Antigo campeão mundial de xadrez e ativista político, Garry Kasparov escreveu no livro “O Inimigo que Vem do Frio“, uma crítica feroz ao Presidente russo, Vladimir Putin. O livro chegou esta quinta-feira ao mercado português, pela editora Clube do Autor. Sem nunca descurar a sua paixão pelo xadrez, Kasparov utiliza o jogo para criticar Putin, apesar de considerar que “com Vladimir Putin não podemos jogar (xadrez) segundo as regras, porque ele não quer saber das regras”, disse em entrevista à RTP.

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O jogador profissional de xadrez olha para o regime russo como se fosse um tabuleiro de xadrez: os “bons”, o mundo livre, correspondem às peças brancas e os “maus”, Putin e outros agentes da política internacional, encarnam as peças pretas. E é preciso fazer xeque-mate a Putin.

Kasparov vê Vladimir Putin como o verdadeiro “O Padrinho”, Don Corleone, escrito pelo italiano Mario Puzo. No livro, explica-nos o porquê:

Um admirador de Puzo vê o Governo de Putin com mais precisão: a hierarquia rígida, a extorsão, a intimidação, uma imagem de duro, uma longa sequência de mortes convenientes entre os principais críticos, eliminação de traidores, o código de sigilo e lealdade, e, acima de tudo, um mandato para manter a entrada de receitas. Por outras palavras, uma máfia” reflete na página 201.

A “máfia” do regime de Putin é comparada com a narrativa da série Guerra dos Tronos, com o antigo campeão de xadrez a encontrar semelhanças entre o Presidente russo e a personagem do cruel Tywin Lannister.

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Os inimigos do “mundo livre”

Ao longo do livro, o xadrezista tenta explicar os riscos da liderança russa e dos inimigos do “mundo livre”. Mas quem são estes inimigos? As lideranças do Ocidente, nomeadamente, as dos Estados Unidos. Porquê? Por que não travam Putin.

Kasparov culpa os líderes internacionais por terem os meios para parar Putin mas escolherem não o fazer. Para si, “só os tolos” ou os que são “beneficiados pelo regime” é que fingem não perceber a natureza do Presidente russo.

Os culpados são todos os presidentes norte-americanos que sucederam a Ronald Reagan (1981-1989) — George Bush, Bill Clinton, George W. Bush e Obama — por tentarem estabelecer relações diplomáticas e de cooperação com a Rússia, em vez de exigirem o respeito pelos valores da democracia e do capitalismo.

O autor acrescenta que Reagan estava certo ao chamar o “Império do Mal” à União Soviética. Pelo contrário, Bill Clinton, Barack Obama e o antigo chanceler alemão Gerhard Schröder, que “não se limitou a entrar para uma empresa russa (a Gazprom); ele entrou para a administração Putin”, escreve Kasparov no livro.

Obama continua relutante em enfrentar os inimigos da democracia para defender os valores que ele apregoa de forma tão convincente nos seus discursos”, critica.

O ativista defende que Boris Ieltsin ainda tentou estabelecer uma democracia, ao passo de que Putin se esforçou, desde o primeiro momento, por implantar um regime autocrático que permanece até aos dias de hoje. A conclusão é demolidora: “Todo o Governo ficou sob o controlo direto do presidente. O Parlamento tentou derrubar Ieltsin por duas vezes; agora, não passa de um teatro de fantoches. A corrupção dos oligarcas mudou-se para o interior do Kremlin, onde cresceu para níveis estarrecedores”.