O dirigente do PSD/Lisboa que foi condenado por agressão a outro autarca social-democrata entrou nas listas de Pedro Passos Coelho para o Conselho Nacional (o parlamento do partido) em sexto lugar, e é o primeiro nome da distrital lisboeta, a seguir ao cabeça-de-lista Luís Marques Guedes. Rodrigo Gonçalves, que em março viu a sentença confirmada pelo Tribunal da Relação, foi condenado a pagar uma multa e uma indemnização a Domingos Pires –então com 71 anos e nessa época presidente da Junta de Benfica. A agressão ocorreu em novembro de 2009, embora o caso se tenha arrastado até ao presente nos tribunais. O aparecimento deste nome tão bem colocado na lista do líder do partido caiu mal junto de muitos dirigentes e militantes da distrital de Lisboa, segundo o Observador pôde constatar.

Rodrigo Gonçalves liderou a antiga secção A, de Benfica, que em tempos foi a estrutura mais importante do PSD em Lisboa, em número de militantes. Foi uma estrutura que teve um crescimento exponencial com António Preto e depois com Sérgio Lipari e que beneficiou muito do poder que o partido teve na câmara de Lisboa durante a presidência de Pedro Santana Lopes e de Carmona Rodrigues. Com a extinção das secções na capital e a criação de três núcleos, Rodrigo Gonçalves passou a controlar o Núcleo Central, que é presidido por Pedro Reis, que foi condenado no mesmo processo de agressão a Domingos Pires.

Nas eleições para delegados ao 36.º Congresso do PSD que está a decorrer este fim-de-semana em Espinho, esta fação lisboeta do partido conseguiu obter mais de 700 votos (51% no concelho de Lisboa) para eleger 15 delegados. Refira-se que as maiores secções concelhias do PSD são Gaia (17 delegados) e Famalicão (15 delegados). Para se perceber a importância e o poder de um dirigente que controla esta quantidade de votos, basta dizer que esta fação é maior do que pelo menos quatro distritais em número de delegados ao congresso: Beja, Évora, Portalegre e Lisboa Oeste. E que é quase tão importante quanto Castelo Branco (17 delegados) ou Setúbal (20 delegados).

Rodrigo Gonçalves foi absolvido em novembro, após julgamento, num processo de corrupção por questões relacionadas com a gestão da Junta de Freguesia de São Domingos de Benfica a que presidiu. Hoje trabalha no gabinete dos vereadores do PSD na Câmara Municipal de Lisboa. Pedro Reis trabalha numa empresa municipal de Cascais. Daniel Gonçalves, pai de Rodrigo, é o presidente da Junta de Freguesia das Avenidas Novas. Um dos aliados de Rodrigo Gonçalves nesta fase é Ismael Ferreira, antigo líder da extinta secção Oriental de Lisboa, onde militantes e dirigentes o acusavam de comprar o voto de militantes para controlar a estrutura. Ismael Ferreira teve recentemente uma avença na Junta de Freguesia das Avenidas Novas, através do pai de Rodrigo Gonçalves.

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Passos Coelho confortável no Conselho Nacional

Foram apresentadas oito listas ao Conselho Nacional. As votações decorreram ao longo da manhã e a lista da direção ganhou com 323 votos e 33. Embora por si só não chegue para fazer maioria (os conselheiros do PSD são 70) a maior parte das outras listas apresentadas não são de oposição ao líder. A lista B, encabeçada por João Moura, obteve 92 votos e teve nove assentos no CN. A lista C, liderada pelo barcelence Carlos Reis e pelo deputado lisboeta Sérgio Azevedo, conseguiu 73 votos e elegeu sete lugares. A lista D, de oposição assumida a Passos Coelho, encabeçada por Luís Rodrigues, ex-líder da distrital de Setúbal, conseguiu eleger cinco conselheiros e teve 57 votos. A lista E, de Alexandre Cunha, teve 39 votos e quatro mandatos. A Lista F, liderada por Jorge Nuno Sá, teve três mandatos e 37 votos. A Lista G , de Luís Gomes, autarca de Vila Real de Santo António, obteve 45 votos e quatro conselheiros e a lista H, de Joaquim Biancard da Cruz, teve 56 votos, o que corresponde a cinco lugares.

Luís Rodrigues lamenta que a liderança tivesse feito diligências no sentido de travar a multiplicação de listas ao parlamento do partido: “Os TSD e a JSD não apresentaram lista. Não se percebe a necessidade de limitar as escolhas”, disse Luís Rodrigues ao Observador na noite de sábado. “Não faz sentido esse tipo de pressão. Devia haver opiniões diversas para o partido sair reforçado. O Conselho Nacional é o sítio para se dar a opinião”.