O primeiro-ministro Patrice Trovoada alertou hoje que é necessário que os são-tomenses alterem os hábitos e empreendam mais esforços e deixem de “continuar com as mãos estendidas” a espera do apoio dos doadores.
“Temos de alterar os hábitos, empreender esforços, fazer reformas necessárias e levar a cabo roturas para continuar a melhorar as condições de vida das populações”, disse Patrice Trovoada, que falava durante o debate no parlamento sobre o estado da nação.
Trovoada lembrou que “o mundo mudou radicalmente”, considerando que “nada será como antes”.
“O futuro será ainda mais difícil e temos de contar cada vez mais com os nossos esforços”, frisou.
Na sua intervenção, o chefe do executivo disse ser “bastante difícil” a situação económica e financeira do país, que considerou viver uma “dependência extrema da ajuda internacional”.
“Os outros (doadores) não têm para connosco qualquer obrigação de fazer, de ajudar, de apoiar, de dar e de construir”, lembrou, sublinhando que este ano o desembolso da ajuda externa, que representa a maioria dos recursos destinado ao investimento, esteve abaixo de 50%.
O nível de execução do investimento público situou-se este ano em apenas 45%, contra cerca de 70% no ano anterior, adiantou o chefe do governo, pontuando que a cooperação bilateral com os países que tradicionalmente mais ajudam o arquipélago “não se afigura otimista”.
“A Nigéria, Angola, Gabão, Guiné Equatorial, responsáveis por uma ajuda global entre dons e empréstimos superior a 100 milhões de dólares, incluindo as receitas de privatização nos últimos oito anos, encontram-se mergulhados numa profunda crise que resultam essencialmente da queda do preço do petróleo”, sustentou Patrice Trovoada.
“Temos conseguido conquistas tímidas em matéria de desenvolvimento humano que levam a comunidade internacional a não considerar o nosso país como prioritário na ajuda aos países menos avançados, reduzindo, assim as suas contribuições e os nossos acessos aos recursos de mais baixo custo”, acrescentou.
Patrice Trovoada disse ainda que a atividade económica foi este ano essencialmente impulsionada pela recuperação registada nas receitas do turismo, resultante da política de isenção de visto e da melhoria da frequências aéreas com a Europa e a sub-região africana e uma maior produção de cacau, principal produto de exportação.
Depois de um discurso de cerca de 50 minutos, os deputados da oposição confrontaram o primeiro-ministro com diversas questões, tendo mesmo um deputado do Partido da Convergência Democrata (PCD, oposição) acusado Patrice Trovoada de “violar as leis e governar o país ao seu bel-prazer”.
“Excesso de viagens” do primeiro-ministro ao estrangeiro, empréstimo de 30 milhões de dólares contraídos a uma empresa da China Popular, 17 milhões de dólares contraídos ao fundo koweitiano, o não-pagamento este ano do 13.º mês à administração pública, aquisição de cinco navios de recreio à margem do orçamento foram algumas das críticas feitas pelos deputados da oposição.
Segundo a deputada Maria das Neves, do Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe – Partido Social Democrático (MLSTP-PSD), este ano o primeiro-ministro gastou mais de 500 mil euros em 26 viagens ao estrangeiro.
O chefe do Executivo respondeu que as viagens para o estrangeiro são necessárias para “alargar o espaço geográfico de cooperação na frente externa e fazer uma advocacia ativa da agenda de transformação do governo e abrir descomplexadamente o país ao mundo”.
Quanto ao empréstimo contraído a uma empresa chinesa, Patrice Trovoada defendeu que é necessário para desenvolver o país e que todos os empréstimos são feitos de acordo com as normas definidas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).