, afirmou, deixando a promessa que iria continuar a escrever no estilo “fora da caixa” — assim se descreveu — que o caracteriza.

Mais do que o livro em si, do qual um dos capítulos foi pré-publicado no Observador no passado 13 de fevereiro, o que espoletou a polémica foi a intervenção do autor no programa “Irritações” na SIC Radical de Pedro Boucherie Mendes. O diretor-geral da SIC Radical esteve presente no lançamento e considerou que tinha sido uma “vitória da tolerância”. O humorista Ricardo Araújo Pereira, que também marcou presença, confessou que não tinha lido o livro, mas que estava presente como forma de manifestar apoio “a quem pode escrever coisas ofensivas e não ser ameaçado por isso”, ora veja:

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