A comissão executiva do Partido Popular espanhol deverá aceitar esta quarta-feira as condições do partido de centro-direita Ciudadanos para negociar a investidura de Mariano Rajoy na chefia do governo e encerrar o atual impasse político.
Rajoy vai presidir, na sede do PP, à reunião da comissão executiva nacional dos populares para analisar as seis condições avançadas pelo partido de Albert Rivera para aceitar negociar.
Analistas disseram não esperar quaisquer surpresas na posição partidária, que dirá ‘sim’ ao início das negociações com o Ciudadanos, embora tenham admitido que algumas das condições impostas por Rivera impliquem o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) por exigirem uma reforma constitucional.
As seis condições do Ciudadanos
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- Separação imediata de qualquer cargo público, a alguém que seja acusado de corrupção, até à resolução completa do processo.
- Fim dos “aforamientos” dos políticos (tratamento judicial especial dado aos políticos em Espanha, que não são julgados por instâncias inferiores).
- Nova lei eleitoral que permita aos eleitores ter maior influência na eleição, maior proporcionalidade, e eliminar a lei do “voto rogado”, que obriga os cidadãos residentes no estrangeiro a depender dos consulados para conseguirem votar.
- Fim dos indultos aos condenados por corrupção política.
- Limitação do mandato do presidente do Governo a um máximo de oito anos ou dois mandatos.
- Compromisso de transparência e criação de uma comissão parlamentar para investigar o “Caso Bárcenas” (relativo a suspeitas de financiamento ilegal do PP).
Fonte: El Mundo
As mesmas fontes concordaram que para os populares todas as seis condições impostas por Albert Rivera – relacionadas com a luta contra a corrupção e renovação democrática -, bem como a sétima, um compromisso para uma data de investidura do primeiro-ministro, são admissíveis.
Uma dessas condições refere-se à criação de uma comissão para investigar o alegado financiamento ilegal do PP. Esta comissão pode ser constituída se todos os partidos, à exceção dos populares, votarem a favor.
Ao mesmo tempo, o PP está a intensificar a pressão sobre o PSOE, liderado por Pedro Sanchez para que se abstenha, advertindo que se não o fizer será responsável pela realização de novas eleições.
O vice-secretário de Organização do PP, Fernando Martínez-Maillo, insistiu que o PSOE “é necessário para que haja uma investidura que sirva para eleger um presidente” do governo, voltando a apelar para a responsabilidade do partido de Sanchez para que não haja um terceiro escrutínio.
Na terça-feira, em declarações em Alcañices (Zamora), Maillo garantiu que o PP “vai ser generoso”, acreditando que após a reunião de hoje será possível começar as negociações e as mesas de trabalho com o C’s.
O responsável popular lembrou que, mesmo que comecem as negociações com o partido de Rivera, é necessária também uma mudança de posição dos socialistas para que seja possível a posse de Rajoy.
Maillo acusou o PSOE de estar “mais empenhado numa investidura fracassada” de Rajoy “do que na nomeação de um governo” e apelou “à responsabilidade, reflexão e coerência” para “respeitar o resultado” das eleições de 26 de junho e permitir a investidura do líder do PP.
Impasse político em Espanha: a cronologia
Espanha encontra-se num impasse político que se iniciou com as eleições de 20 de dezembro de 2015. Nessas eleições, o PP foi o partido mais votado para o Congresso, mas não conseguiu maioria absoluta para formar governo. Durante 6 meses, Mariano Rajoy tentou, sem sucesso, formar um executivo. Chegou até a falar-se numa solução semelhante à portuguesa, em que os partidos de esquerda se unissem para apoiar um governo liderado pelo PSOE.
O impasse não se resolveu, e o país seguiu para novas eleições a 26 de junho deste ano. O PP voltou a ser o partido mais votado, novamente sem maioria absoluta. Desde então, Rajoy tem-se desdobrado em negociações para tentar formar um governo.
A grande aposta foi uma proposta a Pedro Sánchez, líder dos socialistas do PSOE, para criar uma grande coligação de apoio no Congresso, que permitisse a formação de um executivo do PP. Os dois líderes reuniram-se a 2 de agosto. Mas Sánchez recusou. “A esquerda não os vai apoiar”, disse no início de agosto o líder do PSOE, aconselhando Rajoy a “negociar com os seus aliados potenciais”. E por “aliados potenciais”, Sánchez queria dizer o Ciudadanos, o PNV (do País Basco), a ERC (Esquerda Republicana da Catalunha) e também a Convergência Democrática da Catalunha. Foi o apoio destes partidos que permitiu ao PP reunir votos para colocar elementos na mesa do Congresso.
Face ao “não” de Pedro Sánchez, Rajoy ameaçou com a possibilidade de umas terceiras eleições. “Se Pedro Sánchez mantém o ‘não’, voltaremos a repetir as eleições”, afirmou, depois da reunião falhada com o líder socialista. Rajoy ainda precisa, no entanto, que o PSOE se abstenha na votação da investidura.
O PP vira-se agora para o Ciudadanos, liderado por Albert Rivera. Este partido, que foi a quarta força política mais votada em junho, impôs seis condições sine qua non para apoiar uma investidura de Rajoy. A reunião desta manhã da Comité Executivo do PP não deverá mexer nessas seis condições, até porque o vice-secretário-geral do Ciudadanos, José Manuel Villegas, já veio dizer que “apresentar alternativas ou querer redefinir alguma das propostas seria não aceitar as condições e, por isso, não estaríamos em condições de iniciar uma negociação”.