Dois anos de um processo de investigação ao modo de operar da Herbalife terminaram nesta sexta-feira com um acordo entre a empresa e a Comissão Federal de Comércio (Federal Trade Comission-FTC). As autoridades norte-americanas declararam que a Herbalife, conhecida pelos produtos dietéticos que comercializa através de uma rede de vendedores independente, não funciona como um “esquema de Ponzi” ou em pirâmide. Em troca, a empresa vai pagar 200 milhões de dólares em compensações aos membros da rede comercial e aos consumidores, por promessas não cumpridas, além de se comprometer a reestruturar a atividade.

O ponto final nesta batalha fez subir o valor das ações da Herbalife, o que representa uma derrota cara para Bill Ackman, que defende, desde dezembro de 2012, a tese de que a empresa não passa de uma gigantesca fraude e que enganou os distribuidores, na maioria cidadãos norte-americanos de origem hispânica. O gestor do hedge fund Pershing Square Capital assumiu “posições curtas” sobre os títulos da empresa alvo da investigação, na expetativa de que a FTC acabaria por condená-la, o que provocaria uma desvalorização em bolsa.

Sucedeu o contrário. Hoje, após ser conhecida a decisão de ilibar a Herbalife, as ações subiram 19%, valorização que vai representar perdas pesadas para Ackman, que investiu mil milhões de dólares [904 milhões de euros] na queda das ações da Herbalife e que está a pagar, desde 2012, cem milhões de dólares por ano pelo empréstimo dos títulos.

O valor da compensação que a Herbalife terá de pagar aos colaboradores é justificado pelo facto de a FTC considerar que a companhia lhes fez promessas enganadoras ao persuadi-los de que poderiam ganhar somas “substanciais” com a venda de produtos dietéticos, suplementos alimentares e bens destinados aos cuidados pessoais. Na queixa, aquele organismo acusou a empresa de usar apresentações e vídeos em que figuravam mansões e automóveis de luxo, durante os eventos destinados a aliciar novos distribuidores, além de testemunhos de pessoas que teriam ganho somas avultadas enquanto vendedores da Herbalife, ao ponto de terem decidido abandonar os respetivos empregos.

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A reestruturação das atividades da empresa terá de passar por alterações nos seus planos de incentivos e remunerações, que têm sido os principais focos das críticas assumidas por Bill Ackman. As autoridades norte-americanas exigiram que a empresa passe a compensar os vendedores por aquilo que vendem, em vez de usar o critério da quantidade de consumidores que angariam, prática seguida até agora.

A batalha em redor das operações da Herbalife tem atraído as atenções dos meios financeiros norte-americanos. Não só pela notoriedade da empresa, mas porque o confronto é protagonizado por dois titãs de Wall Street: Bill Ackman e Carl Icahn, dono da Icahn Enterprises e de posições em empresas como a Texaco ou a Netflix, entre muitas outras, que ganhou a fama de “raider” por causa de tomadas de controlo agressivas, de que o caso da TWA, nos anos 1980, é o mais célebre. Icahn, que é o maior acionista da Herbalife, tem um motivo adicional para celebrar com o acordo alcançado. A FTC deu-lhe “luz verde” para aumentar a posição no capital da empresa de 18% para 34,99%.

Em janeiro de 2013, Bill Ackman e Carl Icahn trocaram acusações azedas a propósito do tema Herbalife.

As acusações de Bill Ackman partem da assunção de que a Herbalife funciona de forma semelhante ao que Bernard Madoff praticou durante várias décadas, antes de ser denunciado e detido no final de 2008. Um “esquema de Ponzi” paga lucros elevados aos investidores com o dinheiro entregue por novos investidores, já que os recursos angariados não são aplicados. Um esquema desta natureza só pode aguentar-se enquanto houver novos participantes a entrar. Para a FTC, a Herbalife não opera desta forma.

Veja aqui a apresentação que Bill Ackman fez sobre a Herbalife em dezembro de 2014.