O fadista Carlos do Carmo foi condecorado este sábado pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, com o título de Grande-Oficial da Ordem do Mérito. Numa cerimónia que teve lugar no Palácio de Belém, Marcelo Rebelo de Sousa sublinhou os méritos de um artista que “enche a alma dos portugueses”.
Em declarações ao Observador, Carlos do Carmo diz que se sente “muito honrado” com esta distinção — a segunda que lhe foi entregue pelas mãos de um Presidente da República, depois de Jorge Sampaio o ter condecorado com a comenda da Ordem do Infante Dom Henrique, em 1997.
“Eu tenho aqui muitos prémios dos mais variados países e dos mais variados sítios, mas os da minha terra têm um significado especial”, diz, ao telefone a partir do seu escritório. Em 2014, Carlos do Carmo recebeu o Grammy latino “Lifetime Achievement Award”. Em 2015, foi-lhe atribuída a “Grande Médaille de Vermeil” da cidade de Paris, a mais alta distinção em termos de medalhas que a Câmara de Paris pode conceder.
“Eu não sou candidato a prémios, mas acontece que a minha carreira está recheada deles”, sublinha. “Tenho sido um homem que tem procurado fazer alguma coisa área a que pertenço e que tem sentido reconhecimento por isso.” Sobre os prémios, diz que eles são “uma coisa muito lisonjeira mas altamente responsabilizadora”. “Quando se recebe uma coisa destas, que é uma distinção de um Estado, põe-se muito peso nos nossos ombros”, explica.
“Foi tudo uma surpresa para mim”
Ao Observador, o fadista conta como foi convidado para a cerimónia desta tarde de sábado com uma antecedência de apenas 48 horas. “Foi tudo uma surpresa para mim”, garante. O convite surgiu através de um telefonema de uma dos assessores do Presidente da República, que lhe ligou no feriado de 1 de dezembro, quinta-feira. Carlos do Carmo estava num restaurante “muito barulhento” e pediu para adiar a conversa. Mais tarde, e já com menos barulho de fundo, ficou a saber que o Presidente da República solicitava a sua presença no Palácio de Belém, às 14h30 de sábado, para uma cerimónia de condecoração.
Para Carlos do Carmo, receber esta distinção das mãos Marcelo Rebelo de Sousa tem um significado especial. “Eu fui amigo da mãe dele e entre nós há uma relação que roça o afetivo. Sou amigo dele e do irmão”, conta. Sobre a cerimónia, diz que “foi uma coisa muito bonita”. “Tendo o formalismo que teve de ter, foi uma coisa muito humana.”
“Dá-me jeito continuar a viver mais uns quantos anos”
A condecoração chega aos 53 anos de carreira. Muito depois de outras homenagens já prestadas em outros países. Em 2014, quando recebeu o Grammy latino “Lifetime Achievement Award” por ser “um dos maiores cantores de fado do seu tempo”, o então Presidente da República, Cavaco Silva, não deu os parabéns ao fadista. Na mesma ocasião, foi felicitado a título pessoal pelos três antecessores no cargo: Ramalho Eanes, Mário Soares e Jorge Sampaio.
Um ano antes de vencer o Grammy, Carlos do Carmo disse numa entrevista à SIC Notícias que Portugal ter tido Cavaco Silva como primeiro-ministro e Presidente da República “foi um azar dos Távoras” e que “foi mau de mais para ser verdade”.
Agora que recebe esta distinção das mãos de um novo Presidente da República, Carlos do Carmo prefere não falar do antigo. “Eu não gostaria de voltar a esse assunto”, diz. “Muito menos num dia tão bonito como este.”
Carlos do Carmo lançou o primeiro disco em 1963, com o título Mário Simões e o seu Quarteto apresentando Carlos do Carmo. Ao longo da carreira editou mais de duas dezenas de álbuns, entre antologias, registos ao vivo e de estúdio.
Dia 17 de dezembro vai dar um concerto no Multiusos de Guimarães. Recentemente, o fadista de 76 anos foi aconselhado pelo seu médico cardiologista a dar apenas um concerto por mês, regra que segue à risca. “Dá-me jeito continuar a viver mais uns quantos anos”, conclui.