Cada vez que se fala em Sandeman acende-se, de imediato, uma imagem na mente do comum dos portugueses: a de Don, a icónica figura de capa, chapéu e copo de Porto Ruby na mão que representa a marca em rótulos, posters e empenas de edifícios desde 1928. Até as gerações mais novas serão capazes de reconhecer a criação de Georges Massiot Brown e fazer a devida associação. O problema — para a Sandeman (e para a Sogrape, que a detém) — é que, em muitos desses casos, a relação com a bebida/marca limita-se a isso. Já bebê-la é outra história.

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O lendário ícone da Sandeman une a batina de Coimbra ao chapéu tipicamente andaluz, tal como a empresa une a produção de Vinho do Porto ao de Jerez. (foto: DR)

“O Vinho do Porto atrai um público típico com mais de 45 anos”, reconhece Manuel Guedes, administrador da Grape Ideas, empresa do grupo Sogrape responsável pelo projeto do novíssimo The Sandeman Chiado. E é precisamente essa estatística que este bar/restaurante, de portas abertas há três semanas em regime soft opening, pretende contrariar. “Queremos democratizar o nosso produto, levá-lo a um público mais jovem e promovê-lo junto dos portugueses”, acrescenta Duarte O’Neill, outro dos responsáveis.

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A decoração do interior do espaço tem o dedo do designer Paulo Lobo.
(foto: © José Campos)

A última parte da frase de Duarte é especialmente importante. Sim, este é um espaço para portugueses, apesar de estar instalado no Largo Rafael Bordalo Pinheiro, no Chiado, local onde passam, por hora, um número respeitável de turistas. Assim, e para atingir esse objetivo há uma série de regras e preconceitos associados ao Vinho do Porto que o The Sandeman Chiado quer quebrar. Eis três deles:

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Vinho do Porto bebe-se em cálice

Aqui, essa frase não podia estar mais longe da verdade. “Rompemos com o cálice como sinal dessa democratização” explica Duarte O’Neill. Ou seja, no The Sandeman Chiado, o Vinho do Porto é servido na dose habitual mas em copos de vinho tradicionais, mesmo quando não acompanha a refeição. Só chegará à mesa em cálice se assim for pedido.

Vinho do Porto bebe-se à temperatura ambiente, sem misturas

Os puristas não vão gostar de saber mas a carta de cocktails com Vinho do Porto é um dos trunfos do espaço. Foi desenvolvida em pareceria com o barman Kiko Pericoli, da Liquid Consulting, e um dos sócios do vizinho Double 9. A oferta vai dos clássicos Splash (5,50€) ou Caipi Sandeman (6€), que não são mais que um Porto Tónico ou uma caipirinha de Vinho do Porto, até às criações de autor Honey I’m Don (7€), Citrus Connection (7,50€) ou One Eight Zero Five (7,50€), este último numa combinação inesperada com tequila. Mas nem é preciso ir tão longe. “Bastam umas pedras de gelo e uma rodela de laranja para alterar completamente o perfil do Vinho do Porto. Ora prove lá”, desafia Manuel Guedes, ao chegar à mesa um Sandeman On The Rocks. O jornalista confirma.

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Um dos cocktails da casa a ser preparado sob o olhar atento do Don.
(foto: © José Campos)

Vinho do Porto não se bebe à refeição

Mentira. O conceito gastronómico do espaço foi definido por dois chefs com pergaminhos na Invicta, Luís Américo (Cantina 32) e João Pupo Lameiras (Casa de Pasto da Palmeira) para provar que o hábito de reduzir o Vinho do Porto ao pré ou pós-refeição já não faz sentido em 2016. E é um conceito curioso: a ementa divide-se em produtos que podem ser servidos de três formas distintas, sejam entradas ou pratos principais, sempre com uma sugestão de Porto (ou de um cocktail) para acompanhar.

Tomemos as vieiras (14€) como exemplo. Podem chegar à mesa num caril thai com maçã verde, com puré de couve-flor e ovo a baixa temperatura ou com puré de cebola negro e presunto de porco preto. Já o rosbife (9€) tem como opções o rábano picante e jus de carne, alioli, sriracha e batatas fritas ou puré de aipo, maçã e amêndoas. E outros produtos há, casos da alheira, do foie gras, do pregado ou até dos tachos de carne ou peixe que alimentam duas pessoas e onde pontifica, por exemplo, um cevadoto de línguas de bacalhau, chouriço e coentros (24€).

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O cevadoto de línguas de bacalhau, um tacho que alimenta duas (ou até três) pessoas.
(foto: © Tiago Pais / Observador)

A ideia, aqui, é que os clientes consigam, facilmente, fazer as suas próprias harmonizações. Para o permitir, à frente de cada prato surge uma espécie de tabela que define qual o tipo de Porto (Ruby, Tawny ou Branco) ou cocktail ideal para acompanhar. Mas atenção, a ideia não é que os clientes bebam Porto à refeição como se de outro vinho qualquer se tratasse. O teor alcoólico da bebida (18 a 20º) é tido em conta na hora de servir. “Bebe-se metade da quantidade de um vinho de mesa, mas isso acontece de forma natural, já que é um vinho muito mais encorpado”, garante Manuel Guedes. Isso tanto é válido para as criações dos chefs como para os cascos de queijo e enchidos nacionais. E sim, são cascos e não tábuas, já que o que chega à mesa são partes de pipas recuperadas pelos tanoeiros da Sandeman.

Esse não é, aliás, o único aproveitamento dos materiais ligados à produção de Vinho do Porto. O próprio chão do The Sandeman Chiado utiliza os mesmos tacos que se usam nas caves para fazer rolar as pipas sem as danificar. No piso superior do espaço, a decoração remete para a história da marca, com a revelação de diversos factos e curiosidades da sua história, quase como se de um museu se tratasse. Já quem preferir ficar na esplanada também o vai poder fazer — falta apenas resolver um ligeiro impasse burocrático e deverá estar pronta a ser utilizada nas próximas semanas.

Nome: The Sandeman Chiado
Morada: Largo Rafael Bordalo Pinheiro, 27-28 (Chiado)
Telefone: 93 785 0068
Horário: Todos os dias, das 11h30 à 00h
Preço Médio: 20 a 30€
Site: www.sandeman.com / facebook.com/The-Sandeman-Chiado