O Presidente francês, François Hollande, procurou acalmar a polémica em torno de alegações de que o seu Governo tentou alterar um relatório de segurança sobre o massacre em Nice no passado dia 14 de julho.

“É preciso deixar que a Justiça trabalhe com total independência. Não pode haver polémicas ou confrontos”, sublinhou, de acordo com a agência France Press, o chefe de Estado francês durante uma visita ao dispositivo militar antiterrorista Sentinelle, em Vincennes, nos arredores de Paris.

Hollande sublinhou que “a verdade e a transparência são essenciais em democracia”, e prometeu que serão averiguadas as acusações relativas à alegada tentativa de condicionamento do relatório de segurança da polícia local em Nice sobre o massacre que causou a morte de 84 pessoas e mais de 330 feridos, porque “os franceses o pedem e as famílias [das vítimas] o exigem”.

No centro da polémica está o ministro francês do Interior, Bernard Cazeneuve, acusado pela direita política de falhas graves na segurança durante as comemorações do Dia da Bastilha em Nice, que permitiu que um homem ao volante de um camião irrompesse pela avenida marginal da cidade, na altura pejada de pessoas que assistiam ao fogo-de-artifício.

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As pressões sobre Cazeneuve intensificaram-se quando uma oficial da polícia local, Sandra Bertin, acusou o seu ministério de assédio numa tentativa de alterar o seu relatório no que dizia respeito ao dispositivo da polícia deslocado para o local na noite do massacre.

O primeiro-ministro francês, Manuel Vals, saiu em defesa do seu colega de Executivo em declarações à televisão francesa, considerando a polémica “puramente política e com o objetivo de destabilizar o Governo”.

É verdade que, “obviamente, precisamos da verdade, mas a polémica devia parar”, afirmou Vals, defendendo Cazeneuve, que considerou um “homem de integridade, um estadista, um grande ministro do Interior”.

Um relatório da polícia nacional sobre o ataque indicou que o autor do massacre, Mohamed Lahouaiej Bouhlel, galgou um passeio para evitar uma barreira da polícia.

Sandra Bertin, no entanto, que era a responsável pela verificação das imagens de vídeo do sistema de videovigilância em Nice, afirmou este domingo que na noite do massacre não se regista a presença da polícia nas imagens de vídeo.

Bertin afirmou ainda ter sido “literalmente assediada todo o tempo” em que escreveu o relatório.

“Pediram-se que alterasse coisas”, afirmou numa conferência de imprensa, acrescentando que lhe “pediram para identificar a presença da polícia em locais específicos” que ela “não tinha visto nos vídeos”.

Bertin é apoiante do Partido Republicano, oposição, liderado na região por Christian Estrosi, que tem sido um forte crítico do Governo socialista desde a noite do massacre, noticiou hoje o jornal Le Parisien, citado pela AFP.

Na passada quinta-feira, o diário Liberation noticiou que apenas um carro da polícia estava a barrar a entrada no passeio na marginal em Nice, quando Bouhlel irrompeu com camião pela via pedonal.

A polémica foi ainda reforçada pelo pedido da Procuradoria em Paris na semana passada para que as autoridades locais em Nice apagassem as imagens da noite do ataque do sistema de videovigilância.

As autoridades locais argumentaram que o pedido configurava a “destruição de provas”, mas os procuradores alegaram que possuíam já cópias dos vídeos em causa e que a destruição das imagens era apenas para prevenir a divulgação das imagens “chocantes”.