No início da primavera, o chefe Cordeiro abriu o seu primeiro restaurante na Invicta, o Porto Sentido. Agora que o verão se faz sentir em cada poro, atravessou o rio Douro, arranjou um espaço que é alimento para os olhos e um aquário cheio do verdadeiro alimento, que são as lagostas. Depois de uma experiência na noite de São João, The Blini abre finalmente esta terça-feira. O Observador foi conhecer o menu em primeira mão.

O objetivo está traçado: ganhar uma Estrela Michelin, 10 anos depois da primeira que conquistou, no Largo do Paço, em Amarante. Para isso, José Cordeiro promete “servir sempre bem toda a gente” neste novo restaurante situado em Gaia. E promete fazê-lo recorrendo a produtos frescos e criatividade. Confia no que ali tem e não teme dizê-lo: “Tenho a certeza que ganho a Estrela. Garantido.”

Daqui a um ano falamos. Por agora, fiquemos no presente. Este The Blini devia ter aberto bem antes do Porto Sentido, um atraso que se deveu sobretudo às obras (o chefe ainda queria um chão de vidro para a vista ser total, mas a digestão podia parar a alguns clientes com vertigens). “Só vamos abrir quando estiver tudo direitinho“, diz, sobre o espaço e sobre a parte gastronómica. O Observador esteve lá uma semana antes da abertura e viu o responsável pelos cocktails, Luís Amaral, a fazer testes com champanhe Moët & Chandon e caviares de fruta. “Devemos pôr já na flute, ou vai à parte para o cliente poder pôr a seu gosto?”, perguntava ao chefe.

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Os blinis, espécie de panqueca russa, dão nome à casa.
(foto: © Sara Otto Coelho / Observador)

Foram semanas e semanas de testes, de acertos nos sabores, na apresentação final e nas quantidades precisas que a alta cozinha exige. Servir um prato bom não é suficiente. Tem de causar impacto. O menu deverá ser renovado de quatro em quatro meses, mas que ninguém espere longas páginas de opções. Como diz o chefe Cordeiro: “A ideia é: poucos pratos, mas muiiiita bons.”

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A experiência começa com os blinis, uma espécie de panqueca russa que vai dividir as atenções com o marisco nesta casa. O Blini Menta, por exemplo, leva wasabi, tataki de atum e caviar de salmão, o Blini Laranja é de pato e mousse de foie gras, e o Blini Choco leva por cima mousse de sapateira, lagosta e funcho.

A sopa de peixe “à moda antiga” chega à mesa envolta em fumo. O cheiro faz lembrar uma lareira que, neste caso, tem lá dentro um camarão da costa e uma lula, ambos marinados e crus, que cozem quando o caldo de peixe é entornado sobre todos os ingredientes. Também lá está um pedaço de robalo e o caviar de salmão, explica Tiago Santos, o chef que ali vai ficar a trabalhar a tempo inteiro quando José Cordeiro tiver de se ausentar.

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A carta está depois dividida, não por entradas ou pratos principais, mas por tipologias do que se vai comer. Nos Bivalves encontra-se, por exemplo, uma terrina de búzios ou lingueirão à Bulhão Pato com água fumada, escamas de cornichon, espargos grelhados e iogurte de mostarda e funcho. Seguem-se os Crustáceos, de onde se destaca um ceviche de lombo de lavagante ao vapor com mousse de abacate, caldo de marisco com madras e espuma, telha de parmesão e rebentos.

Há também três pratos de peixe, entre eles o robalo escalfado em água do mar — “é de anzol”, salienta — com gemas de caldeirada de choco, mousse de ervilhas, lima e coco e ainda camarão salteado com espuma do mesmo. E, claro, um prato de bacalhau, que vem fumado, em caldeirada de mexilhão em gema, mousse de favas, espuma de salsa, cebola assada e nabo braseado.

As lagostas, camarões, santolas, ostras e ameijoas saltam à vista, com o cliente a ter a possibilidade de apontar e escolher qual deles quer ter no prato. Como já é habitual, o chefe Cordeiro compra tudo em Portugal: “as ostras são de Lisboa e do Algarve, não quero ostras francesas, vou apostar em tudo o que é português”, afirma. Descansem os carnívoros, que há no menu um prato de carne: bife à Rossini. A opção recaiu num tornedó de carne do lombo da vazia maturada, selado e confitado, feito com espuma de foie gras e caviar de vinho do Porto.

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Quem ficar na sala interior também tem vista. Ali há uma televisão que só será usada em ocasiões especiais, como os jogos da Seleção Nacional no Euro 2016. (foto: © Alto Relevo)

“Vamos ter pratos criados por nós e que não se encontram em mais lado nenhum”, promete José Cordeiro. Os preços ainda não estavam estipulados, mas o chefe, filho de pais transmontanos, garante que o preço médio ronda os 45€, sem bebidas. “Não quero cá loucuras de 70€ ou 80€ por cabeça. Isso é um absurdo”, atira. Para beber, serão os espumantes e os champanhes a estar em destaque e aqui os preços sobem. Cocktails também não vão faltar. Exemplo: se Portugal vencer a meia-final na quarta-feira frente ao País de Gales, os clientes vão poder brindar com o tal Moët & Chandon e caviares de fruta, com partículas de ouro comestível lá dentro.

A vista, sim, é uma loucura. Os olhos tanto alcançam as caves de Vinho do Porto como a Foz, o Centro Histórico do Porto inteiro e a Ponte D. Luís, que fica logo ali ao lado. José Cordeiro aconselha a hora do pôr-do-sol. O exterior do restaurante é que ainda não está como quer que fique. Ainda assim, a esplanada com 24 lugares já tem piscado o olho aos muitos turistas que passam pela Rua General Torres. “Alguns já me entraram por aqui a dentro e eu tive de os mandar embora. ‘Está fechado!’. Abro quando tiver de abrir.” Hoje é o dia.

Nome: The Blini
Morada: Rua General Torres, 344, Vila Nova de Gaia (junto à ponte D. Luís)
Telefone: 22 405 5306
Horário: Terça a sábado das 12h às 15h e das 19h às 23h00. Domingo das 12h às 15h. Encerra à segunda-feira
Preço Médio: 45€, sem bebidas
Reservas: Aceitam
Site: www.facebook.com/theblini/