O antigo ministro da Cultura João Soares mostrou-se esta sexta-feira surpreendido com a reação pública às “bofetadas” que prometeu a dois cronistas do Público, afirmando que se demitiu para não prejudicar o Governo. O atual deputado socialista falava, pela primeira vez desde que se demitiu, no início de abril, em entrevista à RTP3, depois de prometer “salutares bofetadas” na rede social do Facebook ao sociólogo Augusto M. Seabra e ao historiador Vasco Pulido Valente.

“Devo dizer-lhe que me surpreendeu a reação que se seguiu. Trata-se obviamente de uma metáfora e de um texto do mais ligeiro que é possível”, afirmou João Soares.

O deputado considerou também “inacreditável” que os telejornais daquele dia, durante o qual se realizou o Conselho de Estado, em que estava no país o presidente do Banco Central Europeu e o ministro das Finanças tenha ido ao parlamento para falar da questão do Banif, tenham “aberto com as bofetadas de João Soares”.

Reafirmando que diz o que pensa, João Soares sublinhou que para não prejudicar o Governo e o primeiro-ministro, António Costa, em quem confia, decidiu demitir-se.

“Também é uma coisa relativamente pouco comum, passo a imodéstia, que é o desapego do poder. Gostava muito de estar a trabalhar no Ministério da Cultura, mas sou um homem desapegado do poder. No momento em que senti que podia estar a prejudicar o Governo, saí e devo dizer-lhe uma coisa: o primeiro-ministro nunca me pôs a questão de eu me dever demitir”, explicou João Soares.

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O ex-presidente da Câmara de Lisboa afirmou também que as palavras proferidas pelo primeiro-ministro sobre assunto não influenciaram o seu pedido de demissão.

Após a mensagem divulgada no Facebook por João Soares, e já depois de o antigo ministro da Cultura ter pedido desculpas, o primeiro-ministro voltou a fazer um pedido de desculpas e a pedir aos membros do Governo para serem “contidos na forma como expressam emoções”.

Na entrevista, João Soares disse “acreditar profundamente” no atual Governo de “esquerda com o apoio de toda a esquerda do parlamento”. “Está a constituir, por um lado, qualquer coisa de profundamente inovador para política portuguesa e também um exemplo muito importante para a Europa”, concluiu.