A organização terrorista ETA divulgou hoje um comunicado em que reconhece que, passados cinco anos da sua declaração de cessar-fogo permanente, a situação não é aquela que esperava, por não haver “um processo dialogado de paz”.

“Não estamos onde esperávamos” porque “não se iniciou um processo dialogado de paz e resolução [do conflito], nem com os Estados nem entre as forças políticas de Euskal Herria [País Basco]”, escreve a ETA no comunicado, publicado no jornal Gara, a propósito do “Aberri Eguna”, o “dia da pátria basca”.

“As consequências do conflito continuam por resolver e o nó principal, que é a situação dos presos políticos bascos, continua por se desatar”, acrescenta.

A organização, que defende a independência do País Basco (que ocupa território espanhol e francês), escreve que “não foi alcançado um acordo democrático” baseado no “reconhecimento do direito de Euskal Herria decidir”, o qual “resolveria definitivamente o conflito político”.

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No texto, publicado em basco e com uma interpretação em espanhol feita pelo jornal Gara, a ETA insiste na sua intenção de construir um projeto independentista para o País Basco, de forma a conseguir a “adesão de muitos setores populares e sociais”.

A ETA também se refere aos resultados das últimas eleições legislativas espanholas, no final do ano passado, a partir dos quais ainda não foi formado um Governo.

“Lamentavelmente, em Espanha não há uma relação de forças suficiente para produzir mudanças profundas”, diz a organização, segundo a tradução do jornal Gara.

Para a ETA, é pouco provável que “as forças que se declaram de esquerda cheguem a um acordo que tenha no centro o direito a decidir”, mesmo reconhecendo que se abriu um debate sobre “a democratização das suas estruturas”.

A organização refere-se também à crise dos refugiados: “O tratamento deplorável que os estados europeus dão a milhares e milhares de refugiados que fogem da miséria absoluta e às guerras selvagens provocadas pelos poderosos do mundo mostra claramente aquilo que queremos ser. Sentimos só vergonha e raiva”.

Para a ETA, esta crise mostrou “a verdadeira cara” dos governantes “que falam sem parar de direitos humanos”, considerando que “é o cúmulo da hipocrisia”.

O último comunicado da ETA era de 30 de setembro do ano passado e foi divulgado a propósito da detenção em França de um dos seus dirigentes.

A ETA declarou o fim da luta armada, em nome da independência do País Basco, a 10 de janeiro de 2011.