Pedro Passos Coelho não está preocupado com críticas internas à sua liderança e à estratégia do PSD na oposição. Numa entrevista à SIC, esta terça-feira à noite, o ex-primeiro-ministro e presidente do PSD há seis anos e meio defendeu que está para ficar. Não para salvar a pele mas porque, disse, o país e os eleitores que votaram em si não podem ser “defraudados”.
Passos garante que contou sempre “com todo o apoio do PSD” quando esteve no Governo e agora que está na oposição conta igualmente “com todo o apoio do PSD”. “Não sou daqueles que se anda a chorar pela falta de apoio”, disse, recusando que o episódio desta semana sobre a escolha de José Eduardo Martins, um dos seus principais críticos, para coordenar o programa autárquico em Lisboa tenha sido feita à sua revelia.
“É conhecido que eu, dentro do PSD, exerci sempre o meu cargo de liderança de forma muito inclusiva e abrangente, chamei praticamente todos os meus adversários internos para o Governo ou para equipas que trabalharam comigo em termos nacionais, nunca tive problemas com a chamada oposição interna”, disse. E questionado sobre se não se sentia mais sozinho dentro do partido, agora que o PSD está na oposição, Passos rejeitou a ideia. “Pelo contrário”, disse. “Não vejo razões para críticas”, acrescentou, sublinhando que as questões de liderança e de estratégia são “muito discutidas dentro do partido sem problema nenhum”.
“No dia em que achar que estou a mais não fico cá só por ficar”, disse, repetindo o discurso do desprendimento do poder que tem mostrado desde que está na oposição. Argumentos que mantém, apesar das críticas de que este pode já não ser o seu tempo. “Quero dizer com clareza que dentro do PSD as questões sobre a liderança e a estratégia são muito discutidas sem nenhum problema — quando alguém quiser candidatar-se contra mim pode fazê-lo. Não é essa a minha preocupação, a minha preocupação é não defraudar os que votaram em nós”, sublinhou.
E arrepende-se de se ter mantido na liderança do partido depois de o governo ter sido derrubado no Parlamento (ao contrário do que fez Paulo Portas)? Nem por isso. Pode não ser uma situação muito tradicional, mas Passos argumenta com uma moeda de troca: “Também não é da tradição portuguesa ganhar eleições e não governar, estamos portanto numa circunstância particular”.
Certo é que Passos Coelho acredita que o “PSD ainda vai ser preciso no Governo” porque “deste Governo não se pode esperar uma única reforma para o país”. O líder social-democrata acredita estar em condições para governar quando a altura chegar. “Não governei a olhar para as sondagens e não estou na oposição a olhar para as sondagens, esse é o perfil do Governo, não é o meu“, acrescentou, reforçando que o mais importante é explicar às pessoas o que o PSD quer fazer, qual é a alternativa que propõe e então aí os portugueses decidirão.
Sem novo resgate mas a empurrar com a barriga
Sobre a eventual hipótese de um novo resgate, que esta semana voltou a ser verbalizada pelo comissário alemão junto dos deputados portugueses, Passos recusou-se a pronunciar a palavra proibida. “Eu nem quero acreditar que essa questão se ponha“, disse, reforçando no entanto os riscos que vê para a economia: “O país perde competitividade, não atrai investimento externo, não está a crescer como devia. Se isso não é uma situação indesejável, o que é?”, atirou.
Em relação às eleições autárquicas, o presidente do PSD recusou a ideia de o partido estar atrasado por ainda não ter nomes fechados para as principais câmaras do país. O timing foi definido no conselho nacional de julho e mantém-se: até final do ano fica fechada a primeira leva, até março/abril, a segunda. E sobre o Orçamento do Estado para 2017, voltou a dizer que “cabe ao Governo” apresentar propostas e não à oposição, considerando ao mesmo tempo que, se a opção orçamental for a de elevar os impostos indiretos, será “um mau caminho” igual ao caminho do anterior executivo socialista, liderado por José Sócrates.
A comparação com a governação de Sócrates foi, de resto, frequente: “Nessa altura estava o Governo exatamente como está hoje, a aumentar impostos aflito para cumprir as metas do défice”, disse. O que é que o PSD faria então de diferente? O que distingue afinal o atual governo do governo anterior do PSD/CDS que foi responsável pelo “enorme aumento de impostos”? É simples: o dinheiro e a conjuntura que havia na altura e a que há hoje. “A grande diferença é que nós na altura não tínhamos um tostão, agora parece que temos, só ouço falar em aumentos, restituições, parece que nos saiu o totoloto ou herdámos de um familiar abastado”, disse.
Em matéria económica, o líder do PSD repetiu as críticas ao modelo do atual Governo liderando por António Costa, dizendo que “o tempo que estamos a viver é um tempo que está a ser desperdiçado”, na medida em que o modelo económico do executivo socialista “está a revelar o seu falhanço”.
Sem nunca dizer se acredita ou não no cumprimento das metas do défice, Passos Coelho apontou um desvio de 1.300 milhões de euros na receita até agosto, “quase 0,7% do PIB” em relação ao previsto. “O Governo está a empurrar com a barriga a atividade normal do Estado, o Estado pode decidir não gastar mas não pode decidir não gastar eternamente”, defendeu.