Jacopo Pasotti é um jornalista italiano que registou as mudanças (ou a falta delas) no Nepal um ano depois do terramoto que vitimou mais de 8 800 pessoas e deixou mais de 700 mil famílias sem casa. Passeando pelas ruas de Katmandu, Jacopo Pasotti encontrou uma cidade ainda em ruínas, a dar os primeiros passos na reconstrução de ruas, casas, escolas e templos. Foi este o testemunho que deixou ao Observador, são dele as fotografias que pode ver na fotogaleria.

“Os turistas estão a voltar, um ano, uma monção e um inverno depois.

A seguir ao terramoto, o governo distribuiu dinheiro aos nepaleses (cerca de 130 euros a cada um) que ficaram sem casa. Tendas e casas pré-fabricadas foram erguidas e muitas ainda ali permanecem. O estado conseguiu acudir de forma bastante eficaz às pessoas logo após o desastre, mas o que veio depois não foi tão eficaz assim.

O dinheiro prometido pelo governo para a reconstrução das casas ainda não chegou às pessoas e a ajuda perde-se no meio de burocracias e diferendos políticos que atrasam a distribuição dos fundos devidos a quem perdeu o teto no terramoto de 25 de abril de 2015.

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Para complicar a situação, um bloqueio fronteiriço entre a Índia e o Nepal, que começou em outubro de 2015 e durou até 4 de abril deste ano, deixaram os nepaleses sem gasolina e sem gás. Muitos outros bens ficaram presos na fronteira. Este bloqueio, que a Índia nunca reconheceu oficialmente, está ligado ao descontentamento que os indianos mostraram pela aprovação da nova constituição nepalesa.

Durante meses o Nepal ficou isolado, sem combustível para fazer andar os bulldozers, sem matéria prima para fazer cimento — necessário para começar a reconstruir as infraestruturas do país.

Durante o pico da crise, para conseguir uma botija de gás as famílias nepaleses tinham de permanecer numa fila durante um dia ou mais. Era isso ou recorrer ao mercado negro, onde o gás custava dez vezes mais.

Quem consegue arcar com as despesas tomou a reconstrução das suas casas em mãos, mas para a maioria dos nepaleses que ficaram sem casa — entre 80 a 90% — os abrigos temporários transformaram-se em habitação permanente.”