Não foram uma, mas duas vezes. A startup portuguesa Agroop voltou a completar com sucesso uma campanha de crowdfunding [financiamento coletivo] na Seedrs, a plataforma luso-britânica que permite a indivíduos e instituições investirem em empresas com forte potencial de crescimento – e a primeira a ser regulada pela Financial Conduct Authority britânica.
“Está feito”, como diria o presidente da República. Marcelo Rebelo de Sousa esteve presente no lançamento da segunda campanha da empresa, que terminou na segunda-feira. A empresa fundada em 2014 por Bruno Fonseca e Bruno Rodrigues voltou a angariar 75.000 euros em financiamento, tal como da primeira vez. Em troca, os fundadores cederam 4,45% das ações da Agroop. Somam 150.000 euros em campanhas de crowdfunding.
A startup nacional, que desenvolve ferramentas de gestão e monitorização para o setor agrícola, é, até agora, a única tecnológica portuguesa a completar com sucesso duas campanhas de financiamento na plataforma cofundada pelo português Carlos Silva, que lidera o mercado de crowdfunding de ações no Reino Unido.
Para Bruno Fonseca, cofundador e líder executivo da Agroop, a Seedrs e o crowdfunding são uma “ótima oportunidade” para as startups nacionais. E só não são mais exploradas devido a “algum desconhecimento destes mecanismos, que não estão muito disseminados em Portugal. E esse desconhecimento origina muitas vezes receio”, afirma ao Observador.
Num primeiro momento, Bruno Fonseca e Bruno Rodrigues até começaram por bater a várias portas: à dos business angels e à das sociedades de capital de risco. “Mas a fase em que estávamos e ainda estamos, para os investidores, é preliminar”, explica o primeiro. As propostas que receberam “vieram de pessoas que queriam investir e ficar com uma grande quota da startup logo de início”, o que “tirava poder aos fundadores e capacidade para nós próprios podermos decidir o futuro da startup que criámos”, explica.
Foi então que bateram à porta da Seedrs. À data, ainda era “um mundo um bocadinho desconhecido”, que lhes viria a permitir angariar 150.000 euros em duas campanhas, sem perder o controlo da empresa. O que é importante porque, defende Bruno Fonseca, “ninguém melhor do que os fundadores para perceberem para onde a startup deve caminhar — daí a importância de ter o maior controlo possível sobre o produto”.
Se não tivéssemos tido acesso a este tipo de financiamento, havia dois caminhos possíveis. Um era o projeto já não existir. O outro era termos o projeto a funcionar, mas sem qualquer poder na nossa própria empresa”, diz o líder executivo da Agroop.
Além da “grande dificuldade em conseguir financiamento em Portugal”, com que se depararam no início, os fundadores da Agroop enfrentaram outro problema — o desenvolvimento do negócio, porque “há imensa procura e pouca oferta de programadores em Portugal, o que tornou difícil encontrar as pessoas certas para desenvolver tecnicamente o produto” da empresa, diz Bruno Fonseca.
Esse produto, Agroop Operacional, é uma aplicação que está a ser comercializada desde fevereiro deste ano, e que permite “registar todas as atividades agrícolas, associar despesas, analisar as culturas com maior e menor rentabilidade, integrar o sistema em tempo real com sensores e ainda consultar um técnico quase instantaneamente”.
Até final de 2016, a empresa — que nasceu há dois anos, depois de Bruno Fonseca e Bruno Rodrigues terem ganho uma bolsa Passaporte para o Empreendedorismo — conta “vender muito” a Agroop Operacional e desenvolver os primeiros protótipos vendáveis do Stoock, um sensor que pode vir a identificar, por exemplo, os níveis precisos de água que os solos precisam em cada momento. Isto, garantem, levará a que os agricultores consigam controlar melhor os seus custos de produção e poupar, sobretudo nos custos relacionados com a quantidade de água utilizada para regar os solos, que “representam cerca de 20%” das despesas dos agricultores.
Até ao final do ano, os responsáveis da Agroop contam ainda efetuar “uma ronda de investimento mais significativa, para escalar e internacionalizar” a empresa.
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Em Portugal, as novas regras para o financiamento colaborativo, que estabelecem os direitos e deveres de quem gere as plataformas de financiamento colaborativo e de quem beneficia das campanhas, foram aprovadas em maio, pela CMVM. Bruno Fonseca diz que estes “são passos muito importantes, muito significativos”, destacando ainda o facto de “os investidores que agora entrem com algum valor em terem um benefício fiscal em sede de IRS” — uma novidade apresentada no Portugal, o programa nacional de promoção do empreendedorismo — ser “uma medida que vai no caminho certo” para incentivar o financiamento às startups.
Artigo atualizado às 14h25 de 27 de junho, com correção relativa à bolsa ganha pelos fundadores da Agroop — onde antes se lia “Caixa Empreendedorismo” lê-se agora “Passaporte para o Empreendedorismo”