Quem pensa que todos os vídeos de ajuda humanitária são bons e queridos engana-se. Quem o diz é a SAIH, uma Organização Não Governamental (ONG) norueguesa que se apercebeu de que alguns vídeos das campanhas humanitárias criam os estereótipos errados.
Desde 2012 que a SAIH (Norwegian Students’ and Academics’ International Assistance Fund) atribuí os “Raid-Aid Awards” que premeiam os melhores e os piores vídeos de ajuda humanitária — de recolha de fundos e outras ações de beneficência — de cada ano, com a ajuda dos internautas que são chamados a votar.
Os melhores vídeos: “Golden Radiator Award”
O “Golden Radiator Award” distingue os melhores vídeos das campanhas humanitárias, ou seja, anúncios criativos e cativantes que não “caem” em estereótipos nem mostram apenas um lado da história. O júri reforça que os melhores spots mostram que as pessoas que precisam de ajuda são parte da solução.
As regras são simples: não explorar o sofrimento das pessoas; trata-las com dignidade mostrando o seu potencial; explicar as causas dos seus problemas em vez de se limitar a apontar soluções fáceis e baratas a questões globais complexas; e não despertar o sentimento de culpa nos potenciais doadores por estarem “alienados” de certas realidades, mas antes tentar criar uma aproximação com quem precisa de ajuda.
Aprender sem Medo
O melhor vídeo humanitário de 2016 é o “What do girls really learn at school? Learn Without Fear”, do Plan International do Reino Unido. Trata-se de uma reflexão sobre os obstáculos que as raparigas enfrentam na escola, quer nos países mais avançados como nos países em vias de desenvolvimento. Segundo o júri, o vídeo destaca um problema mundial e “revela a lacuna entre o mundo idealizado e o mundo real”.
Olhar Além das Fronteiras
Em segundo lugar ficou o “Look Beyond Borders — 4 minutes experiment”, da Amnistia Internacional da Polónia, sobre os refugiados. O júri considera que os refugiados fogem dos seus países face a circunstâncias que os ultrapassam e que, portanto, merecem ser tratados com dignidade. Para si este vídeo “é uma forma poderosa de mudar a narrativa dos relatos de refugiados” que mostra como as pessoas se tornam próximas.
Amar para uma vida positiva
O terceiro no pódio é o “Love to a positive live” da AidsAlliance, associação que luta contra o HIV, capaz de quebrar preconceitos e estereótipos contra o vírus uma vez que apresenta a vida “positiva” de uma mulher seropositiva. Além disso, o anúncio é informativo e não apresenta os portadores de HIV como “vítimas indefesas” mas antes como indivíduos poderosos.
Os piores vídeos: “Rusty Radiator Award”
O objetivo do “Rusty Radiator Award” é denunciar as imagens que considera que, de alguma forma, empobrecem o debate acerca das questões humanitárias. O ONG esforça-se por debater a forma como os meios de comunicação ocidentais retratam a realidade dos países em desenvolvimento.
Doar a crianças como Jon
“Give to Children like Jon. Donate now!”, da Save The Children da Holanda, foi nomeado como o pior vídeo humanitário deste ano. O júri revela-se indignado com um vídeo que é exemplo da “pornografia da pobreza” ao mostrar crianças nuas com fome (as barrigas inchadas), usando os seus corpos como uma espécie de exemplo. As pessoas do Sul são representadas como se fossem incapazes de ultrapassar o sofrimento sem ajuda externa.
https://www.youtube.com/watch?v=mOBv2Cx8WIE
Patrocinar os sonhos de uma criança
“A sponsored child’s dreams”, da World Vision Australia, é o segundo vídeo menos apreciado do ano uma vez que mostra as crianças enquanto “vítimas passivas e desamparadas” (quase como meros objetos) e é-nos dito que todo o sofrimento pode facilmente ser resolvido com doações do Ocidente, sem qualquer tipo de contexto.
A Espera Acabou
A Compassion Australia é responsável pelo terceiro pior anúncio do ano. “The Wait Is Over” indicia a superioridade Ocidental e sugere, uma vez mais, que o futuro das crianças mais desfavorecidas depende apenas de donativos. Nada mais pode ser feito.
https://www.youtube.com/watch?v=8JfQE4HSbns
Além de nomear os melhores e piores vídeos a SAIH tem as suas próprias campanhas, marcadas pela crítica e o humor. Aliás, foi um dos seus anúncios (uma paródia) que deu nome aos prémios — o videoclipe “Africa for Norway”, de 2012, no qual a ONG pede dinheiro aos africanos para comprar radiadores que aqueçam a Noruega.
Editado por Filomena Martins