Os presidentes das câmaras municipais e Sines e de Santiago do Cacém aceitaram convites da Galp para irem até Lyon, dia 22 de junho, para assistirem ao jogo da seleção nacional de futebol contra a equipa da Hungria, em Lyon, o último jogo da fase de grupos. Álvaro Beijinha, o autarca de Santiago do Cacém eleito pela CDU, e Nuno Mascarenhas, autarca de Sines eleito pelo PS, partilharam o mesmo voo que levou o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Fernando Rocha Andrade, confirmou o Observador junto de várias fontes.

Os dois presidentes de câmara foram confrontados com esta informação na sexta-feira passada, através dos respetivos gabinetes, mas as respostas foram semelhantes: ambos estão de férias. Uma justificação que se manteve até hoje, terça-feira. Em Sines, o gabinete de Mascarenhas assegura que a mensagem foi reencaminhada para o Presidente, não tendo garantias que o presidente leu ou lerá “em tempo útil”. O Observador tentou contactar o presidente, diretamente, por telefone e por SMS, mas sem resposta. Já o gabinete de Álvaro Beijinha diz que o presidente tem estado “incontactável”.

Os comunistas já reagiram à notícia, através de uma curta nota enviada ao Observador e depois de confrontados com a informação que envolve um autarca da CDU. Na nota o PCP sublinha que Beijinha foi eleito “como independente pela CDU” e mantém a posição face “à exigência de uma atitude na gestão pública de indispensável separação entre o poder político e económico.

A propósito da deslocação ao Europeu de Futebol do Presidente da Câmara de Santiago do Cacém, Álvaro Beijinha, eleito como independente pela CDU, o PCP para lá da maior ou menor relação de influência que a competência das diversas entidades públicas suscite, reafirma a sua posição de princípio quanto à exigência de uma atitude na gestão pública de indispensável separação entre poder político e económico”, lê-se na nota do PCP.

O Observador também falou com a Galp sobre estes convites, mas a resposta manteve-se igual à dada pela petrolífera no início da polémica, na semana passada. Além de “não comentar convites individuais”, a Galp enquadra quaisquer iniciativas deste género numa prática comum de ” envio de convites a pessoas e instituições com as quais a empresa se relaciona. Entre os convidados encontram-se parceiros de negócios, fornecedores e prestadores de serviços, agências de publicidade, representantes institucionais e dezenas de clientes, grandes e pequenos”.

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A relação da Galp com os dois municípios é estreita, tendo uma das suas duas refinarias do país instalada em Sines e muitos dos seus trabalhadores são residentes no município vizinho, Santiago do Cacém, com quem a empresa tem mantido também uma relação próxima. A Galp é um habitual parceiro de ambas as câmaras do distrito de Setúbal, com a celebração de vários protocolos de colaboração entre as partes ao longo dos últimos anos, tanto para a construção de infraestruturas (pavilhões multiusos, por exemplo) como para o apoio à atividade de instituições locais e coletividades.

As viagens aceites por titulares de cargos políticos, a convite da Galp, para assistirem a jogos da seleção tem marcado a última semana, com declarações políticas de todas as forças partidárias e com o Governo a anunciar a criação de um Código de Conduta para “tornar taxativa” a lei que já existe para regular estas situações. Ainda assim, o número dois do Governo (o primeiro-ministro esteve de férias e ainda não falou do caso até este momento) considerou que os governantes que aceitaram convites têm condições para se manterem em funções. Uma posição contestada pelo CDS que pediu a demissão do secretário de Estado dos Assuntos Fiscais — que aceitou o convite quando existe um contencioso entre a empresa e o Governo. O PSD pediu explicações ao Governo — entretanto o Observador noticiou que também um deputado do partido, Cristóvão Norte, aceitou um convite da Galp para o mesmo jogo.

Mas as reações políticas também vieram da esquerda, com o PCP a considerar “condenável” a atitude do governantes. O dirigente Jorge Pires foi claro: “Nós consideramos, tal como no passado, que situações como estas não contribuem para a necessária separação entre poder político e poder económico e, por isso, consideramos uma atitude criticável”.

Na segunda-feira, no seu comentário na TVI24, o presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina revelou que também recebeu um convite da Galp, por um dos patrocinadores da seleção e também pela Federação Portuguesa de Futebol, e não aceitou. “Vi todos os jogos em Lisboa”. Foi por uma questão de princípio? “Não gostava de pôr as coisas nesse plano de comparação. Rocha Andrade fez o que fez sem nenhum sentido de estar a cometer qualquer coisa menos própria. Como é óbvio não avaliou bem. Isso hoje é claro”, afirmou o autarca socialista.

Este artigo foi atualizado às 18h50, com a nota enviada ao Observador pelo PCP.