Foram três fortes sismos em apenas dois meses. Já sabemos que grande parte do território italiano tem um elevado nível de perigosidade sísmica, devido à localização do país numa zona em que se encontram duas placas tectónicas — em agosto, explicámos porque treme Itália. Mas o que está a causar, este ano, esta sucessão de abalos constantes? E quanto tempo vai demorar esta onda de terramotos?
Para Alessandro Amato, do Instituto Nacional de Geofísica e Vulcanologia (INGV) de Itália, “este terramoto é similar aos outros dois”, visto que “o novo abalo acontece numa zona já ativa”. Citado pelo jornal italiano Corriere della Sera, Amato explica que se trata de “uma espécie de contágio sísmico”, e admite: “acreditamos que, depois deste terceiro abalo, vai haver uma continuação da sequência sísmica, durante semanas e meses, com intensidade variável, e alguns poderão ser significativos”.
Pode dizer-se até “que os dois primeiros sismos foram preparatórios deste, que foi cinco vezes maior do que o de agosto”, explica Amato. É que o sismo deste domingo, apesar de não ter provocado mortos, foi o mais forte das últimas décadas em Itália.
Acontece que a ativação prolongada de um episódio sísmico não é assim tão invulgar. Um sismo é, basicamente, um fenómeno de libertação de energia acumulada nos locais em que as placas tectónicas, que compõem a superfície do planeta, se juntam ou se afastam. Essa energia pode não ser libertada apenas num episódio. Neste caso, já foram três, e os cientistas admitem que poderão vir a ser mais. Tudo depende da quantidade de energia armazenada na falha.
Para Francesco Peduto, o presidente do Conselho Nacional de Geólogos de Itália, foi positivo que a energia não tenha sido libertada toda ao memso tempo. “Podemos imaginar o quão desastroso teria sido se tivesse acontecido tudo de uma vez”, refere o cientista.
A história ensina-nos que estes episódios podem, em casos extremos, prolongar-se por anos. Andrea Tertulliani, também do INGV, recorda ao Corriere que, em 1456, um episódio sísmico abalou o país desde Abruzzo até Calabria, “com uma violência hoje avaliada em cerca de 7,1 na escala de Richter”. Tertulliani sublinha que “foi um dos mais desastrosos da história da península, com mais de trinta mil mortos — depois do abalo principal a terra tremeu durante meses”.
Cinco séculos mais tarde, em 1915, “o sismo de Avezzano manteve-se ativo durante cerca de um ano”. Já em 1997, no sismo de magnitude 6,1 que abalou Colfiorito, “a terra continuou a tremer durante cerca de oito meses, com três abalos relevantes”. Este fenómeno nem é, sequer, exclusivo de Itália, tendo sido já “observado em outras áreas sísmicas da Terra, como por exemplo na Turquia, na Califórnia e no Haiti”, explica, em comunicado, o Conselho Nacional de Investigação italiano.
“Não estamos em condições de prever quando e como esta sequência de terramotos irá abrandar, e não podemos, em teoria, excluir outros abalos fortes, até mais fortes do que os que ocorreram até agora, e em áreas adjacentes às que foram afetadas nos últimos meses”, conclui o conselho dos investigadores italianos.