Já lá vai o tempo em que o pregão “é frutóóóchocolate?” fazia sentido. Com as geladarias a aguçar, cada vez mais, a criatividade, a descobrir novas matérias-primas, e, consequentemente, a convidar os clientes a sair da sua zona de conforto (leia-se uma bola de morango e outra de chocolate), hoje não haveria frase do género que coubesse nestas linhas. Principalmente com o aproximar do verão. Para o provar — e dar a provar — eis um roteiro porta-a-porta com as novidades que as melhores representantes de Lisboa e Porto nesta matéria têm vindo a apresentar nos últimos tempos.
Partindo da redação do Observador, no Bairro Alto, a primeira paragem é a pequena sucursal da Gelato Mu (Rua Dom Pedro V, 1. A partir de 2,4€), mesmo em frente ao Miradouro de São Pedro de Alcântara. Sucursal, sim, porque a casa-mãe fica no Campo Mártires da Mátria. O simpático dono, Marco Bauli, diz-nos que as novidades principais são, para já três: ginja, canela e a mistura kibana. Disse kibana? O nome ajuda a desvendar: kiwi com banana. “Mais para frente vamos ter também chocolate com ginja”, avisa o italiano. Esperemos, então.
Descendo, via Príncipe Real, até São Bento, encontra-se a Nannarella (Rua Nova da Piedade, 68. A partir de 2€), que vai causando filas de gente ansiosa por um gelado rua acima (ou abaixo, vai variando) desde março de 2013. Nesta altura, o sabor do momento é o melano, uma fresquíssima mistura de melão e limão. Quem preferir algo mais substancial, pode apostar na banannarella, que junta, na mesma cuvete, banana, chocolate e noz.
A próxima paragem é na Davvero (Praça de São Paulo, 1. A partir de 1,50€), já no Cais do Sodré. Aqui, a grande novidade vai aparecer no dia 13, o de Santo António, conta-nos Riccardo, um dos donos. “Vamos fazer gelado de sardinha.” Vai ser uma experiência pontual. “Só o vamos servir nesse dia”, avisa. Bom, não será tão consensual como os outros sabores recentes da casa, elencados pelo mesmo responsável: abacate, caramelo salgado, cheesecake de limão ou sorvete de cenoura. Outro que está nos planos da casa — que, recorde-se, teve direito a artigo do Observador logo após a sua abertura — é alfazema com gengibre.
Sigamos viagem. Na Rua da Prata é impossível não parar na Fragoleto (Rua da Prata, 61. A partir de 2,30€). Todos os anos a responsável Manuela Carabina decide trazer às vitrinas algo de novo. E não se fica, necessariamente, pelas frutas de época, como o mirtilo, que voltou no final de maio. Assim, a maior novidade dos últimos tempos junta os dotes da marca aos da cervejeira artesanal Arrábida Beer Company (ABC). Resultado: quatro gelados diferentes, cada um baseado numa cerveja diferente: Melro-Azul (cerveja de trigo), Petisca (lager), Coruja Branca (porter) e Raposa Vermelha (amber ale).
No Chiado, a Santini (Rua do Carmo, 9. A partir de 2,90€) ainda está, segundo a sua assessoria de comunicação, “a fechar os novos sabores”. Mas segundo adianta a mesma fonte, muito em breve deverão surgir sabores que misturam iogurte grego com várias frutas e sorvetes à base de chás. Por exemplo: chá preto com limão e canela.
Saindo do centro nevrálgico da cidade em direção às Avenidas Novas, vale a pena desbravar o verde dos Jardins da Fundação Calouste Gulbenkian, até encontrar a Ice Gourmet (Entrada pela Avenida Marquês Sá da Bandeira. A partir de 2,40€), onde se servem os gelados criados pelo chef Bertílio Gomes e pela mulher Maria Santos. E é Maria que nos fala sobre as novidades da marca. Além do sabor da semana — alperce biológico da algarvia Companhia das Culturas –, que estará disponível até à próxima segunda-feira, a responsável destaca outros dois: flores de jardim, feito para celebrar os 60 anos da Fundação (entra na próxima terça-feira), e o de pastel de nata, que já esteve disponível e voltará, em breve, a ser reposto.
E estamos quase no fim da viagem. Faltam três geladarias, todas na zona do Areeiro/Alvalde. Passamos, primeiro, pela FIB (Avenida Padre Manuel da Nóbrega, 13E. A partir de 2€) onde Moreno Gorrara, o responsável e mestre gelatiere, destaca três novidades: lima e gengibre, chocolate branco e tangerina e um variegato de cereja. Explica-nos Moreno que para fazer o variegato as cerejas são descaroçadas e passadas pelo forno, de modo a criar uma espécie de geleia. Outra novidade da casa, que não envolve sabor mas antes forma de servir, é a picciotta: um brioche siciliano que permite fazer uma sanduíche de gelado. Tudo em concordância com o mote da casa — il vero gelato italiano.
A 5 minutos da FIB, na Avenida de Roma, a Casa do Gelado 1981 (Avenida de Roma, 28H. A partir de 2,40€), conhecida pelos crepes e pela mítica cassata, não se fia apenas nos sabores do costume para agradar à clientela fiel: a respetiva vitrina tem apresentado sabores novos ultimamente, casos do kumquat, physalis, ananás com gengibre e hortelã, delícia de amendoim e um concorridíssimo cheesecake. Tão concorrido, aliás, que a círculo vermelho que indica sabor esgotado tem-se-lhe juntado com frequência.
Terminemos a passeata lisboeta, que já vai longa, junto à Avenida da Igreja, na geladaria mais invulgar desta lista, a Laboratório do Gelado Sub 196 (Rua José Duro, 21B. A partir de 3€). Antes de revelar os sabores novos, Pedro Torgal Viana, o Walter White de serviço, que maneja o nitrogénio líquido com que faz os gelados ao momento, faz questão de dizer que na sua geladaria todas as intolerâncias e limitações alimentares estão ressalvadas. “Não usamos leite, nem açúcar, nem glúten, isto são sorbets que usam apenas a frutose.” Dito isto, vamos à ação: comecemos pelo de mirtilo com framboesa. Avancemos, depois, para o de manga e citronela com coulis de goiaba em pipeta. E que tal um de figo e Vinho do Porto Ruby com amêndoa palitada? Mas o ex-líbris do verão será outro: um gelado de ananás e goiabada, servido em casca de coco, com uma pipeta de rum para se injetar na mistura. Promete, principalmente if you like piña coladas…
Pensar em gelados portuenses é o mesmo que dizer Neveiros (Rua da Alegria, 930. A partir de 1,50€). Com cerca de 60 sabores disponíveis, a geladaria mais antiga da cidade não é de modas e não vai ter sabores novos para o verão. Mas fica a sugestão: melancia, melão, meloa, coco com malagueta e maçã verde saem muito bem nos dias de calor.
Descemos então toda a Rua da Alegria em direção ao La Copa (Avenida Rodrigues de Freitas, 366. A partir de 1,90€), que no dia 21 de junho comemora dois anos de vida. Quem for com tempo pode sentar-se na esplanada e pedir o manjericão, por exemplo, ou um dos muitos sabores de fruta que entram em peso na montra por esta altura, ou o lemon curd. “Só eu é que tenho, é um sabor exclusivo”, garante Emília Ferreira, a proprietária.
Em breve haverá mais novidades, já que Emília está sempre a experimentar sabores novos. Não queria revelar, mas lá acede a adiantar um deles. “Eu aproveito sempre as frutas da época para fazer os gelados, para tê-los no seu estado melhor de maturação. E vou ter lavanda quando houver lavanda. Está quase quase no tempo delas”, adianta. No La Copa há cerca de 25 sabores disponíveis.
A Amorefrato (Rua Passos Manuel, 69. A partir de 2€) não tem esplanada, mas vai ter dois sabores novos a partir desta quinta-feira que dificilmente se encontram em mais algum espaço da cidade: um gelado de vinho Alvarinho com manga e outro do mesmo vinho com frutos vermelhos. Os gelados aqui vão-se renovando constantemente, pelo que é possível que, após a publicação deste artigo, a responsável Carla Moreira se lembre de fazer novas experiências e coloque mais novidades na montra.
Conhecemos o Liquid (Rua do Almada, 203, e também em Matosinhos Sul, na Avenida da República, 579) pelos batidos de fruta e pelas refeições saudáveis. Agora, também podemos ir lá pedir um gelado. Ao todo há seis para provar, todos por 4,60€ e todos levam banana. O “Sweet” tem maçã, frutos silvestres, nozes ativadas e passas, o “Sunset” leva só manga e leite de coco (para além da banana, claro), o “Morena” tem cacau cru, leite de coco e sementes de cânhamo, o “Havai” é feito com leite de arroz, abacate, mel, amêndoas e espinafres (se nunca comeu um gelado com espinafres, esta é a oportunidade), o “Aftersun” tem maçã, cacau cru, manteiga de amendoim e sementes de cânhamo e o “Addiction” é feito com gelado de açaí, maçã e granola. “Prazer sem culpa”, dizem eles, por não entrarem aqui corantes nem conservantes.
Duas das geladarias mais conhecidas da cidade resolveram expandir-se recentemente. Primeiro foi a Cremosi, que abriu um espaço na Rua Mouzinho da Silveira, a juntar aos que já existem na Rua de Ceuta, no Mercado Bom Sucesso e junto às praias de Matosinhos e à de Lavadores, esta última em Vila Nova de Gaia. José Petiz interrompe o fabrico para nos explicar que já tem disponível o sorvete de vodka limão, por exemplo. “Todos os meses faço sorvetes novos”, avisa o proprietário. No fim de semana chega o sabor de lima, menta e gengibre. Em rotatividade vão estar também o de limão e manjericão, o de chá verde com hortelã, mel com gengibre, iogurte de manga e cardamomo e o de laranja, morango e mel. O melhor é terminar a chamada, que José Petiz tem de acertar na mais recente novidade, o de gengibre, canela e laranja. Cada bola ronda os 1,80€.
Já em abril foi a vez de a Sincelo abrir uma segunda casa, no número 14 do Passeio de São Lázaro, a juntar à morada que mantém desde 1980 na Rua de Ceuta. Para o verão apostam no sorvete de ananás e de goiaba, explica Teresa Aguiar, proprietária da marca. E em mais duas combinações que fazem crescer água na boa: Morango-lima e tarte de limão. Uma bola custa 2,50€.